- Então doutor...
- Sim.
- Eu vim aqui porque... bem, estou com problemas com a minha amada esposa.
- Ótimo, ficarei satisfeito em ajudá-los. Mas...
- Mas o quê, doutor? Tem algum empecilho?
- É necessário que ela venha junto...
- Ah, então...
- ... afinal, eu sou terapeuta de casais.
- Exatamente. Esperava que o senhor pudesse me ajudar com isso também.
- Não entendi.
- Estou encalhadíssimo, doutor. Me arranja um casamento?
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Time sem vergonha (II)
Sou gaúcho de Pelotas - assim como era meu pai. Pelotenses têm orgulho de dizer que torcem fervorosa e exclusivamente para seus clubes (Brasil, Pelotas e Farroupilha) e não para os times de fora (Grêmio e Inter). Torcer para times de outros estados, então, é a mesma coisa que dizer que é alienígena. Meu pai era uma exceção: torcia para o Fluminense, para o Inter e para o Pelotas. Talvez por sangue, também fui exceção: torcia para Corinthians, Inter e Brasil de Pelotas. A minha história como torcedor é assim: um pouco exótica.
Eu torcia fervorosamente para o Corinthians, era meu time número 1. De verdade: comemorei feito uma besta o título "mundial" de 2000. Pior: quando Javier Castrilli marcou toque de mão do zagueiro da Portuguesa na semifinal do Campeonato Paulista de 1998, briguei com meio mundo dizendo que ele estava certo. Quando o time sofreu um pequeno acidente de avião na Venezuela em 1996, eu chorei.
Não sei explicar como deixei de torcer pelo Corinthians. Deve ter acontecido gradualmente. Sei que comecei a acompanhar mais os meus times daqui: o Inter e o Brasil de Pelotas. Quando percebi, não comemorei a contratação do Tevez no final de 2004. Porque torcedor tem disso: comemora até contratação. Eu não comemorei a do Tevez, tampouco reclamei. Simplesmente foi insossa pra mim. Foi quando percebi que já não era mais corinthiano.
E, se eu já não me escabelava pelo Corinthians, já tem um ou dois anos que eu já não me escabelo por futebol em geral. Talvez seja o efeito Mazembe, não sei. Sei que essa paixão fervorosa, típica de um torcedor, passou a ser, para mim, algo bobo. Não acho execrável: só não serve para mim. Continuo colorado e xavante, mas deixei de me estressar por causa de futebol e minha calvície agradece. E o que restou de gosto por futebol em mim está indo pras cucuias com essa patacoada entre entidades jurídicas desportivas e clubes de maior ou menor expressão, essa suruba que a Portuguesa foi e, como o seu conterrâneo Manuel, passaram-lhe a mão na bunda e ele não comeu ninguém. Essa confusão sepulta o pouco que restava de credibilidade do futebol brasileiro e que a Copa do Mundo não recuperará: apenas dará aos estrangeiros a ilusão de que nosso futebol merece respeito.
Acho que é melhor eu começar a simpatizar pelo futebol do exterior. Está bem distante e eu não recebo muitas notícias diárias deles. Já ando inclusive buscando alguns clubes para gostar mais. Acho que Borussia Dortmund e Arsenal me parecem uma escolha bacana.
Já meu pai, bem, não conheço histórias dele como torcedor. Sei que ele tentou fazer com que eu torcesse pelo Pelotas (tenho fotos com uma camiseta do time - camiseta que, por sinal, deve estar guardada até hoje) e que estava em Porto Alegre no dia do bicampeonato brasileiro do Inter. Quanto ao Fluminense, eu não sei. Não sei se ele foi ao Maracanã alguma vez para ver o time em ação. Quando eu fiz isso, em 12 de outubro de 2013, o Fluminense empatou com o Grêmio em 1 a 1 e eu não lembrei do meu pai por um só instante - nem quando comemorei o gol do Rafael Sóbis aos 45 minutos do segundo tempo. Estava mais preocupado em curtir o encantamento de estar no Maracanã e xingar o Kléber Gladiador. Mas sei que meu pai era torcedor do Fluminense, talvez tanto quanto eu era torcedor do Corinthians.
Meu pai morreu há 20 anos e, hoje, eu tenho mais vergonha de dizer que ele era torcedor do Fluminense do que dizer que eu torcia feito uma mula pelo Corinthians e que hoje talvez eu torça para Borussia Dortmund e Arsenal.
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Eu torcia fervorosamente para o Corinthians, era meu time número 1. De verdade: comemorei feito uma besta o título "mundial" de 2000. Pior: quando Javier Castrilli marcou toque de mão do zagueiro da Portuguesa na semifinal do Campeonato Paulista de 1998, briguei com meio mundo dizendo que ele estava certo. Quando o time sofreu um pequeno acidente de avião na Venezuela em 1996, eu chorei.
Não sei explicar como deixei de torcer pelo Corinthians. Deve ter acontecido gradualmente. Sei que comecei a acompanhar mais os meus times daqui: o Inter e o Brasil de Pelotas. Quando percebi, não comemorei a contratação do Tevez no final de 2004. Porque torcedor tem disso: comemora até contratação. Eu não comemorei a do Tevez, tampouco reclamei. Simplesmente foi insossa pra mim. Foi quando percebi que já não era mais corinthiano.
E, se eu já não me escabelava pelo Corinthians, já tem um ou dois anos que eu já não me escabelo por futebol em geral. Talvez seja o efeito Mazembe, não sei. Sei que essa paixão fervorosa, típica de um torcedor, passou a ser, para mim, algo bobo. Não acho execrável: só não serve para mim. Continuo colorado e xavante, mas deixei de me estressar por causa de futebol e minha calvície agradece. E o que restou de gosto por futebol em mim está indo pras cucuias com essa patacoada entre entidades jurídicas desportivas e clubes de maior ou menor expressão, essa suruba que a Portuguesa foi e, como o seu conterrâneo Manuel, passaram-lhe a mão na bunda e ele não comeu ninguém. Essa confusão sepulta o pouco que restava de credibilidade do futebol brasileiro e que a Copa do Mundo não recuperará: apenas dará aos estrangeiros a ilusão de que nosso futebol merece respeito.
Acho que é melhor eu começar a simpatizar pelo futebol do exterior. Está bem distante e eu não recebo muitas notícias diárias deles. Já ando inclusive buscando alguns clubes para gostar mais. Acho que Borussia Dortmund e Arsenal me parecem uma escolha bacana.
Já meu pai, bem, não conheço histórias dele como torcedor. Sei que ele tentou fazer com que eu torcesse pelo Pelotas (tenho fotos com uma camiseta do time - camiseta que, por sinal, deve estar guardada até hoje) e que estava em Porto Alegre no dia do bicampeonato brasileiro do Inter. Quanto ao Fluminense, eu não sei. Não sei se ele foi ao Maracanã alguma vez para ver o time em ação. Quando eu fiz isso, em 12 de outubro de 2013, o Fluminense empatou com o Grêmio em 1 a 1 e eu não lembrei do meu pai por um só instante - nem quando comemorei o gol do Rafael Sóbis aos 45 minutos do segundo tempo. Estava mais preocupado em curtir o encantamento de estar no Maracanã e xingar o Kléber Gladiador. Mas sei que meu pai era torcedor do Fluminense, talvez tanto quanto eu era torcedor do Corinthians.
Meu pai morreu há 20 anos e, hoje, eu tenho mais vergonha de dizer que ele era torcedor do Fluminense do que dizer que eu torcia feito uma mula pelo Corinthians e que hoje talvez eu torça para Borussia Dortmund e Arsenal.
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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
Time sem vergonha (I)
Eu tenho um talento inútil: sei muitos hinos de times de futebol. Inteiros ou excertos, não importa, desde "eu sou Goiás Esporte Clube, eu sou Goiás, eu sou Goiás e vou gritar", ou "Atlético! Atlético! Conhecemos teu valor! E a camisa rubro-negra só se veste por amor!", ou "e a torcida reunida até parece a do Fla-Flu, Bangu, Bangu, Bangu", até hinos inteiros como os do Inter e o do Brasil de Pelotas: eu sei hinos demais. Um dos meus preferidos é o do Fluminense. Acho que só não é o hino mais bonito do Brasil por um único defeito: o próprio Fluminense. Dentre todos os hinos, o do Fluminense é aquele que menos combina com o próprio clube. E não me refiro à parte que diz clube que orgulha o Brasil, retumbante de glórias e vitórias mil, afinal o Fluminense, dos grandes clubes brasileiros, é o que tem menos títulos internacionais - ganhar ou perder faz parte do esporte.
Sou tricolor de coração, sou do clube tantas vezes campeão... é um ótimo início, simples e direto. Mas logo a seguir ele começa a destoar: é impossível cantar fascina pela sua disciplina sem imaginar o João Kléber saltando do teto aos berros de "pára pára pára pára!"
Rebaixado pela primeira vez em 1996, o Fluminense se aproveitou de um esquema de corrupção no futebol (que veio à tona somente em 1997) para se livrar da Série B de 1997 na marra. Sem merecimento, jogou novamente a Série A em 1997 - onde, sem futebol decente, foi novamente rebaixado. Dessa vez sem esquema de arbitragem pra ajudar, o clube jogou a Série B em 1998 e, como jogou novamente sem futebol decente, foi rebaixado à Série C, que jogou em 1999 com um futebol minimamente decente, sagrando-se campeão e credenciando-se para disputar a Série B. Mas disputou o equivalente à Série A na estapafúrdia Copa João Havelange de 2000, pulando etapas como o Mario achando as flautas mágicas no Super Mario Bros 3. E agora, em 2013, apenas 1 ano depois de ter sido campeão nacional (com muita ajuda da arbitragem) e novamente sem futebol decente, o Fluminense foi novamente rebaixado. Mas pelo visto vai escapar, porque sem mais essa nem aquela, descobriram por algum acaso misterioso da vida que um outro clube usou um jogador que não podia jogar um jogo.
Ah, Fluminense, tenha dó. Quem foge das consequências da derrota é incapaz de fascinar pela disciplina.
Lá pelas tantas o hino do Fluminense diz vence o Fluminense, com o verde da esperança... esperança? Pode ser verde de dólar, de real, de euro. Verde da logomarca da Unimed. Pode ser até verde de maconha. Mas "esperança"? Tamanha covardia em assumir a própria fraqueza não está nem perto de ser sinônimo de "esperança". Pois quem espera sempre alcança. Puxa cara, devia ter lembrado disso quando ganhou a Série C. Foi mais apressado que o Ronaldo pedindo a Daniela Cicarelli em casamento.
Que tal um hino novo, Fluminense? Um que combine com o clube? "Sou tricolor de coração, sou do clube que adora tapetão" me parece um ótimo início.
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Sou tricolor de coração, sou do clube tantas vezes campeão... é um ótimo início, simples e direto. Mas logo a seguir ele começa a destoar: é impossível cantar fascina pela sua disciplina sem imaginar o João Kléber saltando do teto aos berros de "pára pára pára pára!"
Rebaixado pela primeira vez em 1996, o Fluminense se aproveitou de um esquema de corrupção no futebol (que veio à tona somente em 1997) para se livrar da Série B de 1997 na marra. Sem merecimento, jogou novamente a Série A em 1997 - onde, sem futebol decente, foi novamente rebaixado. Dessa vez sem esquema de arbitragem pra ajudar, o clube jogou a Série B em 1998 e, como jogou novamente sem futebol decente, foi rebaixado à Série C, que jogou em 1999 com um futebol minimamente decente, sagrando-se campeão e credenciando-se para disputar a Série B. Mas disputou o equivalente à Série A na estapafúrdia Copa João Havelange de 2000, pulando etapas como o Mario achando as flautas mágicas no Super Mario Bros 3. E agora, em 2013, apenas 1 ano depois de ter sido campeão nacional (com muita ajuda da arbitragem) e novamente sem futebol decente, o Fluminense foi novamente rebaixado. Mas pelo visto vai escapar, porque sem mais essa nem aquela, descobriram por algum acaso misterioso da vida que um outro clube usou um jogador que não podia jogar um jogo.
Ah, Fluminense, tenha dó. Quem foge das consequências da derrota é incapaz de fascinar pela disciplina.
Lá pelas tantas o hino do Fluminense diz vence o Fluminense, com o verde da esperança... esperança? Pode ser verde de dólar, de real, de euro. Verde da logomarca da Unimed. Pode ser até verde de maconha. Mas "esperança"? Tamanha covardia em assumir a própria fraqueza não está nem perto de ser sinônimo de "esperança". Pois quem espera sempre alcança. Puxa cara, devia ter lembrado disso quando ganhou a Série C. Foi mais apressado que o Ronaldo pedindo a Daniela Cicarelli em casamento.
Que tal um hino novo, Fluminense? Um que combine com o clube? "Sou tricolor de coração, sou do clube que adora tapetão" me parece um ótimo início.
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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Orgulho do papai
Passavam das sete da noite quando Gilmar botou a chave na fechadura para abrir a porta de casa. Chegava no horário habitual, após sair da empresa de informática onde trabalhava fazendo manutenções dos mais diversos tipos - de hardware a software. Era um nerd convicto. O horário que chegou em casa não era surpresa, tanto que ouviu uma voz infantil dizer, sem muita empolgação: "manhê, o pai chegou."
Era o filho mais velho, de 5 anos, que estava sentado no chão da sala com o irmão mais novo, de 4. Gilmar deu em cada um deles um beijo de "olá, cheguei bem, é bom ver vocês", o que interrompeu a atividade das crianças naquele momento: escolher uma brincadeira.
- Do que tu quer brincar? - perguntou o mais velho.
- De computador!
- Boa! Faz de conta que eu sou um computador da Apple que tá com problema no processador e tu é um computador da IBM que precisa fazer backup!
- Tá!
Gilmar sorriu e continuava sem entender como as pessoas achavam ruim que as crianças gastassem tanto tempo brincando de computador.
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Era o filho mais velho, de 5 anos, que estava sentado no chão da sala com o irmão mais novo, de 4. Gilmar deu em cada um deles um beijo de "olá, cheguei bem, é bom ver vocês", o que interrompeu a atividade das crianças naquele momento: escolher uma brincadeira.
- Do que tu quer brincar? - perguntou o mais velho.
- De computador!
- Boa! Faz de conta que eu sou um computador da Apple que tá com problema no processador e tu é um computador da IBM que precisa fazer backup!
- Tá!
Gilmar sorriu e continuava sem entender como as pessoas achavam ruim que as crianças gastassem tanto tempo brincando de computador.
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segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Motorista legal
Trafegava pela pista da direita, a uma velocidade de 32km/h. Não que percebesse isso com tanta precisão - olhou de revesgueio para o velocímetro e viu o ponteiro um pouco além da marca de 30km/h. E olhou de revesgueio porque sabia que tinha que manter a atenção no trânsito. Vai que surge uma criança correndo e atravessa a rua? Vai que um ciclista se desequilibra?
Vinha tranquilo, deixando a pista da esquerda livre para alguém mais apressado, que quisesse arriscar uma multa por excesso de velocidade. Não era o caso dele. Era um motorista legal - tão legal que dirigia com as duas mãos no volante e era um dos poucos na cidade que parava na faixa de segurança, para deixar os pedestres atravessarem, como estava fazendo agora. O bom de ser motorista legal é incentivar os outros a serem também: ao parar na faixa de segurança, viu que o carro que vinha na pista da esquerda também parou. Estava satisfeito: dera o exemplo. Agora todos os pedestres podiam atravessar com tranquilidade. A mãe de mãos dadas com seu filho, o idoso que caminhava com alguma dificuldade, a senhora carregada com sacolas de compras e, na frente de todos, sua ex-namorada.
Poxa, também não precisava exagerar. Era isso que recebia como recompensa por ser um motorista legal? Permitir a travessia da ex-namorada? Não precisava de tanto. A moça lhe havia feito perceber como o corpo humano é estranho: entregara-se a ela de coração, ela lhe deu um pé na bunda e ele ficou com uma tremenda dor de cotovelo. Porém o tempo é o tempo, ajeita o corpo humano com paciência e ele se recuperou. Mas não é porque estava recuperado que ele podia ou precisava parar na faixa de segurança para ela, justo ela, atravessar. Se tivesse visto que era ela, não tinha parado. Não que fosse atropelar, só não precisava ter feito essa gentileza logo pra ela.
O pior é que ela viu que ele tinha parado. E ele viu que ela viu. Bosta. Agora ela ia pensar que ele ainda estava mal por ela, que ele ainda gostava dela e isso massagearia o ego dela e massacraria o dele, faria ela se sentir poderosa. Bosta. Ainda atravessou sorrindo. Bosta, bosta, bosta!
Isso não podia ficar assim. Tinha que fazer alguma coisa para desfazer o mal entendido. Não podia mandar uma mensagem pela internet pra ela, porque significaria estar se rebaixando, correndo atrás dela. Seria um atestado de que ainda sente algo por ela, mas não sente! Bem, um pouco de rancor, talvez. Descer do carro para explicar tudo a ela estava fora de cogitação, porque ela encararia isso como uma atitude desesperada. Claro, também ia deixar o carro abandonado no meio da rua e poderia morrer na contramão atrapalhando o tráfego - o que seria muito pior, porque ela gosta de Chico Buarque. O que fazer? O que fazer?! Eis que, de repente, teve uma ideia.
No outro dia, circulava com um grande adesivo colado no vidro traseiro dizendo "Cuidado! Eu freio para animais!"
Continuava sendo um motorista legal e não apelou para adesivos da família feliz.
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Vinha tranquilo, deixando a pista da esquerda livre para alguém mais apressado, que quisesse arriscar uma multa por excesso de velocidade. Não era o caso dele. Era um motorista legal - tão legal que dirigia com as duas mãos no volante e era um dos poucos na cidade que parava na faixa de segurança, para deixar os pedestres atravessarem, como estava fazendo agora. O bom de ser motorista legal é incentivar os outros a serem também: ao parar na faixa de segurança, viu que o carro que vinha na pista da esquerda também parou. Estava satisfeito: dera o exemplo. Agora todos os pedestres podiam atravessar com tranquilidade. A mãe de mãos dadas com seu filho, o idoso que caminhava com alguma dificuldade, a senhora carregada com sacolas de compras e, na frente de todos, sua ex-namorada.
Poxa, também não precisava exagerar. Era isso que recebia como recompensa por ser um motorista legal? Permitir a travessia da ex-namorada? Não precisava de tanto. A moça lhe havia feito perceber como o corpo humano é estranho: entregara-se a ela de coração, ela lhe deu um pé na bunda e ele ficou com uma tremenda dor de cotovelo. Porém o tempo é o tempo, ajeita o corpo humano com paciência e ele se recuperou. Mas não é porque estava recuperado que ele podia ou precisava parar na faixa de segurança para ela, justo ela, atravessar. Se tivesse visto que era ela, não tinha parado. Não que fosse atropelar, só não precisava ter feito essa gentileza logo pra ela.
O pior é que ela viu que ele tinha parado. E ele viu que ela viu. Bosta. Agora ela ia pensar que ele ainda estava mal por ela, que ele ainda gostava dela e isso massagearia o ego dela e massacraria o dele, faria ela se sentir poderosa. Bosta. Ainda atravessou sorrindo. Bosta, bosta, bosta!
Isso não podia ficar assim. Tinha que fazer alguma coisa para desfazer o mal entendido. Não podia mandar uma mensagem pela internet pra ela, porque significaria estar se rebaixando, correndo atrás dela. Seria um atestado de que ainda sente algo por ela, mas não sente! Bem, um pouco de rancor, talvez. Descer do carro para explicar tudo a ela estava fora de cogitação, porque ela encararia isso como uma atitude desesperada. Claro, também ia deixar o carro abandonado no meio da rua e poderia morrer na contramão atrapalhando o tráfego - o que seria muito pior, porque ela gosta de Chico Buarque. O que fazer? O que fazer?! Eis que, de repente, teve uma ideia.
No outro dia, circulava com um grande adesivo colado no vidro traseiro dizendo "Cuidado! Eu freio para animais!"
Continuava sendo um motorista legal e não apelou para adesivos da família feliz.
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sábado, 2 de novembro de 2013
O humor, uma arte como outra qualquer
Não é nenhuma novidade: Danilo Gentili foi processado pela maior doadora de leite humano do Brasil por causa de piadas que fez sobre a moça em seu programa. Não é novidade como notícia (a informação foi veiculada pela imprensa há 3 ou 4 dias), tampouco como um fato inédito. Não é de hoje que humoristas são processados no Brasil por fazerem piadas - o próprio Danilo Gentili já havia sido processado, assim como Rafinha Bastos já foi processado diversas vezes e, há poucas semanas, Léo Lins foi proibido de entrar no Japão por piadas feitas com a temática do tsunami de 2011. E, é óbvio, o processo mais recente de Danilo Gentili não será o último. Veremos ainda muitos casos de humoristas serem processados por suas piadas. Afinal, ainda há quem não compreenda que o humorista é um artista.
Quando digo "artista", refiro-me à concepção mais usual da palavra: artista é aquele que produz arte. Mozart era artista porque produzia música; Picasso era artista porque produzia pinturas; Oscar Wilde era artista porque produzia literatura. Danilo Gentili, Rafinha Bastos e Léo Lins são artistas porque produzem humor. Não estou aqui fazendo uma comparação qualitativa da arte de cada um dos citados ("nossa, comparar a genialidade do Fulano com o Sicrano, que é um zé-ninguém..."): Picasso, Oscar Wilde, Mozart, Danilo Gentili, Serginho da Vassoura e o pintor que vende suas obras no calçadão de Copacabana são igualmente artistas. Trata-se, portanto, de identificá-los em um mesmo nicho. Todos são artistas, indiferente da apreciação dedicada às suas obras. Eu não gosto de Oasis, mas não posso negar que os irmãos Gallagher são artistas - eles produzem música.
Não gostar de Oasis causa em mim um certo desinteresse. Por causa desse desinteresse não compro discos da banda, não baixo músicas, não vou a shows e, quando toca uma música deles em uma festa, não danço; aproveito para conversar com alguém ou ir pegar uma cerveja. É o que eu faço quando não gosto de uma arte: não consumo, porque ela não desperta meu interesse.
No recente processo em que Danilo Gentili é réu, a autora afirmou se sentir humilhada por causa da piada: "As pessoas nas ruas têm me chamado de vaca, vaca do Gentili. Parabenizar pelo meu ato, ninguém faz, mas xingar é o que mais acontece nas ruas depois da piada na TV." A humilhação que a autora sentiu afetou suas doações, diminuindo substancialmente o leite materno que ela produzia. Não resta dúvida: é triste que tenha chegado a esse ponto. Isto não se discute. O leite que a mulher doava era importante para vários bebês. Entretanto, responsabilizar o humorista por isso e afirmar que ele foi agressivo é - para dizer pouco - errado.
Em 1774, Johann Wolfgang von Goethe lançou "Os sofrimentos do jovem Werther". Sucedeu que o livro foi apontado como causador de uma onda de suicídios pela Europa. Já em 1986, Ozzy Osbourne foi acusado de causar o suicídio de um jovem por causa da música "Suicide Solution". Em 1990, a banda Judas Priest passou por um caso semelhante: sua música "Better by you, better than me" foi apontada como responsável pelo suicídio de um jovem. Em 2001, a banda Slayer foi absolvida da acusação de incitação à violência (três jovens afirmaram terem se inspirado em músicas da banda para assassinar uma jovem de 15 anos). Dois anos antes, Marilyn Manson foi apontado como inspirador do chamado Massacre de Columbine, quando dois jovens provocaram um tiroteio em uma escola, matando 15 pessoas (incluindo aí os atiradores, que cometeram suicídio) e ferindo outras 24.
Logo, responsabilizar a arte de um artista (e por consequência o próprio artista) por um ato violento não é novidade. O problema é que isto é errado. Responsabilizar a arte - ou o artista que a produziu - por um crime ou atitude antissocial é transferir responsabilidades. Em momento algum Goethe disse que a melhor saída para jovens desiludidos é o suicídio. As músicas dos artistas citados, por mais agressivas que possam parecer, não defendem a ideia de matar como solução para um problema.
Quando há a falta de discernimento de uma pessoa que vê na arte uma motivação para um ato violento, a falha está em não ter dado o dito discernimento para a pessoa até aquele momento. A letra, por mais agressiva que seja, continua sendo apenas uma letra; a sonoridade, por mais pesada e lúgubre que seja, é apenas uma sonoridade. Quando alguém não debate sobre uma manifestação artística de aparência agressiva, há sim o risco deste alguém cometer um delito. E esta é a situação: não há problema em trancar-se em um quarto para ouvir discos do Slayer e do Marilyn Manson. O problema está na falta de um debate esclarecedor sobre aquela arte.
O mesmo ocorre com videogames ou desenhos animados (o Cartoon Network censurou e retirou do ar o desenho "Tom & Jerry"). Não é problema uma criança jogar GTA e depois ver 3 episódios de Tom & Jerry. O problema é a falta de alguém que explique que é errado roubar, atropelar e matar como no jogo, e que fazer o gato engolir um rojão aceso também é errado.
Há quem acredite que a arte deve ser uma arma de contestação, de análise social, de combate às injustiças. Eu concordo. Porém, nem toda arte tem esta característica e nem todo artista manifesta-se com estas intenções. Em todo o universo da pintura, de vez em quando surge um Pablo Picasso, que em meio a sua extensa produção, pinta "Guernica". Em todo o universo literário, surge de vez em quando um Érico Veríssimo, que em meio a toda sua obra escreve "Incidente em Antares"; ou surge um Ernest Hemingway, que em meio à toda sua obra escreve "Por quem os sinos dobram". Na música, de vez em quando surge um Scorpions, que em meio a sua discografia compõe "Under the same sun". Com o humor não é diferente. Em meio a todo o universo humorístico, surge de vez em quando um Chico Anysio que, em meio à sua extensa obra de cerca de 200 personagens, cria o Professor Raymundo ou Justo Veríssimo. Assim como cria um ícone do machismo cruel, como Nazareno.
Como já disse, a piada do Danilo Gentili causou, sim, um problema: a doadora de leite foi alvo de humilhações que causaram a diminuição de suas doações. Ora, o culpado não é o autor da piada e sim quem acha que a piada é uma manifestação da verdade, uma opinião balizada que corrobora atitudes agressivas e, por isso, busca rebaixar a doadora.
Uma piada é, tão somente, uma manifestação artística e assim deve ser tratada. O grande problema é que o entendimento do humor como arte (às vezes por ignorância e às vezes por pura birra) está ainda muito distante.
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Quando digo "artista", refiro-me à concepção mais usual da palavra: artista é aquele que produz arte. Mozart era artista porque produzia música; Picasso era artista porque produzia pinturas; Oscar Wilde era artista porque produzia literatura. Danilo Gentili, Rafinha Bastos e Léo Lins são artistas porque produzem humor. Não estou aqui fazendo uma comparação qualitativa da arte de cada um dos citados ("nossa, comparar a genialidade do Fulano com o Sicrano, que é um zé-ninguém..."): Picasso, Oscar Wilde, Mozart, Danilo Gentili, Serginho da Vassoura e o pintor que vende suas obras no calçadão de Copacabana são igualmente artistas. Trata-se, portanto, de identificá-los em um mesmo nicho. Todos são artistas, indiferente da apreciação dedicada às suas obras. Eu não gosto de Oasis, mas não posso negar que os irmãos Gallagher são artistas - eles produzem música.
Não gostar de Oasis causa em mim um certo desinteresse. Por causa desse desinteresse não compro discos da banda, não baixo músicas, não vou a shows e, quando toca uma música deles em uma festa, não danço; aproveito para conversar com alguém ou ir pegar uma cerveja. É o que eu faço quando não gosto de uma arte: não consumo, porque ela não desperta meu interesse.
No recente processo em que Danilo Gentili é réu, a autora afirmou se sentir humilhada por causa da piada: "As pessoas nas ruas têm me chamado de vaca, vaca do Gentili. Parabenizar pelo meu ato, ninguém faz, mas xingar é o que mais acontece nas ruas depois da piada na TV." A humilhação que a autora sentiu afetou suas doações, diminuindo substancialmente o leite materno que ela produzia. Não resta dúvida: é triste que tenha chegado a esse ponto. Isto não se discute. O leite que a mulher doava era importante para vários bebês. Entretanto, responsabilizar o humorista por isso e afirmar que ele foi agressivo é - para dizer pouco - errado.
Em 1774, Johann Wolfgang von Goethe lançou "Os sofrimentos do jovem Werther". Sucedeu que o livro foi apontado como causador de uma onda de suicídios pela Europa. Já em 1986, Ozzy Osbourne foi acusado de causar o suicídio de um jovem por causa da música "Suicide Solution". Em 1990, a banda Judas Priest passou por um caso semelhante: sua música "Better by you, better than me" foi apontada como responsável pelo suicídio de um jovem. Em 2001, a banda Slayer foi absolvida da acusação de incitação à violência (três jovens afirmaram terem se inspirado em músicas da banda para assassinar uma jovem de 15 anos). Dois anos antes, Marilyn Manson foi apontado como inspirador do chamado Massacre de Columbine, quando dois jovens provocaram um tiroteio em uma escola, matando 15 pessoas (incluindo aí os atiradores, que cometeram suicídio) e ferindo outras 24.
Logo, responsabilizar a arte de um artista (e por consequência o próprio artista) por um ato violento não é novidade. O problema é que isto é errado. Responsabilizar a arte - ou o artista que a produziu - por um crime ou atitude antissocial é transferir responsabilidades. Em momento algum Goethe disse que a melhor saída para jovens desiludidos é o suicídio. As músicas dos artistas citados, por mais agressivas que possam parecer, não defendem a ideia de matar como solução para um problema.
Quando há a falta de discernimento de uma pessoa que vê na arte uma motivação para um ato violento, a falha está em não ter dado o dito discernimento para a pessoa até aquele momento. A letra, por mais agressiva que seja, continua sendo apenas uma letra; a sonoridade, por mais pesada e lúgubre que seja, é apenas uma sonoridade. Quando alguém não debate sobre uma manifestação artística de aparência agressiva, há sim o risco deste alguém cometer um delito. E esta é a situação: não há problema em trancar-se em um quarto para ouvir discos do Slayer e do Marilyn Manson. O problema está na falta de um debate esclarecedor sobre aquela arte.
O mesmo ocorre com videogames ou desenhos animados (o Cartoon Network censurou e retirou do ar o desenho "Tom & Jerry"). Não é problema uma criança jogar GTA e depois ver 3 episódios de Tom & Jerry. O problema é a falta de alguém que explique que é errado roubar, atropelar e matar como no jogo, e que fazer o gato engolir um rojão aceso também é errado.
Há quem acredite que a arte deve ser uma arma de contestação, de análise social, de combate às injustiças. Eu concordo. Porém, nem toda arte tem esta característica e nem todo artista manifesta-se com estas intenções. Em todo o universo da pintura, de vez em quando surge um Pablo Picasso, que em meio a sua extensa produção, pinta "Guernica". Em todo o universo literário, surge de vez em quando um Érico Veríssimo, que em meio a toda sua obra escreve "Incidente em Antares"; ou surge um Ernest Hemingway, que em meio à toda sua obra escreve "Por quem os sinos dobram". Na música, de vez em quando surge um Scorpions, que em meio a sua discografia compõe "Under the same sun". Com o humor não é diferente. Em meio a todo o universo humorístico, surge de vez em quando um Chico Anysio que, em meio à sua extensa obra de cerca de 200 personagens, cria o Professor Raymundo ou Justo Veríssimo. Assim como cria um ícone do machismo cruel, como Nazareno.
Como já disse, a piada do Danilo Gentili causou, sim, um problema: a doadora de leite foi alvo de humilhações que causaram a diminuição de suas doações. Ora, o culpado não é o autor da piada e sim quem acha que a piada é uma manifestação da verdade, uma opinião balizada que corrobora atitudes agressivas e, por isso, busca rebaixar a doadora.
Uma piada é, tão somente, uma manifestação artística e assim deve ser tratada. O grande problema é que o entendimento do humor como arte (às vezes por ignorância e às vezes por pura birra) está ainda muito distante.
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quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Lu Patinadora
- A gente tá recebendo aqui o Eugênio, que vai contar pra gente como é que ele descobriu. Eugênio, conta pra quem tá nos assistindo.
- Ah, então Fátima, na verdade eu descobri quando ainda criança. Eu ganhava carrinhos, bonequinhos, bolas, mas achava muito mais interessante os brinquedos das meninas, sabe?
- É mesmo? Você preferia brincar com coisas que não eram de meninos?
- Exatamente. Eu não achava graça em empurrar o carrinho, em pegar bonequinho e brincar de luta. Futebol, então... nossa, nunca vi graça. Sabe que eu lembro que, quando ganhei minha primeira bola, eu chorei...
- Chorou? Nossa, mas então não gostava mesmo... mas não chorou de alegria?
- Não! Eu não gostava mesmo...
- Você me desculpe a brincadeira... mas então, você brincava com coisas de menina?
- Isso. Eu tinha uma priminha da mesma idade que eu e sempre invejei os brinquedos dela. Ela tinha uma boneca que falava "mamãe", e a primeira vez que eu vi aquilo fiquei encantado...
- Que bonitinho...
- E ela também tinha um cachorrinho que saltava... era um cachorrinho bem fofo. A gente ligava, ele dava uns 4 latidinhos fininhos e depois dava um susto na gente! Ele dava um salto mortal... eu achava o máximo.
- Sim! Minha filha teve esse cachorrinho, teve esse mesmo susto...
- E tinha uma boneca que dava risadinha, eu achava aquilo lindo... e lembra da Lu Patinadora? De repente alguém aqui da plateia lembra, era uma boneca que andava de patins. Não era o máximo gente? Ah, a Lu Patinadora era uma coisa simplesmente maravilhosa!
- Sim, claro... olha, tem um monte de gente concordando!
- Pois é. E foi isso. Acho que a Lu Patinadora mudou minha vida mesmo...
- Muito interessante. Isso só reforça que essa coisa já vem de criança, né? Não se trata exatamente de uma escolha...
- Pois é, foi desde criança mesmo. Digamos que foi por causa da Lu Patinadora que eu resolvi seguir nessa área da robótica.
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- Ah, então Fátima, na verdade eu descobri quando ainda criança. Eu ganhava carrinhos, bonequinhos, bolas, mas achava muito mais interessante os brinquedos das meninas, sabe?
- É mesmo? Você preferia brincar com coisas que não eram de meninos?
- Exatamente. Eu não achava graça em empurrar o carrinho, em pegar bonequinho e brincar de luta. Futebol, então... nossa, nunca vi graça. Sabe que eu lembro que, quando ganhei minha primeira bola, eu chorei...
- Chorou? Nossa, mas então não gostava mesmo... mas não chorou de alegria?
- Não! Eu não gostava mesmo...
- Você me desculpe a brincadeira... mas então, você brincava com coisas de menina?
- Isso. Eu tinha uma priminha da mesma idade que eu e sempre invejei os brinquedos dela. Ela tinha uma boneca que falava "mamãe", e a primeira vez que eu vi aquilo fiquei encantado...
- Que bonitinho...
- E ela também tinha um cachorrinho que saltava... era um cachorrinho bem fofo. A gente ligava, ele dava uns 4 latidinhos fininhos e depois dava um susto na gente! Ele dava um salto mortal... eu achava o máximo.
- Sim! Minha filha teve esse cachorrinho, teve esse mesmo susto...
- E tinha uma boneca que dava risadinha, eu achava aquilo lindo... e lembra da Lu Patinadora? De repente alguém aqui da plateia lembra, era uma boneca que andava de patins. Não era o máximo gente? Ah, a Lu Patinadora era uma coisa simplesmente maravilhosa!
- Sim, claro... olha, tem um monte de gente concordando!
- Pois é. E foi isso. Acho que a Lu Patinadora mudou minha vida mesmo...
- Muito interessante. Isso só reforça que essa coisa já vem de criança, né? Não se trata exatamente de uma escolha...
- Pois é, foi desde criança mesmo. Digamos que foi por causa da Lu Patinadora que eu resolvi seguir nessa área da robótica.
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sábado, 7 de setembro de 2013
Sinal verde
Aproximava-se de um cruzamento. Seguia em velocidade constante, motivado pela cor verde da sinaleira, mas quando a luz amarela acendeu, abriu um sorriso de escárnio: de novo. Claro, de novo. Era só o que faltava: 15 minutos depois de ter levado um fora, é evidente que todas as sinaleiras fechariam quando ele estivesse prestes a passar pelo cruzamento. Sem outra alternativa, freou o carro, obedecendo a sinalização. Quer dizer, até tinha outra alternativa. Mas não seria muito saudável e a situação nem era tão desesperadora.
"Eu nunca pensei na nossa relação de outra forma." Foi uma das tantas frases que ela usou como resposta à confissão dele ("eu tenho muita vontade de te beijar"). E pensar que houve um tempo que ela queria saber o que era o amor.
- I wanna know what love iiis..., lembra? - Claro que lembrava. Um clássico, um desejo de todos, uma curiosidade que faz inúmeras vítimas diariamente. Ela, inclusive: cantou o verso I want you to show me - pra outra pessoa. Mas esqueceu de cantar outra música: What is love? Baby, don't hurt me, don't hurt me... Esqueceu? Ou simplesmente não cantou porque sabia que acabaria refém de uma vontade incontrolável de dançar, o que enfraqueceria a súplica - ou, pior, distorceria seu apelo? "Não pise nos meus pés enquanto estivermos dançando, porque dói."
E, apesar do apelo, tombou vítima da curiosidade. Machucou-se crendo que lhe mostrariam o que é o amor. Dos males o menor: não caiu na asneira de achar que love is a temple, love a higher law. Quem é o U2 pra ensinar alguma coisa a alguém? E sobre o amor! Quanta audácia, Bono. Vítima da curiosidade, enferma porque ferida com gravidade, negou-se a uma nova experiência. "Eu não penso em mais relação alguma desde a última. Quem quer se seja o próximo vai sofrer com isso.", ela lhe disse.
Love hurts, love scars, love wounds' and mars, foi o que ela descobriu. Se apurasse os ouvidos na sua presença, perceberia que os pássaros funcionavam como uma orquestra a interpretar John Paul Young: love is in the air. Assim é a busca pelo amor: uma breguice sem tamanho em direção a outra breguice sem igual.
Sinal verde de novo. Acelerou o carro, sem perceber que o rádio tocava a resposta correta:
Love is only a feeling
Anyway...
.
"Eu nunca pensei na nossa relação de outra forma." Foi uma das tantas frases que ela usou como resposta à confissão dele ("eu tenho muita vontade de te beijar"). E pensar que houve um tempo que ela queria saber o que era o amor.
- I wanna know what love iiis..., lembra? - Claro que lembrava. Um clássico, um desejo de todos, uma curiosidade que faz inúmeras vítimas diariamente. Ela, inclusive: cantou o verso I want you to show me - pra outra pessoa. Mas esqueceu de cantar outra música: What is love? Baby, don't hurt me, don't hurt me... Esqueceu? Ou simplesmente não cantou porque sabia que acabaria refém de uma vontade incontrolável de dançar, o que enfraqueceria a súplica - ou, pior, distorceria seu apelo? "Não pise nos meus pés enquanto estivermos dançando, porque dói."
E, apesar do apelo, tombou vítima da curiosidade. Machucou-se crendo que lhe mostrariam o que é o amor. Dos males o menor: não caiu na asneira de achar que love is a temple, love a higher law. Quem é o U2 pra ensinar alguma coisa a alguém? E sobre o amor! Quanta audácia, Bono. Vítima da curiosidade, enferma porque ferida com gravidade, negou-se a uma nova experiência. "Eu não penso em mais relação alguma desde a última. Quem quer se seja o próximo vai sofrer com isso.", ela lhe disse.
Love hurts, love scars, love wounds' and mars, foi o que ela descobriu. Se apurasse os ouvidos na sua presença, perceberia que os pássaros funcionavam como uma orquestra a interpretar John Paul Young: love is in the air. Assim é a busca pelo amor: uma breguice sem tamanho em direção a outra breguice sem igual.
Sinal verde de novo. Acelerou o carro, sem perceber que o rádio tocava a resposta correta:
Love is only a feeling
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quarta-feira, 28 de agosto de 2013
O arroto salvador
O mundo é um lugar muito confuso. Isso está em nossas caras desde bem antes de termos dentes ou de caminharmos: quando nenês, somos incentivados a arrotar no colo de nossas mães (às vezes pais) após uma sessão de amamentação - mesmo que isso resulte em um vômito espalhado no ombro, orelha, colo e o que mais tiver a ousadia de estar perto da boca de um nenê. O problema é que, algum tempo depois, somos severamente censurados ao arrotar. Depois de levarmos tapinhas nas costas e ouvirmos "isso!" no colo de nossos pais, passamos a ouvir "que falta de respeito fazer isso na frente dos outros! Que nojo! Seu porco!" pelo mesmo ato: arrotar. Que mundo estranho!
Talvez seja o arroto um elementos vitais que fez com que eu me tornasse um ser pensante e bastante crítico, até um pouco contestador. Refrigerante, água, cerveja, chimarrão, comida ou mesmo ar, não importa: eu arroto mesmo. Nunca dei atenção às repreensões que as pessoas fazem aos gases que eu disparo sem muita delicadeza boca afora. Gosto de me justificar com argumentos culturais: "No Oriente Médio, o arroto é sinal de boa educação. Quando arrota, o cidadão está mostrando que apreciou a comida ou a bebida que lhe serviram." Por pura lógica, as pessoas contra-argumentam dizendo "tu tá no Brasil e não no Oriente Médio, seu porco." É então que eu desfiro uma pergunta com força de golpe final: "prefere que o gás saia por cima ou por baixo?"
A verdade é que eu já tive provas que o arroto, por si só, é um argumento incomparável em uma discussão. Houve essa vez em um almoço, por exemplo. Minha mãe, sentada na ponta da mesa como uma boa chefa de família, estava ladeada por mim, à sua esquerda, e pela minha irmã, à sua direita. Não recordo qual era o cardápio, mas asseguro que estava saborosíssimo, uma vez que mamãe possui um conhecimento culinário de fazer inveja a qualquer um - principalmente a mim, um especialista em abrir enlatados e alimentos congelados pré-prontos. Seja lá o que estivéssemos comendo naquele almoço, estava de lamber os beiços. Prova disso é que estávamos calados, concentrados em mastigar e desfrutar o sabor do alimento preparado por mamãe. O silêncio só foi rompido por um arroto que veio do flanco esquerdo da mesa, onde minha boca tinha acabado de receber uns goles de refrigerante de cola não alcoólico.
Não é sem orgulho que assumo a autoria daquele arroto: veio do fundo do coração, como a mais inspirada composição de Tom Jobim. Mas antes eu tivesse mantido o silêncio da mesa... o arroto que disparei causou um deslocamento de ar que quase atirou minha família pela janela. Minha mãezinha, talvez tomada pelo susto causado pelo barulho de terremoto que não veio de um terremoto, deu início a um discurso repreensivo que Hitler jamais ouviria de Joaquim Barbosa.
- Mas que falta de educação! Que horror! Isso é jeito de se portar na mesa?! Eu tô cansada disso, isso é uma sem-vergonhice! - eu imagino que as aulas de natação e hidroginástica que mamãe frequentava naquele tempo estivessem dando resultado, porque ela sequer parava para tomar fôlego entre as frases. "Braba" é apelido. - Deus me livre, imagina se tem algum convidado na mesa...
- Mas não...
- Cala a boca que eu não terminei! - ela me interrompeu com mais eficácia do que aquele tiro que interrompeu o desfile de carro de John F. Kennedy - Isso não é coisa que se faça! Até parece que eu não dou educação a vocês! Será possível que não se pode nem almoçar em paz? Vocês sabem que eu detesto almoçar sozinha, mas puta que pariu, almoçar acompanhada e ter isso é demais pra minha cabeça! Eu não vou aceitar isso! Vocês não foram criados pra isso...
Era tão grave que minha mãe falara um palavrão em plena mesa. Metade de mim ouvia - a outra metade se arrependia de ter arrotado, de ter aprendido a arrotar, de ter tomado refrigerante, de ter nascido. Mamãe tinha o cenho franzido... que digo? Sua expressão de raiva naquele momento era a prova que o diabo existia e ainda por cima era artista plástico. Eu estava com os olhos abaixados para a comida, mas já não enxergava a comida. Já tinha perdido a fome. Eu nunca mais ia arrotar na vida. Eu nunca mais ia beber nada na vida. Eu ia processar a Coca-Cola e seria responsável pela derrocada do império de bebidas industrializadas no mundo inteiro. Porque meu arroto em plena mesa durante o almoço desencadeara um discurso raivoso da minha mãe, que já durava 5 minutos, contra todas as manifestações corporais que resultavam em ruídos maiores que 2 decibéis. Nenhum erro poderia ser pior. Se minha irmã subisse na mesa pra fazer um striptease usando a cruz de Cristo como poledance, minha mãe não estaria tão raivosa.
- Eu não quero mais saber disso! Vocês entenderam? - ela estava vermelha de raiva e roxa de falta de ar. E antes que eu pudesse articular um simples e borrado "sim" como forma de resposta, fui surpreendido por um novo arroto.
Da minha irmã.
Mas não foi um arroto qualquer. Se meu arroto veio do coração, minha irmã arrotou com a alma. E não com qualquer alma: provavelmente ela invocou a alma de todos os nossos antepassados enquanto mamãe discursava. Se meu arroto era inspirado como uma composição de Tom Jobim, Shakespeare teria colocado o arroto da minha irmã na boca de Julieta durante um beijo em Romeu. Eu estava tão ocupado ficando envergonhado com meu arroto que não percebi que minha irmã estava absolutamente quieta, talvez mais quieta que eu e talvez juntando forças para emitir aquela obra prima. Ela fez o meu arroto parecer um mero soluço. Aquele arroto foi tão destruidor que até hoje eu não sei o que faltou para a Defesa Civil interditar o bairro inteiro.
Nenhuma outra resposta seria mais eficaz como tréplica. Foi o melhor e mais científico argumento não apenas contra o discurso colérico de mamãe, mas contra qualquer discurso anti-arroto. Prova disso é que ela mal teve tempo de retomar o fôlego após a mijada verbal que me aplicou. Não sei se já havia esgotado suas energias; fato é que agora ela ocupava-se em rir. Ria de se contorcer. De faltar o ar, de correr as lágrimas, de doer o corpo. Minha irmã e eu, é claro, ríamos juntos. Triunfantes.
A parte ruim é que rimos tanto que a comida esfriou.
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Talvez seja o arroto um elementos vitais que fez com que eu me tornasse um ser pensante e bastante crítico, até um pouco contestador. Refrigerante, água, cerveja, chimarrão, comida ou mesmo ar, não importa: eu arroto mesmo. Nunca dei atenção às repreensões que as pessoas fazem aos gases que eu disparo sem muita delicadeza boca afora. Gosto de me justificar com argumentos culturais: "No Oriente Médio, o arroto é sinal de boa educação. Quando arrota, o cidadão está mostrando que apreciou a comida ou a bebida que lhe serviram." Por pura lógica, as pessoas contra-argumentam dizendo "tu tá no Brasil e não no Oriente Médio, seu porco." É então que eu desfiro uma pergunta com força de golpe final: "prefere que o gás saia por cima ou por baixo?"
A verdade é que eu já tive provas que o arroto, por si só, é um argumento incomparável em uma discussão. Houve essa vez em um almoço, por exemplo. Minha mãe, sentada na ponta da mesa como uma boa chefa de família, estava ladeada por mim, à sua esquerda, e pela minha irmã, à sua direita. Não recordo qual era o cardápio, mas asseguro que estava saborosíssimo, uma vez que mamãe possui um conhecimento culinário de fazer inveja a qualquer um - principalmente a mim, um especialista em abrir enlatados e alimentos congelados pré-prontos. Seja lá o que estivéssemos comendo naquele almoço, estava de lamber os beiços. Prova disso é que estávamos calados, concentrados em mastigar e desfrutar o sabor do alimento preparado por mamãe. O silêncio só foi rompido por um arroto que veio do flanco esquerdo da mesa, onde minha boca tinha acabado de receber uns goles de refrigerante de cola não alcoólico.
Não é sem orgulho que assumo a autoria daquele arroto: veio do fundo do coração, como a mais inspirada composição de Tom Jobim. Mas antes eu tivesse mantido o silêncio da mesa... o arroto que disparei causou um deslocamento de ar que quase atirou minha família pela janela. Minha mãezinha, talvez tomada pelo susto causado pelo barulho de terremoto que não veio de um terremoto, deu início a um discurso repreensivo que Hitler jamais ouviria de Joaquim Barbosa.
- Mas que falta de educação! Que horror! Isso é jeito de se portar na mesa?! Eu tô cansada disso, isso é uma sem-vergonhice! - eu imagino que as aulas de natação e hidroginástica que mamãe frequentava naquele tempo estivessem dando resultado, porque ela sequer parava para tomar fôlego entre as frases. "Braba" é apelido. - Deus me livre, imagina se tem algum convidado na mesa...
- Mas não...
- Cala a boca que eu não terminei! - ela me interrompeu com mais eficácia do que aquele tiro que interrompeu o desfile de carro de John F. Kennedy - Isso não é coisa que se faça! Até parece que eu não dou educação a vocês! Será possível que não se pode nem almoçar em paz? Vocês sabem que eu detesto almoçar sozinha, mas puta que pariu, almoçar acompanhada e ter isso é demais pra minha cabeça! Eu não vou aceitar isso! Vocês não foram criados pra isso...
Era tão grave que minha mãe falara um palavrão em plena mesa. Metade de mim ouvia - a outra metade se arrependia de ter arrotado, de ter aprendido a arrotar, de ter tomado refrigerante, de ter nascido. Mamãe tinha o cenho franzido... que digo? Sua expressão de raiva naquele momento era a prova que o diabo existia e ainda por cima era artista plástico. Eu estava com os olhos abaixados para a comida, mas já não enxergava a comida. Já tinha perdido a fome. Eu nunca mais ia arrotar na vida. Eu nunca mais ia beber nada na vida. Eu ia processar a Coca-Cola e seria responsável pela derrocada do império de bebidas industrializadas no mundo inteiro. Porque meu arroto em plena mesa durante o almoço desencadeara um discurso raivoso da minha mãe, que já durava 5 minutos, contra todas as manifestações corporais que resultavam em ruídos maiores que 2 decibéis. Nenhum erro poderia ser pior. Se minha irmã subisse na mesa pra fazer um striptease usando a cruz de Cristo como poledance, minha mãe não estaria tão raivosa.
- Eu não quero mais saber disso! Vocês entenderam? - ela estava vermelha de raiva e roxa de falta de ar. E antes que eu pudesse articular um simples e borrado "sim" como forma de resposta, fui surpreendido por um novo arroto.
Da minha irmã.
Mas não foi um arroto qualquer. Se meu arroto veio do coração, minha irmã arrotou com a alma. E não com qualquer alma: provavelmente ela invocou a alma de todos os nossos antepassados enquanto mamãe discursava. Se meu arroto era inspirado como uma composição de Tom Jobim, Shakespeare teria colocado o arroto da minha irmã na boca de Julieta durante um beijo em Romeu. Eu estava tão ocupado ficando envergonhado com meu arroto que não percebi que minha irmã estava absolutamente quieta, talvez mais quieta que eu e talvez juntando forças para emitir aquela obra prima. Ela fez o meu arroto parecer um mero soluço. Aquele arroto foi tão destruidor que até hoje eu não sei o que faltou para a Defesa Civil interditar o bairro inteiro.
Nenhuma outra resposta seria mais eficaz como tréplica. Foi o melhor e mais científico argumento não apenas contra o discurso colérico de mamãe, mas contra qualquer discurso anti-arroto. Prova disso é que ela mal teve tempo de retomar o fôlego após a mijada verbal que me aplicou. Não sei se já havia esgotado suas energias; fato é que agora ela ocupava-se em rir. Ria de se contorcer. De faltar o ar, de correr as lágrimas, de doer o corpo. Minha irmã e eu, é claro, ríamos juntos. Triunfantes.
A parte ruim é que rimos tanto que a comida esfriou.
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sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Fácil
- Tu fala como se fosse possível decidir parar de gostar de alguém.
- Mas é possível.
- Claro que não. Essas coisas a gente não escolhe.
- Escolhe sim. Essas coisas são como parar de fumar, sabe? É tão fácil que tem gente que pára de fumar 2 ou 3 vezes por semana.
- Ai, chato. É sério, essas coisas a gente não escolhe. Não dá pra mandar.
- Dá sim.
- Já tentou parar de gostar de alguém? Aposto que não consegue.
- Eu consigo.
- Já tentou?
- Já. Faço isso sempre.
- Sempre com que frequência?
- Sempre que eu te vejo.
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- Mas é possível.
- Claro que não. Essas coisas a gente não escolhe.
- Escolhe sim. Essas coisas são como parar de fumar, sabe? É tão fácil que tem gente que pára de fumar 2 ou 3 vezes por semana.
- Ai, chato. É sério, essas coisas a gente não escolhe. Não dá pra mandar.
- Dá sim.
- Já tentou parar de gostar de alguém? Aposto que não consegue.
- Eu consigo.
- Já tentou?
- Já. Faço isso sempre.
- Sempre com que frequência?
- Sempre que eu te vejo.
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quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Skol Design
Bonitas como uma ressaca
Há uma ironia peculiarmente bizarra na nova promoção da Skol, "Skol Design". São três kits diferentes - kit casa, kit quarto e kit mesa -, em edição limitada, sendo vendidas apenas pela internet.
De acordo com a propaganda veiculada na TV, as garrafas personalizadas são para combater a destruidora de interiores que responde como decoradora de interiores que pode ser uma namorada. Para evitar um cenário "família fofolete composta por amorzinho e amorzão", a garrafa personalizada seria ideal: vigorosa, máscula, viril, cruza do Odvan com o Materazzi. Uma pena que falharam miseravelmente, porque a garrafa não é vigorosa, máscula, nem viril: é simplesmente tosca. Feia pra dedéu. E feiúra não é sinônimo de virilidade. Se fosse, a Regina Casé era zagueira titular do Boca Juniors.
Mas nada disso é problema, porque para usar a garrafa como objeto de decoração, ela deve ter seu líquido consumido antes. E eis a grande e irônica sacada: só mesmo bêbado pra usar esse negócio como objeto de decoração.
- Cara, que ressaca...
- Pois é por isso que eu tô te ligando. Pra saber como tu tá.
- Péssimo. Baita dor de cabeça.
- Te falei pra pegar leve. Se comportou, ao menos?
- Nada. Liguei pra Julinha...
- Ah, tudo bem...
- ... na frente da Fernanda...
- Ela vai entender...
- ... pra falar sobre a Cris...
- Que confusão...
- ... que devia estar puta porque eu vomitei no cachorro dela.
- Ah, isso acontece.
- Bebi todas, cara. Até aquelas garrafinhas doidas que eu comprei pela internet. E o pior tu não sabe.
- O quê?
- Decorei a casa toda com aquelas garrafas.
- Porra, tá vendo? Falei pra tu pegar leve!
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De acordo com a propaganda veiculada na TV, as garrafas personalizadas são para combater a destruidora de interiores que responde como decoradora de interiores que pode ser uma namorada. Para evitar um cenário "família fofolete composta por amorzinho e amorzão", a garrafa personalizada seria ideal: vigorosa, máscula, viril, cruza do Odvan com o Materazzi. Uma pena que falharam miseravelmente, porque a garrafa não é vigorosa, máscula, nem viril: é simplesmente tosca. Feia pra dedéu. E feiúra não é sinônimo de virilidade. Se fosse, a Regina Casé era zagueira titular do Boca Juniors.
Mas nada disso é problema, porque para usar a garrafa como objeto de decoração, ela deve ter seu líquido consumido antes. E eis a grande e irônica sacada: só mesmo bêbado pra usar esse negócio como objeto de decoração.
- Cara, que ressaca...
- Pois é por isso que eu tô te ligando. Pra saber como tu tá.
- Péssimo. Baita dor de cabeça.
- Te falei pra pegar leve. Se comportou, ao menos?
- Nada. Liguei pra Julinha...
- Ah, tudo bem...
- ... na frente da Fernanda...
- Ela vai entender...
- ... pra falar sobre a Cris...
- Que confusão...
- ... que devia estar puta porque eu vomitei no cachorro dela.
- Ah, isso acontece.
- Bebi todas, cara. Até aquelas garrafinhas doidas que eu comprei pela internet. E o pior tu não sabe.
- O quê?
- Decorei a casa toda com aquelas garrafas.
- Porra, tá vendo? Falei pra tu pegar leve!
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segunda-feira, 15 de julho de 2013
Nome do seu time
"(...) Envie agora o nome do seu time para um-três-um-cinco e receba tudo isto no seu celular!", anunciava a voz empolgada, em tom salvador, na televisão. Atirado no sofá da sala, sozinho em casa, Manoel podia pensar nos três gols que marcou no joguinho de domingo com seus amigos. Mas na verdade dedicara as últimas 2 horas para pensar nos dois gols contra que marcou no mesmo jogo, que definiram uma derrota por 1 gol de diferença.
A voz empolgada do locutor arrancou Manoel do seu devaneio tedioso e o fez sorrir. Enviar o nome do seu time para um-três-um-cinco... que boa ideia - para quem não tem nada a fazer, nem a perder. Agarrou seu celular Samsung e resolveu pregar uma peça. Enviou "Cervegeiros FC" para um-três-um-cinco. Nunca enviariam uma mensagem com informações ou curiosidades do Cervegeiros FC - como a grafia errada do nome do time, obra de um ala-esquerda e um dos fundadores do time, que não tinha muita intimidade com o português. Alertado para o erro, o ala-esquerda disfarçou: "é para diferenciar dos inúmeros cervejeiros desse país. Cervejeiro com 'g', só a gente."
Mas tão logo enviou a mensagem, Manoel se arrependeu. Que burrice. A propaganda esperava que mandassem "Flamengo", "Corinthians" ou "Cruzeiro", mas o Manoel queria notícias do seu time. Sagaz, sagaz demais. Mas o que seus amigos diriam quando ele contasse que enviou "Cervegeiros FC" para um-três-um-cinco? "Que besteira. E ainda gastou crédito à toa, seu burro." Certamente diriam isso. E o pior é que agora ele receberia um monte de propaganda indesejável via SMS por ter enviado "Cervegeiros FC" para um-três-um-cinco. Que burrice. E, para confirmar suas suspeitas, o celular apitou, alertando uma nova mensagem de texto.
Na verdade a mensagem trazia uma informação em primeira mão: "Manoel não joga mais pelo Cervegeiros FC".
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A voz empolgada do locutor arrancou Manoel do seu devaneio tedioso e o fez sorrir. Enviar o nome do seu time para um-três-um-cinco... que boa ideia - para quem não tem nada a fazer, nem a perder. Agarrou seu celular Samsung e resolveu pregar uma peça. Enviou "Cervegeiros FC" para um-três-um-cinco. Nunca enviariam uma mensagem com informações ou curiosidades do Cervegeiros FC - como a grafia errada do nome do time, obra de um ala-esquerda e um dos fundadores do time, que não tinha muita intimidade com o português. Alertado para o erro, o ala-esquerda disfarçou: "é para diferenciar dos inúmeros cervejeiros desse país. Cervejeiro com 'g', só a gente."
Mas tão logo enviou a mensagem, Manoel se arrependeu. Que burrice. A propaganda esperava que mandassem "Flamengo", "Corinthians" ou "Cruzeiro", mas o Manoel queria notícias do seu time. Sagaz, sagaz demais. Mas o que seus amigos diriam quando ele contasse que enviou "Cervegeiros FC" para um-três-um-cinco? "Que besteira. E ainda gastou crédito à toa, seu burro." Certamente diriam isso. E o pior é que agora ele receberia um monte de propaganda indesejável via SMS por ter enviado "Cervegeiros FC" para um-três-um-cinco. Que burrice. E, para confirmar suas suspeitas, o celular apitou, alertando uma nova mensagem de texto.
Na verdade a mensagem trazia uma informação em primeira mão: "Manoel não joga mais pelo Cervegeiros FC".
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sábado, 6 de julho de 2013
Teoria da conspiração
Está aí, escancarado, a olhos vistos: há uma campanha em prol do consumo da água. Isso parece bom, mas não é. Só não enxerga quem não quer.
O ataque vem de todos os lados. Começou em uma campanha contra as bebidas alcoólicas: disseram que causa dependência, que faz mal à saúde porque causa cirrose, que compromete o fígado - o fígado! Um órgão que se regenera! Não contentes com isso, começaram uma campanha agressiva, mostrando que consumir bebidas alcoólicas e dirigir é errado.
Isso sem contar no preço abusivo cobrado por uma cerveja - independente do seu invólucro. Latinha, latão, long-neck, 600ml, litrão, qualquer uma delas é cara, abusivamente cara, entorpecidamente cara.
Não contentes em atacar a cerveja nossa de cada hora, atacaram outros líquidos. O leite foi motivo do maior bafafá, porque muitos vendiam leite adulterado. Além do leite, o suco de caixinha também deu o maior bafafá porque estava contaminado com produtos de limpeza. O coitado do suco não ficou só nessa: várias foram as matérias que aconselhavam a abandonar o suco de caixinha porque ele não era saudável como parecia - na verdade tratava-se de um grande veneno travestido de bebida saudável, já que vinha com uma carga de açúcar capaz de derreter o canudinho.
Dessa forma foram também atingidos os refrigerantes. O ataque começou há muito tempo e de forma débil: dizia-se que consumir refrigerante deixava os ossos moles, mas aí se tocaram que o sistema digestivo não passa pelos ossos. Bem depois é que o ataque passou a ser impiedoso. Foi quando disseram que uma mísera latinha portava uma quantidade de açúcar que causaria diabetes no Oceano Atlântico. E não adiantaria consumir a versão "light" ou "zero" do refrigerante, porque esses eram ainda piores: para simular o gosto do refrigerante normal, o light se utiliza de substâncias infinitamente mais nocivas que 10 toneladas de açúcar injetados diretamente na jugular da pobre vítima. Deram a entender que consumir uma latinha de refrigerante light faria qualquer pessoa cantarolar "Adocica" repetidamente para todo o sempre. E nem vou me referir à campanha de péssimo gosto contra o arroto pós-goles de refrigerante!
Outras bebidas também são atingidas pela campanha pró-água, mas de forma velada. O chimarrão, por exemplo: o quilo da erva-mate está pelo preço da morte! É uma forma de desestimular a população (principalmente os gaúchos) a consumirem chimarrão.
Com tantas bebidas sendo atacadas por inescrupulosos, o que nos resta? Beber água. E todo mundo sabe que a água potável está escasseando cada vez mais rápido. Fala-se inclusive em guerra por água em um futuro nem tão distante assim. Ora, essa campanha contra outros líquidos bebíveis é um estímulo indireto para consumirmos mais água, o que irá acelerar esse processo de diminuição da água potável, instalando mais rapidamente o cenário ideal para uma guerra. E a quem interessa uma guerra pela água?
É evidente. Interessa à maior potência bélica do mundo, dona das maiores indústrias armamentistas do planeta: os Estados Unidos! E só podem ser eles os responsáveis por essa campanha contra todas as bebidas boas do mundo.
Podem anotar o que eu disse. No futuro, todos dirão "nossa, o Egídio tava certo e eu não botei fé nele." Enquanto isso, sabe o que eu estarei dizendo?
- Então... quer dizer que toda aquela baboseira que eu pensei em uma tediosa noite de sexta em casa era verdade?
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O ataque vem de todos os lados. Começou em uma campanha contra as bebidas alcoólicas: disseram que causa dependência, que faz mal à saúde porque causa cirrose, que compromete o fígado - o fígado! Um órgão que se regenera! Não contentes com isso, começaram uma campanha agressiva, mostrando que consumir bebidas alcoólicas e dirigir é errado.
Isso sem contar no preço abusivo cobrado por uma cerveja - independente do seu invólucro. Latinha, latão, long-neck, 600ml, litrão, qualquer uma delas é cara, abusivamente cara, entorpecidamente cara.
Não contentes em atacar a cerveja nossa de cada hora, atacaram outros líquidos. O leite foi motivo do maior bafafá, porque muitos vendiam leite adulterado. Além do leite, o suco de caixinha também deu o maior bafafá porque estava contaminado com produtos de limpeza. O coitado do suco não ficou só nessa: várias foram as matérias que aconselhavam a abandonar o suco de caixinha porque ele não era saudável como parecia - na verdade tratava-se de um grande veneno travestido de bebida saudável, já que vinha com uma carga de açúcar capaz de derreter o canudinho.
Dessa forma foram também atingidos os refrigerantes. O ataque começou há muito tempo e de forma débil: dizia-se que consumir refrigerante deixava os ossos moles, mas aí se tocaram que o sistema digestivo não passa pelos ossos. Bem depois é que o ataque passou a ser impiedoso. Foi quando disseram que uma mísera latinha portava uma quantidade de açúcar que causaria diabetes no Oceano Atlântico. E não adiantaria consumir a versão "light" ou "zero" do refrigerante, porque esses eram ainda piores: para simular o gosto do refrigerante normal, o light se utiliza de substâncias infinitamente mais nocivas que 10 toneladas de açúcar injetados diretamente na jugular da pobre vítima. Deram a entender que consumir uma latinha de refrigerante light faria qualquer pessoa cantarolar "Adocica" repetidamente para todo o sempre. E nem vou me referir à campanha de péssimo gosto contra o arroto pós-goles de refrigerante!
Outras bebidas também são atingidas pela campanha pró-água, mas de forma velada. O chimarrão, por exemplo: o quilo da erva-mate está pelo preço da morte! É uma forma de desestimular a população (principalmente os gaúchos) a consumirem chimarrão.
Com tantas bebidas sendo atacadas por inescrupulosos, o que nos resta? Beber água. E todo mundo sabe que a água potável está escasseando cada vez mais rápido. Fala-se inclusive em guerra por água em um futuro nem tão distante assim. Ora, essa campanha contra outros líquidos bebíveis é um estímulo indireto para consumirmos mais água, o que irá acelerar esse processo de diminuição da água potável, instalando mais rapidamente o cenário ideal para uma guerra. E a quem interessa uma guerra pela água?
É evidente. Interessa à maior potência bélica do mundo, dona das maiores indústrias armamentistas do planeta: os Estados Unidos! E só podem ser eles os responsáveis por essa campanha contra todas as bebidas boas do mundo.
Podem anotar o que eu disse. No futuro, todos dirão "nossa, o Egídio tava certo e eu não botei fé nele." Enquanto isso, sabe o que eu estarei dizendo?
- Então... quer dizer que toda aquela baboseira que eu pensei em uma tediosa noite de sexta em casa era verdade?
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sábado, 15 de junho de 2013
Meteorologia & Polícia
A constante e tradicional umidade da cidade, aliada à forte neblina e o frio dos últimos dias, trouxeram trabalho à polícia de Pelotas. O iceberg que há mais de 100 anos causou o naufrágio do Titanic buscou refúgio na Princesa do Sul.
Aproveitando-se do clima pelotense, o iceberg e meliante de fama internacional passeava despercebido e sem rumo pelas ruas da cidade. E continuaria assim se não fosse por Rose Dawson, uma fã do filme "Titanic".
- Eu sabia que já tinha visto aquela cara branca em algum lugar. - declarou a moça, que teve seu nome trocado a pedido dela mesma, visando anonimato.
A partir daí, diversas pessoas reconheceram o vândalo de navios. O 190 foi bastante acionado.
- Recebemos diversas denúncias nas noites de segunda pra terça e de terça pra quarta. - contou o subtenente-coronel investigador e delegado da 51ª Delegacia de Pelotas, Joaquim Bauer.
Após uma intensa perseguição, o iceberg foi preso na manhã de quinta, quando a forte cerração aliviou e permitiu visualizar um revesgueio de um pedaço de um cantinho da cidade. "A noite a perseguição era arriscada, porque ele se camuflava muito bem", declarou Joaquim Bauer. De acordo com policiais que participaram da operação, o iceberg só foi localizado devido às suas marcas de vandalismo. "Ele já estava começando a alagar algumas regiões do Centro da cidade", disse um policial.
Preso, o iceberg que ficou famoso ao afundar o Titanic admitiu que avacalhou a garganta de alguns pelotenses e revelou que veio à cidade para visitar a Fenadoce. Mas avisa:
- Vim pra ficar. Simplesmente amei o clima da cidade, tem tudo a ver comigo. - derreteu-se o iceberg.
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Aproveitando-se do clima pelotense, o iceberg e meliante de fama internacional passeava despercebido e sem rumo pelas ruas da cidade. E continuaria assim se não fosse por Rose Dawson, uma fã do filme "Titanic".
- Eu sabia que já tinha visto aquela cara branca em algum lugar. - declarou a moça, que teve seu nome trocado a pedido dela mesma, visando anonimato.
A partir daí, diversas pessoas reconheceram o vândalo de navios. O 190 foi bastante acionado.
- Recebemos diversas denúncias nas noites de segunda pra terça e de terça pra quarta. - contou o subtenente-coronel investigador e delegado da 51ª Delegacia de Pelotas, Joaquim Bauer.
Após uma intensa perseguição, o iceberg foi preso na manhã de quinta, quando a forte cerração aliviou e permitiu visualizar um revesgueio de um pedaço de um cantinho da cidade. "A noite a perseguição era arriscada, porque ele se camuflava muito bem", declarou Joaquim Bauer. De acordo com policiais que participaram da operação, o iceberg só foi localizado devido às suas marcas de vandalismo. "Ele já estava começando a alagar algumas regiões do Centro da cidade", disse um policial.
Preso, o iceberg que ficou famoso ao afundar o Titanic admitiu que avacalhou a garganta de alguns pelotenses e revelou que veio à cidade para visitar a Fenadoce. Mas avisa:
- Vim pra ficar. Simplesmente amei o clima da cidade, tem tudo a ver comigo. - derreteu-se o iceberg.
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quarta-feira, 12 de junho de 2013
12 de Junho
Aah, 12 de Junho... 12 de Junho é uma data muito especial. Principalmente para quem participa deste relacionamento tão íntimo entre duas pessoas, um relacionamento que exige reflexão e respeito mútuo. Parabéns a todos os jogadores de xadrez de São Paulo pelo Dia do Enxadrista no Estado.
Mas não é disso que quero falar. 12 de Junho também é Dia dos Namorados. Não sei vocês, mas mais uma vez eu estou passando esta data sozinho. Eu só passei o Dia dos Namorados acompanhado uma única vez. Eu namorava uma moça de cabelos castanhos e olhos verdes, coisa mais linda. A parte ruim é que eu acordei justo quando ela ia me dar um beijo depois de me presentear com um striptease.
Desde o ano passado, as pessoas brincam que estão disponíveis para serem alugadas no Dia dos Namorados. Quero dizer que, a partir deste ano, estou oferecendo o mesmo serviço. Para diferenciar-me da concorrência, ao término do serviço a cliente (sim, "a", artigo definido feminino) tem a opção de acionar o pacote "sócio-empresarial": a locatária entra com o pé e eu entro com a bunda. Aceito frases como "o problema não é você, sou eu", "eu conheci outro cara" e "você mudou muito e eu não acompanhei". Quem escolher o pacote "Friendzone" ganha um presente surpresa que pode ser retribuído com a frase "obrigado querido, mas a gente precisa conversar, é que eu te vejo mais como amigo, irmão, sabe?". Consulte os meus preços, gata.
Pra quem é como eu e está passando o Dia dos Namorados na mais pura solteirice pela cagalhésima vez, eu ofereço algumas dicas. A primeira delas é: saia da rotina. Que tal acessar o XVideos ao invés do RedTube? A segunda dica é: saia da rotina mesmo. Bata com a outra mão. É destro? Vá de esquerda. É canhoto? Vá de direita. Mas muito cuidado: essas aventuras carnais acabam por machucar as pessoas.
Estar solteiro no Dia dos Namorados não é estar morto. Podemos aproveitar esta data para fazer as maiores loucuras, aquelas que jamais faríamos se estivéssemos namorando. Eu mesmo, comi um pacotão de Cebolitos sozinho. Sim: sozinho! Mas muita atenção: coma o Cebolitos antes de sair da rotina. O contrário é nojento e até mesmo pra cometer loucuras é preciso um limite.
É possível aproveitar a solteirice dessa data amorosa para presentearmos o grande amor da nossa vida: nós mesmos. Eu fiz isso e recomendo: comprei uma luva em forma de lingerie. A noite promete!
A verdade é que eu não gosto do Dia dos Namorados. Nem é tanto por abrir o Facebook e ver o mel escorrer pelo meu monitor, afinal dele também escorre sangue, que tanto pode ser a lágrima de namoradas que tiveram seus planos românticos frustrados por ciclos menstruais como também pode ser o resquício do ódio causado por um solteiro invejoso. A verdade é que eu não gosto do Dia dos Namorados, em primeiro lugar, porque não gosto de datas comemorativas. Há um dia especial para comemorar o amor entre um casal? Pra mim esse dia é o aniversário de namoro. Dia dos Namorados é hora extra.
Em segundo lugar, 12 de Junho é Dia dos Namorados somente no Brasil. No resto do mundo essa celebração é feita em 14 de Fevereiro, dia de São Valentim. O que acontece é que, em terras tupiniquins, o mês de Junho era bastante fraco para o comércio, o que fez um comerciante ter a ideia de transplantar o Dia dos Namorados. Escolheu o 12 de Junho supostamente por ser véspera de Santo Antônio, o santo casamenteiro. E eis aí um problema: se é por causa de Santo Antônio, por que ele não escolheu o próprio dia 13? Vai ver ele queria evitar acontecimentos macabros, tipo "Sexta-feira 13 de Dia dos Namorados". Chora, Jason Voorhees.
Eis o outro problema: a gente sai do Dia dos Namorados direto pro dia do santo casamenteiro. É muita pressão! E nessas horas é uma bênção estar solteiro. Como eu explicaria a uma namorada que o Dia dos Namorados no Brasil é uma imposição de comerciantes paulistas? Que eu não preciso de uma data específica para dá-la carinho, atenção, conforto nas horas difíceis ou caras de bobo apaixonado? Como eu digo que a data escolhida no Brasil não é exatamente uma grande coincidência, já que cai na véspera do dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro? Como explicar que é muita pressão sair do Dia dos Namorados e cair no dia do santo casamenteiro?
- Peraí, quer dizer que nosso relacionamento não é sério pra ti?
É por isso que eu digo: a melhor parte do Dia dos Namorados é quando acaba o Dia dos Namorados.
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Mas não é disso que quero falar. 12 de Junho também é Dia dos Namorados. Não sei vocês, mas mais uma vez eu estou passando esta data sozinho. Eu só passei o Dia dos Namorados acompanhado uma única vez. Eu namorava uma moça de cabelos castanhos e olhos verdes, coisa mais linda. A parte ruim é que eu acordei justo quando ela ia me dar um beijo depois de me presentear com um striptease.
Desde o ano passado, as pessoas brincam que estão disponíveis para serem alugadas no Dia dos Namorados. Quero dizer que, a partir deste ano, estou oferecendo o mesmo serviço. Para diferenciar-me da concorrência, ao término do serviço a cliente (sim, "a", artigo definido feminino) tem a opção de acionar o pacote "sócio-empresarial": a locatária entra com o pé e eu entro com a bunda. Aceito frases como "o problema não é você, sou eu", "eu conheci outro cara" e "você mudou muito e eu não acompanhei". Quem escolher o pacote "Friendzone" ganha um presente surpresa que pode ser retribuído com a frase "obrigado querido, mas a gente precisa conversar, é que eu te vejo mais como amigo, irmão, sabe?". Consulte os meus preços, gata.
Pra quem é como eu e está passando o Dia dos Namorados na mais pura solteirice pela cagalhésima vez, eu ofereço algumas dicas. A primeira delas é: saia da rotina. Que tal acessar o XVideos ao invés do RedTube? A segunda dica é: saia da rotina mesmo. Bata com a outra mão. É destro? Vá de esquerda. É canhoto? Vá de direita. Mas muito cuidado: essas aventuras carnais acabam por machucar as pessoas.
Estar solteiro no Dia dos Namorados não é estar morto. Podemos aproveitar esta data para fazer as maiores loucuras, aquelas que jamais faríamos se estivéssemos namorando. Eu mesmo, comi um pacotão de Cebolitos sozinho. Sim: sozinho! Mas muita atenção: coma o Cebolitos antes de sair da rotina. O contrário é nojento e até mesmo pra cometer loucuras é preciso um limite.
É possível aproveitar a solteirice dessa data amorosa para presentearmos o grande amor da nossa vida: nós mesmos. Eu fiz isso e recomendo: comprei uma luva em forma de lingerie. A noite promete!
A verdade é que eu não gosto do Dia dos Namorados. Nem é tanto por abrir o Facebook e ver o mel escorrer pelo meu monitor, afinal dele também escorre sangue, que tanto pode ser a lágrima de namoradas que tiveram seus planos românticos frustrados por ciclos menstruais como também pode ser o resquício do ódio causado por um solteiro invejoso. A verdade é que eu não gosto do Dia dos Namorados, em primeiro lugar, porque não gosto de datas comemorativas. Há um dia especial para comemorar o amor entre um casal? Pra mim esse dia é o aniversário de namoro. Dia dos Namorados é hora extra.
Em segundo lugar, 12 de Junho é Dia dos Namorados somente no Brasil. No resto do mundo essa celebração é feita em 14 de Fevereiro, dia de São Valentim. O que acontece é que, em terras tupiniquins, o mês de Junho era bastante fraco para o comércio, o que fez um comerciante ter a ideia de transplantar o Dia dos Namorados. Escolheu o 12 de Junho supostamente por ser véspera de Santo Antônio, o santo casamenteiro. E eis aí um problema: se é por causa de Santo Antônio, por que ele não escolheu o próprio dia 13? Vai ver ele queria evitar acontecimentos macabros, tipo "Sexta-feira 13 de Dia dos Namorados". Chora, Jason Voorhees.
Eis o outro problema: a gente sai do Dia dos Namorados direto pro dia do santo casamenteiro. É muita pressão! E nessas horas é uma bênção estar solteiro. Como eu explicaria a uma namorada que o Dia dos Namorados no Brasil é uma imposição de comerciantes paulistas? Que eu não preciso de uma data específica para dá-la carinho, atenção, conforto nas horas difíceis ou caras de bobo apaixonado? Como eu digo que a data escolhida no Brasil não é exatamente uma grande coincidência, já que cai na véspera do dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro? Como explicar que é muita pressão sair do Dia dos Namorados e cair no dia do santo casamenteiro?
- Peraí, quer dizer que nosso relacionamento não é sério pra ti?
É por isso que eu digo: a melhor parte do Dia dos Namorados é quando acaba o Dia dos Namorados.
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quinta-feira, 30 de maio de 2013
Atitude
Atitude. Precisava tomar uma. Sempre soube disso e agora estava escancarado em si mesmo, como um tiro de espingarda estuprando-lhe o coração. E olha que nem era surpresa: sempre soube que a Bruna e o Caio estavam juntos, "aquele filhodaputa do Caio", ele dizia, "ele não é filhodaputa, ele é legal", diziam-lhe, "tá, ele pode ser legal, pode não ser filhodaputa, mas está filhodaputa", retrucava. Ele admitia a possibilidade do Caio ser legal porque com ele nunca trocara mais que um "oi" educado. Não o conhecia. Já a Bruna ele conhecia um pouco mais - bem pouco: com ela trocava "oi", beijinho, abracinho, sorrisos, beijinho, abracinho, "tchau". O suficiente.
Não conhecia o Caio. Admitia que ele podia ser legal, admitia que ele podia não ser um filhodaputa, mas estava filhodaputa, porque o Caio ocupava na vida da Bruna um posto devia ser de outro: devia ser dele. E agora o Caio noticiava isso para o mundo - e para ele também. A Bruna era do Caio, o Caio, da Bruna. Estava ali, na tela do computador, a manchete que o Facebook estampava: "Bruna Gomes adicionou um evento cotidiano de 5 de maio de 2013 à linha do tempo dela: 'Em um relacionamento sério com Caio Rodrigues'".
A Bruna, justo a Bruna, com esse filhodaputa. Devastador. Isso não podia acontecer, não podia ficar assim. Precisava tomar uma atitude. E tomou.
Clicou em "Denunciar história ou spam".
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Não conhecia o Caio. Admitia que ele podia ser legal, admitia que ele podia não ser um filhodaputa, mas estava filhodaputa, porque o Caio ocupava na vida da Bruna um posto devia ser de outro: devia ser dele. E agora o Caio noticiava isso para o mundo - e para ele também. A Bruna era do Caio, o Caio, da Bruna. Estava ali, na tela do computador, a manchete que o Facebook estampava: "Bruna Gomes adicionou um evento cotidiano de 5 de maio de 2013 à linha do tempo dela: 'Em um relacionamento sério com Caio Rodrigues'".
A Bruna, justo a Bruna, com esse filhodaputa. Devastador. Isso não podia acontecer, não podia ficar assim. Precisava tomar uma atitude. E tomou.
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rapidinhas
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Uma vez Lara Croft, eternamente Lara Croft
O dia de ontem, 14 de maio de 2013, foi marcante na história da humanidade - talvez tanto quanto aquele dia lá que dois aviões derrubaram uns tais prédios grandões nos Estados Unidos. E é marcante nem tanto pela polêmica ausência de Ronaldinho na convocação que Felipão fez para a Copa das Confederações, mas pela corajosa decisão de Angelina Jolie: ela resolveu extrair os próprios seios para evitar que desenvolvesse câncer de mama.
Quem nunca viu, não vê mais
Dá até pra pensar que enquanto 10 em cada 10 jornalistas especializados vociferavam contra a ausência de Ronaldinho Gaúcho na Seleção, o protesto mais impressionante foi o da Angelina Jolie, que provavelmente deve ter pensado "já que ele não vai jogar, não vou precisar disso aqui". Mas não: o caso é que, após uma análise genética, ela descobriu que tem 87% mais chances de desenvolver câncer de mama (além de 50% mais chances de desenvolver câncer de ovário).
Como atriz hollywoodiana que é, ela poderia confiar nos 13% e, se fosse o caso, extirpar um pedaço de teta caso um câncer aparecesse para, posteriormente, ser capa de revistas no mundo inteiro como "o símbolo sexual que venceu o câncer" - o que seria incrível, por sinal. Mas ela foi além: agora ela é assunto mundial por ser o símbolo sexual que prioriza a própria saúde, deixando a própria imagem em segundo plano.
Vejam bem: ser ator ou atriz de Hollywood significa, segundo dados do IECA (Instituto Egídio de Chutômetro e Achismo), ter no mínimo 50% de seus vencimentos adquiridos através da própria imagem. Isso significa ter corpão, rosto bonito e enfim, tudo aquilo que eu não tenho. Eis que uma das mais bem sucedidas atrizes hollywoodianas de todos os tempos e símbolo sexual de igual magnitude resolveu abrir mão de um dos maiores símbolos de feminilidade (não, salto alto e batom não estão na lista) em prol da própria saúde. Angelina Jolie, que depende da própria imagem pra ganhar o que ganha, abriu mão dos próprios seios.
E mais que símbolo de feminilidade, os seios são importantíssimos na autoconfiança da pessoa. Não é à toa que mulheres que vencem um câncer de mama sentem-se intimidadas, diminuídas, envergonhadas do próprio corpo. Não é incomum que achem que seus parceiros jamais voltarão a sentir atração física por elas: sentem-se mutiladas.
Em alto e bom tom, um dos maiores símbolos sexuais do mundo disse: "não quero meus seios, prefiro minha saúde". "Dane-se minha imagem, prefiro que minha família não sofra o que eu sofri por ver minha mãe lutar 10 anos contra um câncer". "Numa observação pessoal, eu não me sinto menos mulher. Sinto-me fortalecida por ter feito uma escolha corajosa que de nenhuma maneira diminui a minha feminilidade." Esse último período entre aspas ela disse mesmo, no artigo que escreveu ao The New York Times.
É evidente que minha comparação dessa data com o 11 de setembro, lá no início do texto, não tem lá muito sentido. Mas o fato é que é, sim, uma data marcante na história da humanidade. Em tempos que uma tal funkeira quer chamar a atenção colocando tudo o que puder de silicone e exibindo o corpo por aí; em tempos que uma fulana quer capitalizar o máximo possível por ser vice - vice! - Miss Bumbum; em tempos que uma beltrana quer que todos olhem como ela fez um sem-número de plásticas pra ficar bonita; em tempos, enfim, que tantas mulheres querem que a mídia exalte suas belezas - duvidosas -, um dos maiores símbolos sexuais da história expõe, pra quem quiser ver e da maneira mais soberba possível, que prefere a alegria dos filhos, o carinho do marido, a tranquilidade de uma boa saúde... enfim, expõe que a beleza que mais lhe importa é a da vida.
Ao tirar os seios, Angelina Jolie prova que pode tirar até as próprias pernas que vai continuar sendo mais atraente que uma Geisy Arruda da vida.
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Dá até pra pensar que enquanto 10 em cada 10 jornalistas especializados vociferavam contra a ausência de Ronaldinho Gaúcho na Seleção, o protesto mais impressionante foi o da Angelina Jolie, que provavelmente deve ter pensado "já que ele não vai jogar, não vou precisar disso aqui". Mas não: o caso é que, após uma análise genética, ela descobriu que tem 87% mais chances de desenvolver câncer de mama (além de 50% mais chances de desenvolver câncer de ovário).
Como atriz hollywoodiana que é, ela poderia confiar nos 13% e, se fosse o caso, extirpar um pedaço de teta caso um câncer aparecesse para, posteriormente, ser capa de revistas no mundo inteiro como "o símbolo sexual que venceu o câncer" - o que seria incrível, por sinal. Mas ela foi além: agora ela é assunto mundial por ser o símbolo sexual que prioriza a própria saúde, deixando a própria imagem em segundo plano.
Vejam bem: ser ator ou atriz de Hollywood significa, segundo dados do IECA (Instituto Egídio de Chutômetro e Achismo), ter no mínimo 50% de seus vencimentos adquiridos através da própria imagem. Isso significa ter corpão, rosto bonito e enfim, tudo aquilo que eu não tenho. Eis que uma das mais bem sucedidas atrizes hollywoodianas de todos os tempos e símbolo sexual de igual magnitude resolveu abrir mão de um dos maiores símbolos de feminilidade (não, salto alto e batom não estão na lista) em prol da própria saúde. Angelina Jolie, que depende da própria imagem pra ganhar o que ganha, abriu mão dos próprios seios.
E mais que símbolo de feminilidade, os seios são importantíssimos na autoconfiança da pessoa. Não é à toa que mulheres que vencem um câncer de mama sentem-se intimidadas, diminuídas, envergonhadas do próprio corpo. Não é incomum que achem que seus parceiros jamais voltarão a sentir atração física por elas: sentem-se mutiladas.
Em alto e bom tom, um dos maiores símbolos sexuais do mundo disse: "não quero meus seios, prefiro minha saúde". "Dane-se minha imagem, prefiro que minha família não sofra o que eu sofri por ver minha mãe lutar 10 anos contra um câncer". "Numa observação pessoal, eu não me sinto menos mulher. Sinto-me fortalecida por ter feito uma escolha corajosa que de nenhuma maneira diminui a minha feminilidade." Esse último período entre aspas ela disse mesmo, no artigo que escreveu ao The New York Times.
É evidente que minha comparação dessa data com o 11 de setembro, lá no início do texto, não tem lá muito sentido. Mas o fato é que é, sim, uma data marcante na história da humanidade. Em tempos que uma tal funkeira quer chamar a atenção colocando tudo o que puder de silicone e exibindo o corpo por aí; em tempos que uma fulana quer capitalizar o máximo possível por ser vice - vice! - Miss Bumbum; em tempos que uma beltrana quer que todos olhem como ela fez um sem-número de plásticas pra ficar bonita; em tempos, enfim, que tantas mulheres querem que a mídia exalte suas belezas - duvidosas -, um dos maiores símbolos sexuais da história expõe, pra quem quiser ver e da maneira mais soberba possível, que prefere a alegria dos filhos, o carinho do marido, a tranquilidade de uma boa saúde... enfim, expõe que a beleza que mais lhe importa é a da vida.
Ao tirar os seios, Angelina Jolie prova que pode tirar até as próprias pernas que vai continuar sendo mais atraente que uma Geisy Arruda da vida.
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aconteceu
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Desafio dos sonhos
Sinto-me à vontade para lançar um desafio a quem quer que esteja lendo estas linhas: eu duvido que alguém tenha sonhos mais bisonhos que os meus. Antes que alguém aceite o desafio, devo alertar que sou um expert com PhD na escola da vida na arte de sonhar. Eu tenho um arquivo onde anoto alguns sonhos (os que eu lembro, na verdade) e vou mostrar algumas das anotações pra deixar todo mundo com medo de aceitar meu desafio:
03/10/2009 - Sonhei que tinham me cravado um garfo no alto da cabeça e eu não percebi. Quando percebi, fui no médico e o garfo simplesmente caiu.
05/01/2010 - Sonhei que o Sylvester Stallone anunciava o lançamento de "Rambo 13" para o ano 3013.
01/12/2012 - Essa noite sonhei com 2 filhotes de porco atacando as meias que eu estava usando porque eu tinha zoado eles.
Não quero me gabar, mas eu realmente sou um expert na arte de sonhar. Tanto que sugiro também a leitura de dois posts, este e este. E contei que outro dia sonhei que a Suzane Von Richtofen era um espírito aprisionado em espelhos do apartamento de uma colega minha de 17 anos? Foi assustador. A Suzane Von Richtofen tocava um terror tão grande quanto o que tocou na casa dela certa noite, acompanhada do namorado e do cunhado.
Eu juro que sonhei tudo isso. Não obstante, outro dia sonhei com o Kid Bengala.
Não se deixe levar por esse sorriso de velho simpático. O Freddy Krueger tem medo de sonhar com esse cara.
Pra quem não sabe quem é o Kid Bengala, as dicas estão na cor da pele e no apelido que ele carrega. Se isso ainda não é o suficiente pra entender, eu digo: o cara é ator pornô. E se isso ainda não basta para entender, deixa assim. Confia em mim: não há necessidade de procurar imagens dele no Google.
Pois bem, sonhei com ele. Foi menos traumatizante do que se pode pensar, mas não menos atemorizante. Sucedeu que o cara, acompanhado de duas morenas eróticas, apitou a campainha da minha casa. Eu tomei um susto grande, porque tinha esquecido completamente que tinha dado o meu consentimento de ceder minha humilde residência para a gravação pornô que o Kid Bengala e as duas morenas tinham que fazer naquele dia. E agora, o que eu ia dizer à minha família, que estava prestes a chegar?
E chegaram no momento que as moças estavam no banheiro trocando de roupa (item violentamente indispensável em um filme pornô) e se maquiando, enquanto Kid Bengala aguardava, paciente, na cozinha. Sabe-se lá como minha mãe nada percebera, mas eu ainda carregava o medo, porque era questão de tempo até ela perceber e me dar uma mijada sem precedentes na história. Minha irmã, por sua vez, percebeu e me lançou apenas um olhar de revesgueio, em um leve tom de reprovação.
Lamento informar que ela não fez o que todos estão pensando: enquanto ela e eu lavávamos as mãos no banheiro (as distintas atrizes já tinham ido para a sala, a fim de se prepararem para as cenas - como eu não sei; talvez estivessem fazendo um alongamento adequado), tornamo-nos cúmplices daquela situação, já que a mãe - ainda - desconhecia tudo. Porque lavávamos as mãos é um mistério que só será dissolvido depois que descobrirem a verdadeira identidade de Jack The Ripper, mas foi nesse momento que trocamos algumas palavras em um sussurro inaudível, daqueles que só são decifrados através da leitura labial:
- Sabe quem é esse cara que tá aí? - e eu sinalizava com a cabeça (de cima) a cozinha, onde o Kid Bengala estava fumando, aguardando suas nobres colegas ficarem prontas.
- Sei - sussurrou minha irmã, sem voz - a mãe dele fumava maconha comigo.
Pronto. Eu era detentor de um terrível segredo familiar do Kid Bengala: sua mãe era uma porra louca que, na infância, fumava maconha com a minha irmã. E o pior é que o desgraçado estava fumando um cigarro - convencional - fedorentíssimo na minha cozinha.
- Ei Kid - disse eu pra ele -, olha só, desculpa te pedir, mas tem como tu fumar lá no pátio? É que o cheiro, sabe como é, aqui complica, amigo. - É evidente que eu chamei o cara de amigo e estava tratando ele cheio de receio. Se ele come o cu de amigas dele, eu não quero saber o que ele faz com seus inimigos.
Foi aí que, por um milagre angelical, eu acordei. Se eles gravaram a cena em algum universo paralelo, eu desconheço.
E aí? Quem topa o desafio de ter sonhos mais bisonhos que os meus?
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03/10/2009 - Sonhei que tinham me cravado um garfo no alto da cabeça e eu não percebi. Quando percebi, fui no médico e o garfo simplesmente caiu.
05/01/2010 - Sonhei que o Sylvester Stallone anunciava o lançamento de "Rambo 13" para o ano 3013.
01/12/2012 - Essa noite sonhei com 2 filhotes de porco atacando as meias que eu estava usando porque eu tinha zoado eles.
Não quero me gabar, mas eu realmente sou um expert na arte de sonhar. Tanto que sugiro também a leitura de dois posts, este e este. E contei que outro dia sonhei que a Suzane Von Richtofen era um espírito aprisionado em espelhos do apartamento de uma colega minha de 17 anos? Foi assustador. A Suzane Von Richtofen tocava um terror tão grande quanto o que tocou na casa dela certa noite, acompanhada do namorado e do cunhado.
Eu juro que sonhei tudo isso. Não obstante, outro dia sonhei com o Kid Bengala.
Não se deixe levar por esse sorriso de velho simpático. O Freddy Krueger tem medo de sonhar com esse cara.
Pra quem não sabe quem é o Kid Bengala, as dicas estão na cor da pele e no apelido que ele carrega. Se isso ainda não é o suficiente pra entender, eu digo: o cara é ator pornô. E se isso ainda não basta para entender, deixa assim. Confia em mim: não há necessidade de procurar imagens dele no Google.
Pois bem, sonhei com ele. Foi menos traumatizante do que se pode pensar, mas não menos atemorizante. Sucedeu que o cara, acompanhado de duas morenas eróticas, apitou a campainha da minha casa. Eu tomei um susto grande, porque tinha esquecido completamente que tinha dado o meu consentimento de ceder minha humilde residência para a gravação pornô que o Kid Bengala e as duas morenas tinham que fazer naquele dia. E agora, o que eu ia dizer à minha família, que estava prestes a chegar?
E chegaram no momento que as moças estavam no banheiro trocando de roupa (item violentamente indispensável em um filme pornô) e se maquiando, enquanto Kid Bengala aguardava, paciente, na cozinha. Sabe-se lá como minha mãe nada percebera, mas eu ainda carregava o medo, porque era questão de tempo até ela perceber e me dar uma mijada sem precedentes na história. Minha irmã, por sua vez, percebeu e me lançou apenas um olhar de revesgueio, em um leve tom de reprovação.
Lamento informar que ela não fez o que todos estão pensando: enquanto ela e eu lavávamos as mãos no banheiro (as distintas atrizes já tinham ido para a sala, a fim de se prepararem para as cenas - como eu não sei; talvez estivessem fazendo um alongamento adequado), tornamo-nos cúmplices daquela situação, já que a mãe - ainda - desconhecia tudo. Porque lavávamos as mãos é um mistério que só será dissolvido depois que descobrirem a verdadeira identidade de Jack The Ripper, mas foi nesse momento que trocamos algumas palavras em um sussurro inaudível, daqueles que só são decifrados através da leitura labial:
- Sabe quem é esse cara que tá aí? - e eu sinalizava com a cabeça (de cima) a cozinha, onde o Kid Bengala estava fumando, aguardando suas nobres colegas ficarem prontas.
- Sei - sussurrou minha irmã, sem voz - a mãe dele fumava maconha comigo.
Pronto. Eu era detentor de um terrível segredo familiar do Kid Bengala: sua mãe era uma porra louca que, na infância, fumava maconha com a minha irmã. E o pior é que o desgraçado estava fumando um cigarro - convencional - fedorentíssimo na minha cozinha.
- Ei Kid - disse eu pra ele -, olha só, desculpa te pedir, mas tem como tu fumar lá no pátio? É que o cheiro, sabe como é, aqui complica, amigo. - É evidente que eu chamei o cara de amigo e estava tratando ele cheio de receio. Se ele come o cu de amigas dele, eu não quero saber o que ele faz com seus inimigos.
Foi aí que, por um milagre angelical, eu acordei. Se eles gravaram a cena em algum universo paralelo, eu desconheço.
E aí? Quem topa o desafio de ter sonhos mais bisonhos que os meus?
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quarta-feira, 27 de março de 2013
Um pequeno gastrônomo sem noção
Sábado último aconteceu a Hora do Planeta. Pra quem não conhece, "a Hora do Planeta é um ato simbólico, promovido no mundo todo pela Rede WWF, no qual governos, empresas e a população demonstram a sua preocupação com o aquecimento global, apagando as suas luzes durante sessenta minutos", segundo o site do evento. Eu não dou bola para a Hora do Planeta porque tento consumir energia de modo mais responsável possível. A verdade é que eu precisaria de 1 milhão de eventos como a Hora do Planeta, porque há alguns muitos anos atrás aconteceu algo que me fez contrair uma enorme dívida com a Terra.
Eu devia ter 6 anos e já naquela época tinha a maldita mania de comer pelo simples prazer de mastigar algo, sem necessariamente ter fome - muita gente deve ter essa mania. O que piorava meu caso é que eu era adepto de misturebas sem o menor sentido. Era muito comum que, no almoço, eu tivesse um pacote de merenguinho (que gente muito fresca chama de "suspiro") ao lado do meu prato. Volta e meia um desses merenguinhos acompanhava uma colherada de arroz, feijão, galinha, ervilha, beterraba e outros. O merenguinho podia ser substituído por chocolate, salgadinhos industrializados e outras guloseimas que causam arrepios a nutricionistas renomados.
Meu almoço daquele dia certamente teve essa mistura. Minha memória não é lá essas coisas, então eu arrisco que eu devo ter almoçado guisado com vagem, arroz, feijão e... merenguinho. Findo o almoço, teve início uma bela tarde de sol de muita alegria e diversão com uma família do barulho - a minha. E é evidente que volta e meia eu abandonava a companhia dos meus entes queridos para mastigar alguma porcaria qualquer.
Passei a tarde fazendo visitas esporádicas à despensa. Como eu disse, minha memória não é lá essas coisas, de modo que eu não lembro com exatidão o que eu comi depois do almoço, mas posso muito bem imaginar. É provável que eu tenha comido um picolé metade creme, metade morango (que era chamado de "minissaia", veja bem), já que, depois do almoço, minha irmã e eu tínhamos a mania de correr atrás de um sujeito que, às buzinadas, empurrava um carrinho de picolés, como se a gente fosse policiais federais e o sujeito fosse o ladrão mais procurado do mundo.
E há uma grande chance de que eu tenha comido meio pacote de Fandangos, e depois outro meio pacote de Tostines, para depois abrir a geladeira e comer algumas fatias de mortadela, que devem ter sido seguidas por alguns merenguinhos e uns pedacinhos de chocolate, que por sua vez devem ter sido sucedidos por algum pedaço de galinha que havia sobrado do almoço do dia anterior. E é claro que isso deve ter sido regado a algumas colheradas de açúcar cristal puro, para depois comer a outra metade do Fandangos. E também a do Tostines.
Suponho que a simples leitura deste texto já esteja causando algum tipo de náusea nos meus leitores - sem contar os que já estão com um revertério avassalador. Se é esse o caso, peço que se acalme, porque a partir daqui vem a parte que eu lembro com uma clareza invejável: agarrei-me a uma lata de Nescau e, munido de uma colher, comi uma boa dose de Nescau puro. Que delícia! Pouco depois achei uma lata de salsichas na geladeira, degustando 1 ou 2 delas. Alguns minutos depois, a mágica teve início.
Minha barriga já devia estar há um bom tempo louca com aquela macumba gastronônica, aquela festa rave alimentar, mas só deu sinais de alerta quando já estava emitindo sinais de pânico completo. A mistureba fez nascer algum ser vivo não catalogado em nenhum planeta que me corroeu as tripas às bordoadas, como se minha barriga fosse a bateria de uma escola de samba composta por bateristas de thrash e black metal que usassem britadeiras ao invés de baquetas.
Acham que eu estou exagerando? Se sim, não deviam. Minha família, ciente das causas daquela orgia que estava rolando acima da minha bunda e abaixo dos meus pulmões, vendo que eu me contorcia de dor, me levou a um pronto-socorro - de nome "Prontoped", nunca vou esquecer. O médico que estava atendendo me deitou numa maca e, talvez para me acostumar ao caixão, mandou eu ficar esticado - o que era impossível, tamanha era a dor que eu sentia. O cara não me deixava nem cruzar as pernas! Resistir à dor era uma tarefa hercúlea. A cena era tão incrível que o profissional de saúde não acreditava no que estava vendo, e muito menos acreditava na narrativa da minha família. Aquela suruba tresloucada de todos os gêneros alimentícios conhecidos pelo ser humano era fisicamente impossível, de modo que ele deu o diagnóstico:
- É apendicite. Tem que operar imediatamente.
Eu juro. A mistureba que me deu uma dor de barriga foi tão babilônica que um médico achou que eu estava com apendicite. Hoje eu não o julgo mal: com a mistureba que eu fiz, é impressionante que ele não tenha diagnosticado um acidente vascular cerebral irreversível.
Imagino que, para minha mãe, deve ter sido difícil resistir à tentação de deixar que me operassem. Ela deve ter pensado: "Guri de merda, fica fazendo essa mistureba! Vai aprender a não fazer mais isso! Manda ele pra faca, doutor." Mas não, ela foi muito amável. Me pegou no colo, me levou pra casa e me enfiou goela abaixo algum remédio contra dor de barriga, esperando que meu aparelho digestivo processasse lentamente aquele ensaio de tsunami japonês seguido de desastre nuclear.
É bastante provável que, até hoje, nas horas de folga, meu aparelho digestivo ainda esteja executando a tarefa que iniciou quando eu tinha 6 anos. Por mais que eu economize energia, eu poderia participar da Hora do Planeta o quanto quisesse. Mesmo assim eu ainda agrediria a camada de ozônio - como de fato agrido, de vez em quando. Uma agressão que parece ser gratuita. Mas eu, humilde, peço perdão.
- Desculpa, camada de ozônio. É a minha apendicite.
.
Eu devia ter 6 anos e já naquela época tinha a maldita mania de comer pelo simples prazer de mastigar algo, sem necessariamente ter fome - muita gente deve ter essa mania. O que piorava meu caso é que eu era adepto de misturebas sem o menor sentido. Era muito comum que, no almoço, eu tivesse um pacote de merenguinho (que gente muito fresca chama de "suspiro") ao lado do meu prato. Volta e meia um desses merenguinhos acompanhava uma colherada de arroz, feijão, galinha, ervilha, beterraba e outros. O merenguinho podia ser substituído por chocolate, salgadinhos industrializados e outras guloseimas que causam arrepios a nutricionistas renomados.
Meu almoço daquele dia certamente teve essa mistura. Minha memória não é lá essas coisas, então eu arrisco que eu devo ter almoçado guisado com vagem, arroz, feijão e... merenguinho. Findo o almoço, teve início uma bela tarde de sol de muita alegria e diversão com uma família do barulho - a minha. E é evidente que volta e meia eu abandonava a companhia dos meus entes queridos para mastigar alguma porcaria qualquer.
Passei a tarde fazendo visitas esporádicas à despensa. Como eu disse, minha memória não é lá essas coisas, de modo que eu não lembro com exatidão o que eu comi depois do almoço, mas posso muito bem imaginar. É provável que eu tenha comido um picolé metade creme, metade morango (que era chamado de "minissaia", veja bem), já que, depois do almoço, minha irmã e eu tínhamos a mania de correr atrás de um sujeito que, às buzinadas, empurrava um carrinho de picolés, como se a gente fosse policiais federais e o sujeito fosse o ladrão mais procurado do mundo.
E há uma grande chance de que eu tenha comido meio pacote de Fandangos, e depois outro meio pacote de Tostines, para depois abrir a geladeira e comer algumas fatias de mortadela, que devem ter sido seguidas por alguns merenguinhos e uns pedacinhos de chocolate, que por sua vez devem ter sido sucedidos por algum pedaço de galinha que havia sobrado do almoço do dia anterior. E é claro que isso deve ter sido regado a algumas colheradas de açúcar cristal puro, para depois comer a outra metade do Fandangos. E também a do Tostines.
Suponho que a simples leitura deste texto já esteja causando algum tipo de náusea nos meus leitores - sem contar os que já estão com um revertério avassalador. Se é esse o caso, peço que se acalme, porque a partir daqui vem a parte que eu lembro com uma clareza invejável: agarrei-me a uma lata de Nescau e, munido de uma colher, comi uma boa dose de Nescau puro. Que delícia! Pouco depois achei uma lata de salsichas na geladeira, degustando 1 ou 2 delas. Alguns minutos depois, a mágica teve início.
Minha barriga já devia estar há um bom tempo louca com aquela macumba gastronônica, aquela festa rave alimentar, mas só deu sinais de alerta quando já estava emitindo sinais de pânico completo. A mistureba fez nascer algum ser vivo não catalogado em nenhum planeta que me corroeu as tripas às bordoadas, como se minha barriga fosse a bateria de uma escola de samba composta por bateristas de thrash e black metal que usassem britadeiras ao invés de baquetas.
Acham que eu estou exagerando? Se sim, não deviam. Minha família, ciente das causas daquela orgia que estava rolando acima da minha bunda e abaixo dos meus pulmões, vendo que eu me contorcia de dor, me levou a um pronto-socorro - de nome "Prontoped", nunca vou esquecer. O médico que estava atendendo me deitou numa maca e, talvez para me acostumar ao caixão, mandou eu ficar esticado - o que era impossível, tamanha era a dor que eu sentia. O cara não me deixava nem cruzar as pernas! Resistir à dor era uma tarefa hercúlea. A cena era tão incrível que o profissional de saúde não acreditava no que estava vendo, e muito menos acreditava na narrativa da minha família. Aquela suruba tresloucada de todos os gêneros alimentícios conhecidos pelo ser humano era fisicamente impossível, de modo que ele deu o diagnóstico:
- É apendicite. Tem que operar imediatamente.
Eu juro. A mistureba que me deu uma dor de barriga foi tão babilônica que um médico achou que eu estava com apendicite. Hoje eu não o julgo mal: com a mistureba que eu fiz, é impressionante que ele não tenha diagnosticado um acidente vascular cerebral irreversível.
Imagino que, para minha mãe, deve ter sido difícil resistir à tentação de deixar que me operassem. Ela deve ter pensado: "Guri de merda, fica fazendo essa mistureba! Vai aprender a não fazer mais isso! Manda ele pra faca, doutor." Mas não, ela foi muito amável. Me pegou no colo, me levou pra casa e me enfiou goela abaixo algum remédio contra dor de barriga, esperando que meu aparelho digestivo processasse lentamente aquele ensaio de tsunami japonês seguido de desastre nuclear.
É bastante provável que, até hoje, nas horas de folga, meu aparelho digestivo ainda esteja executando a tarefa que iniciou quando eu tinha 6 anos. Por mais que eu economize energia, eu poderia participar da Hora do Planeta o quanto quisesse. Mesmo assim eu ainda agrediria a camada de ozônio - como de fato agrido, de vez em quando. Uma agressão que parece ser gratuita. Mas eu, humilde, peço perdão.
- Desculpa, camada de ozônio. É a minha apendicite.
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Prestativo e atencioso
- Bem...
- Fala.
- Fechou a porta?
- Fechei.
- Mas trancou? Fechar de passar a chave?
- Sim.
- Tem certeza?
- Tenho. Quero dizer... olha, eu lembro de ter passado a chave.
- Eu vou lá conferir pra ti.
- Tá.
***
- É, tava trancada mesmo.
- Falei que tinha trancado.
- Mas não tinha certeza.
- Acontece.
- Putz!
- Que foi?
- Não percebi se a janela da frente tava fechada.
- Mas eu fechei.
- Fechou?
- Sim. Eu acho.
- Acha?
- Acho...
- Eu vou lá conferir pra ti.
- Tá.
***
- É, tava fechada mesmo.
- Eu falei que tinha fechado?
- Tu só achava...
- E achei certo, no fim das contas.
- Pura sorte.
- Sorte nada...
- Peraí!
- Que foi?
- E a descarga?
- Que tem?
- Tu puxou a descarga?
- Eu não, não usei o banheiro antes de vir pra cá...
- Mas será que tá puxada?
- Deixa assim, no meio da noite eu levanto, uso e puxo a descarga.
- Se tu lembrar, né?
- Deixa comigo.
- Nada disso. Já pensou ter que encarar o banheiro de manhã cedo com um baita fedor? Eu vou lá conferir pra ti.
- Tá bom...
***
- É, tava puxada mesmo.
- Viu? Foi lá à toa.
- Que nada. Já pensou o fedor logo de manhã cedo?
- Ai...
- Que foi?
- Tem mais alguma coisa que a gente esqueceu?
- Não sei. Tem?
- Eu não sei também. Mas por acaso tu vai lá na cozinha?
- Não pretendo. Por quê? Esquecemos o gás aberto?!
- Não! Disso eu tenho certeza absoluta.
- Então o quê?
- É que, se tu fosse lá, eu ia te pedir pra me trazer um copo d'água.
- Ah. Quer que eu traga?
- Não, deixa. Já vou ali, só vou esperar o intervalo do jornal.
- Se quiser eu vou ali.
- Não precisa.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Tá bom.
- Mas se tu quiser...
- Quer que eu vá?
- Ai, quero...
- Vou ali buscar pra ti.
- Tá.
***
- Tá aqui.
- Obrigada.
- Não há de quê.
- ...
- Que foi agora?
- Não sei...
- Olha, posso te garantir que agora não esquecemos nada. Tá tudo feito.
- Então... quer dizer que só me resta estudar?
.
- Fala.
- Fechou a porta?
- Fechei.
- Mas trancou? Fechar de passar a chave?
- Sim.
- Tem certeza?
- Tenho. Quero dizer... olha, eu lembro de ter passado a chave.
- Eu vou lá conferir pra ti.
- Tá.
- É, tava trancada mesmo.
- Falei que tinha trancado.
- Mas não tinha certeza.
- Acontece.
- Putz!
- Que foi?
- Não percebi se a janela da frente tava fechada.
- Mas eu fechei.
- Fechou?
- Sim. Eu acho.
- Acha?
- Acho...
- Eu vou lá conferir pra ti.
- Tá.
- É, tava fechada mesmo.
- Eu falei que tinha fechado?
- Tu só achava...
- E achei certo, no fim das contas.
- Pura sorte.
- Sorte nada...
- Peraí!
- Que foi?
- E a descarga?
- Que tem?
- Tu puxou a descarga?
- Eu não, não usei o banheiro antes de vir pra cá...
- Mas será que tá puxada?
- Deixa assim, no meio da noite eu levanto, uso e puxo a descarga.
- Se tu lembrar, né?
- Deixa comigo.
- Nada disso. Já pensou ter que encarar o banheiro de manhã cedo com um baita fedor? Eu vou lá conferir pra ti.
- Tá bom...
- É, tava puxada mesmo.
- Viu? Foi lá à toa.
- Que nada. Já pensou o fedor logo de manhã cedo?
- Ai...
- Que foi?
- Tem mais alguma coisa que a gente esqueceu?
- Não sei. Tem?
- Eu não sei também. Mas por acaso tu vai lá na cozinha?
- Não pretendo. Por quê? Esquecemos o gás aberto?!
- Não! Disso eu tenho certeza absoluta.
- Então o quê?
- É que, se tu fosse lá, eu ia te pedir pra me trazer um copo d'água.
- Ah. Quer que eu traga?
- Não, deixa. Já vou ali, só vou esperar o intervalo do jornal.
- Se quiser eu vou ali.
- Não precisa.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Tá bom.
- Mas se tu quiser...
- Quer que eu vá?
- Ai, quero...
- Vou ali buscar pra ti.
- Tá.
- Tá aqui.
- Obrigada.
- Não há de quê.
- ...
- Que foi agora?
- Não sei...
- Olha, posso te garantir que agora não esquecemos nada. Tá tudo feito.
- Então... quer dizer que só me resta estudar?
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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Sobre a charge do Marco Aurélio e coisas ofensivas
(UPDATE: Segundo publicação do jornalista Rogério Mendelski em seu perfil no Facebook, Marco Aurélio foi afastado da Zero Hora. A decisão teria partido de Nelson Sirotsky, Presidente do Conselho de Administração do Grupo RBS e a informação teria partido do próprio Marco Aurélio, em conversa com Rogério Mendelski. Se for verdade, o caso é mais grave do que se pensa. O Grupo RBS afirma que Marco Aurélio está de férias e que o também chargista Zé Dassilva está cobrindo este período.)
Na falta de piadas sobre o assunto (resultado muito mais de uma
exigência da população do que de um bloqueio causado pelo choque da
situação), as pessoas viraram suas miras para outras manifestações.
Esbravejaram contra o texto que o Fabrício Carpinejar escreveu
horas após a tragédia ("oportunista", "sensacionalista", "piegas"),
estranharam a frase "Faltou espaço para tanta dor", título do texto publicado por David
Coimbra ("gafe").
A mira agora está na charge acima. Ela é de autoria de Marco Aurélio e foi publicada ontem pela Zero Hora. As manifestações vieram, implacáveis: "insensível", "ofensiva", "desrespeitosa", "de mau gosto", "ridícula" e "absurda" são apenas alguns dos termos usados por quem opinou. E quem estiver vendo essa charge pela primeira vez e achando ela ofensiva (como milhares de pessoas acharam), eu peço - imploro - que se acalme. Essa charge não é ofensiva. Nem desrespeitosa.
A charge, intitulada "Uma nova vida" (tenham este título em mente), ilustra um grupo de pessoas sendo recepcionados na "Universidade São Pedro". Segundo uma tradição popular (popularíssima, aliás), São Pedro é o porteiro do céu (além de responsável pelo setor climático).
Ao lado de São Pedro há um anjo que diz "Alguma dúvida, eu informo". E lá está São Pedro dando as coordenadas a quem chega: "Medicina na sala 7 com Zerbini", numa referência a Euryclídes de Jesus Zerbini, cardiologista brasileiro responsável pelo primeiro transplante de coração feito no Brasil e criador do Instituto do Coração (InCor), falecido em 1993. "Gente da pedagogia com Gilberto Freyre", talvez o único erro de Marco Aurélio, uma vez que a referência mais adequada seria Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira e falecido em 1997 e não o etnólogo e antropólogo Gilberto Freyre, falecido em 1987. Arquitetos com Niemeyer - esse mundialmente reconhecido, falecido em Dezembro último. Militares com Duque de Caxias - Patrono do Exército Brasileiro, morto em 1880 e considerado até hoje herói da pátria.
E há também um recém chegado que diz "Mãe, eu estou bem...", que talvez seja o maior motivo das críticas à charge, porque foram vários os celulares que tocaram sem resposta durante a tragédia. Pois essa frase está na charge porque representa a mísera vírgula de alento que os familiares das vítimas têm diante dessa catástrofe: eles estão bem agora. Estão em um lugar melhor. Alguém atendeu o telefone para tranquilizar quem chora, angustiado. E lembram do título da charge? "Uma nova vida", exatamente. A charge mostra os jovens dando continuidade aos seus sonhos, em um local que o imaginário popular definiu - de forma consensual, diga-se - como um lugar muito melhor que o nosso: o Paraíso. É uma antítese à famigerada combinação de palavras "sonhos interrompidos", proferida incansavelmente pela imprensa.
A charge de Marco Aurélio mostra exatamente isso: os sonhos dos jovens não foram interrompidos. Estão prosseguindo em um novo lugar, muito melhor, com a melhor das supervisões. Nada além disso. É um apelo quase infantil: se pedirem para uma turma de alunos da pré-escola para desenharem uma homenagem às vítimas de Santa Maria, a maioria vai desenhar jovens chegando no céu, no Paraíso.
E, mesmo assim, milhares de pessoas se ofenderam. Acharam-a ofensiva, como desagradados ficaram com o texto de Fabrício Carpinejar ou o título do texto de David Coimbra. Ultrapassou-se um limite: qualquer coisa é ofensiva. Qualquer manifestação sobre um assunto delicado e chocante é igualmente (ou ainda mais) chocante. É um gravíssimo caso de alucinação coletiva, onde todos enxergam chifres em cabeças de porcos. Mais um pouco e se chegará no nível dos muçulmanos, que se ofendem gravemente com um desenho de Maomé porque, segundo a lei islâmica, qualquer representação imagética de Maomé é proibida.
Estamos quase lá.
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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
25 respostas adequadas para as 25 perguntas mais inusitadas em entrevistas de emprego
(Baseado nesta matéria da Folha de São Paulo.)
Entrevista de emprego é um momento tenso na vida de qualquer pessoa. Bem mais tenso que ser apresentado aos pais da namorada e quase tão tenso quanto descobrir, ao ser apresentado aos pais da namorada, que a sogra é uma ex-namorada. Eu sei disso por experiência própria. Já passei por algumas experiências inusitadas em entrevistas de emprego, tão inusitadas que desejei me teletransportar a um momento onde eu descobrisse que minha sogra é minha ex-namorada no momento que minha namorada me apresentasse aos seus pais. O que é uma situação não apenas caótica como também difícil, uma vez que eu nem tenho tantas ex-namoradas assim e nenhuma delas têm filhas.
Por exemplo: em uma entrevista de emprego, a entrevistadora passou a responsabilidade para mim, ao me dizer "Me convence a te contratar". Foi um pedido muito curioso, uma vez que ela estava com meu currículo nas mãos às 9 da manhã, que era exatamente o horário marcado para a entrevista, a qual eu compareci barbeado, asseado, cheiroso e quase bonito. "Me convence a te contratar", disse-me ela, e logo eu percebi a armadilha: ela queria que eu usasse o meu poder de convencimento para, posteriormente, acionar a Lei Maria da Penha contra mim. Portanto, agi com garbo e elegância: espantei a ideia de pular na mesa e gritar "me contrata, sua piranha fedorenta", enquanto a esmurrava. No lugar disso, falei com voz calma e ponderada: "Veja, eu não sei o que dizer, meu currículo está aí contigo e eu estou aqui pronto pra trabalhar." Tudo terminou conforme o script: às 9:14 daquela manhã eu saí pela porta da empresa, tão desempregado quanto entrei.
Em outra entrevista, o rapaz me perguntou: "O senhor tem disponibilidade para dormir no serviço?". Parece uma pergunta retórica ("E quem não tem?", era o que eu devia ter respondido), mas essa é uma pergunta maliciosa. Na ânsia de trabalhar, o candidato coloca-se à disposição para, se necessário, pernoitar na empresa e resolver os trambiques e arremedos causados pelos seus superiores, o que faz um "sim" desesperado saltar da boca do candidato à vaga. Acontece que esse "sim" instala automaticamente uma câmera de segurança destinada a gravar a produtividade do contratado. O menor cochilo será registrado pelo equipamento, gerando uma demissão por justa causa instantânea e sem chance de réplicas. "O senhor dormiu no trabalho e está tudo gravado, rua." O mundo é cruel assim: antes mesmo de começarmos no trabalho, nossos superiores já querem nos arranjar uma justa causa.
E graças à minha larga experiência nesses casos, listo aqui 25 respostas adequadas às 25 perguntas mais inusitadas que a Folha de São Paulo listou outro dia:
1- Se você pudesse se livrar de um Estado nos Estados Unidos, qual seria e por que? (Forrester)
"Eu me livraria de Virginia, porque esse era o nome de uma menininha que eu gostei quando eu estava na pré-escola e... desculpem-me, os senhores podem me oferecer um lenço? É doloroso demais relembrar esta morte tão trágica que me gerou uma suspensão de 1 semana."
2- Quantas vacas existem no Canadá? (Google)
"Depende. Tua mãe mora lá?"
(Resposta alternativa: "É sério que vocês não sabem e só vão me contratar pra colocar essa resposta no site?")
3- De quantas moedas de US$ 0,25 você precisaria para atingir a altura do Empire State Building? (JetBlue)
"Vocês não vão acreditar, mas é exatamente um quinto do salário que estou pretendendo. Podem calcular."
4- Um pinguim entra por aquela porta agora usando um sombreiro. O que ele diz e por que ele está aqui? (Clark Construction Group)
"Pai! Obrigado por trazer meu chapéu! Eu tinha esquecido."
5- Quais músicas melhor descrevem sua ética no trabalho? (Dell)
"'Vampiro Doidão', 'Beijar na boca' e 'Meu pintinho amarelinho'. Essa é pelo meu espírito jovem, sabe? Acho isso importante em uma equipe."
6- Jeff Bezos [executivo-chefe da Amazon] entra no seu escritório e diz que você pode receber US$ 1 milhão para lançar uma ideia empreendedora. Qual seria? (Amazon)
"Livros de papel higiênico. Já viu a quantidade de livros que o Paulo Coelho vende?"
7- Sobre o que você pensa quando está sozinho no seu carro? (Gallup)
"Puta que pariu, outro poste?"
8- Qual nota você daria para a sua memória? (Marriott)
"Nota fiscal. Eu sou muito atento com esses negócios de burocracia, pode ficar tranquilo, é só me contratar, por favor, vai, tô te pedindo na boa..."
(Resposta alternativa: "Desculpe, pode repetir a pergunta?")
9- Diga o nome de três ganhadores do prêmio Nobel (BenefitsCONNECT)
"Huguinho, Zezinho e Luizinho? Moe, Larry e Curly? Athos, Porthos e Aramis? Não, me dá mais uma chance! Eu, tu e ele! Cara, sério, a gente pode dominar o mundo, basta dar um autógrafo aqui na minha carteira de trabalho, ó..."
10- Você consegue dizer "'Peter Pepper Picked a Pickled Pepper" e vender uma máquina de lavar ao mesmo tempo? (Mastercard)
"O senhor compraria uma máquina de lavar de alguém que a anuncia dizendo 'Petter Pepper Picked a Pickled Pepper'?"
(Resposta alternativa: "Claro, e ainda digo 'Tekpix' no fim da frase.")
11- Se nós fôssemos à sua casa para jantar, o que você prepararia? (Trader Joe's)
"Se fosse hoje, Miojo. Tá foda amigo, me ajuda aí..."
12- Como as pessoas se comunicariam em um mundo perfeito? (Novel)
"Em linguagem de sinais. A propósito, conhece o significado de uma mão com apenas o dedo do meio erguido?"
13- Como você faz sanduíche de atum? (Astron Consulting)
"O senhor não vai acreditar: eu faço com atum. E pão, de vez em quando."
14- Eu e minha mulher estamos saindo de férias. Qual lugar você recomendaria? (PricewaterhouseCoopers)
"A sua mulher é aquela moreninha que detesta ir a cassinos usando microssaia de couro, né? Hm, deixe-me pensar..."
15- Você é um chef de um restaurante e sua equipe foi selecionada para estar no programa "Iron Chef". Como você a prepararia para a competição e como traria vantagem para o seu restaurante? (Accenture)
"Contratando a Palmirinha e fazendo meus adversários contratarem a Ana Maria Braga."
16- Estime quantas janelas existem em Nova York. (Bain & Company)
"322 milhões, 903 mil... ih, peraí, incluí as do World Trade Center. Me dá 5 minutinhos pra calcular de novo."
17- Qual é a sua música preferida? Cante-a para a gente agora. (LivingSocial)
"'Parabéns pra você / nessa data querida / muitas felicidades / muitos anos de vida'... merda! Errei o tempo da última palma!"
18- Calcule o ângulo de dois ponteiros de relógio quando são 11h50. (Bank of America)
"Não quer esperar mais 10 minutinhos? Aí eu te digo certinho."
19- Você já roubou uma caneta da empresa? (Jiffy Software)
"Não, nunca. Ok, essa aqui foi a primeira. Desculpa, não vai mais se repetir. Porra, vocês são muito bons nisso. Como faço pra trabalhar aqui?"
20- Escolha duas celebridades para serem seus pais (Urban Outfitters)
"Sylvester Stallone e Steven Seagal. Espera! Vocês são a favor do casamento gay?"
(Resposta alternativa: "Outras personalidades? Não está vendo que eu sou a Suri Cruise?")
21- Qual utensílio de cozinha você seria? (Bandwidth.com)
"O sofá. Que foi? Vai dizer que vocês não têm um sofá na cozinha?"
22- Se você colocasse seu telefone no modo silencioso, e ele tocasse bem alto mesmo assim, o que você me diria? (Kimberly-Clark)
"É um smart-phone e sabe aumentar o volume sozinho em situações de emergência. E como eu sou o Batman, com licença, o dever me chama."
(Resposta alternativa: "Atende aí. Se for pra mim, diz que eu estou no banho.")
23- Em uma escala de um a dez, classifique-me como entrevistador. (Kraft Foods)
"Um. E aí, a tua vaga já é minha?"
24- Se você pudesse ser outra pessoa, quem seria? (Salesforce.com)
"O Hugh Hefner. Existe outra resposta?"
25- Como você orientaria alguém sobre como preparar uma omelete? (PETCO)
"Primeiro pega a frigideira, aí pega o ovo... ah, quer saber? Liga pra Palmirinha."
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Entrevista de emprego é um momento tenso na vida de qualquer pessoa. Bem mais tenso que ser apresentado aos pais da namorada e quase tão tenso quanto descobrir, ao ser apresentado aos pais da namorada, que a sogra é uma ex-namorada. Eu sei disso por experiência própria. Já passei por algumas experiências inusitadas em entrevistas de emprego, tão inusitadas que desejei me teletransportar a um momento onde eu descobrisse que minha sogra é minha ex-namorada no momento que minha namorada me apresentasse aos seus pais. O que é uma situação não apenas caótica como também difícil, uma vez que eu nem tenho tantas ex-namoradas assim e nenhuma delas têm filhas.
Por exemplo: em uma entrevista de emprego, a entrevistadora passou a responsabilidade para mim, ao me dizer "Me convence a te contratar". Foi um pedido muito curioso, uma vez que ela estava com meu currículo nas mãos às 9 da manhã, que era exatamente o horário marcado para a entrevista, a qual eu compareci barbeado, asseado, cheiroso e quase bonito. "Me convence a te contratar", disse-me ela, e logo eu percebi a armadilha: ela queria que eu usasse o meu poder de convencimento para, posteriormente, acionar a Lei Maria da Penha contra mim. Portanto, agi com garbo e elegância: espantei a ideia de pular na mesa e gritar "me contrata, sua piranha fedorenta", enquanto a esmurrava. No lugar disso, falei com voz calma e ponderada: "Veja, eu não sei o que dizer, meu currículo está aí contigo e eu estou aqui pronto pra trabalhar." Tudo terminou conforme o script: às 9:14 daquela manhã eu saí pela porta da empresa, tão desempregado quanto entrei.
Em outra entrevista, o rapaz me perguntou: "O senhor tem disponibilidade para dormir no serviço?". Parece uma pergunta retórica ("E quem não tem?", era o que eu devia ter respondido), mas essa é uma pergunta maliciosa. Na ânsia de trabalhar, o candidato coloca-se à disposição para, se necessário, pernoitar na empresa e resolver os trambiques e arremedos causados pelos seus superiores, o que faz um "sim" desesperado saltar da boca do candidato à vaga. Acontece que esse "sim" instala automaticamente uma câmera de segurança destinada a gravar a produtividade do contratado. O menor cochilo será registrado pelo equipamento, gerando uma demissão por justa causa instantânea e sem chance de réplicas. "O senhor dormiu no trabalho e está tudo gravado, rua." O mundo é cruel assim: antes mesmo de começarmos no trabalho, nossos superiores já querem nos arranjar uma justa causa.
E graças à minha larga experiência nesses casos, listo aqui 25 respostas adequadas às 25 perguntas mais inusitadas que a Folha de São Paulo listou outro dia:
1- Se você pudesse se livrar de um Estado nos Estados Unidos, qual seria e por que? (Forrester)
"Eu me livraria de Virginia, porque esse era o nome de uma menininha que eu gostei quando eu estava na pré-escola e... desculpem-me, os senhores podem me oferecer um lenço? É doloroso demais relembrar esta morte tão trágica que me gerou uma suspensão de 1 semana."
2- Quantas vacas existem no Canadá? (Google)
"Depende. Tua mãe mora lá?"
(Resposta alternativa: "É sério que vocês não sabem e só vão me contratar pra colocar essa resposta no site?")
3- De quantas moedas de US$ 0,25 você precisaria para atingir a altura do Empire State Building? (JetBlue)
"Vocês não vão acreditar, mas é exatamente um quinto do salário que estou pretendendo. Podem calcular."
4- Um pinguim entra por aquela porta agora usando um sombreiro. O que ele diz e por que ele está aqui? (Clark Construction Group)
"Pai! Obrigado por trazer meu chapéu! Eu tinha esquecido."
5- Quais músicas melhor descrevem sua ética no trabalho? (Dell)
"'Vampiro Doidão', 'Beijar na boca' e 'Meu pintinho amarelinho'. Essa é pelo meu espírito jovem, sabe? Acho isso importante em uma equipe."
6- Jeff Bezos [executivo-chefe da Amazon] entra no seu escritório e diz que você pode receber US$ 1 milhão para lançar uma ideia empreendedora. Qual seria? (Amazon)
"Livros de papel higiênico. Já viu a quantidade de livros que o Paulo Coelho vende?"
7- Sobre o que você pensa quando está sozinho no seu carro? (Gallup)
"Puta que pariu, outro poste?"
8- Qual nota você daria para a sua memória? (Marriott)
"Nota fiscal. Eu sou muito atento com esses negócios de burocracia, pode ficar tranquilo, é só me contratar, por favor, vai, tô te pedindo na boa..."
(Resposta alternativa: "Desculpe, pode repetir a pergunta?")
9- Diga o nome de três ganhadores do prêmio Nobel (BenefitsCONNECT)
"Huguinho, Zezinho e Luizinho? Moe, Larry e Curly? Athos, Porthos e Aramis? Não, me dá mais uma chance! Eu, tu e ele! Cara, sério, a gente pode dominar o mundo, basta dar um autógrafo aqui na minha carteira de trabalho, ó..."
10- Você consegue dizer "'Peter Pepper Picked a Pickled Pepper" e vender uma máquina de lavar ao mesmo tempo? (Mastercard)
"O senhor compraria uma máquina de lavar de alguém que a anuncia dizendo 'Petter Pepper Picked a Pickled Pepper'?"
(Resposta alternativa: "Claro, e ainda digo 'Tekpix' no fim da frase.")
11- Se nós fôssemos à sua casa para jantar, o que você prepararia? (Trader Joe's)
"Se fosse hoje, Miojo. Tá foda amigo, me ajuda aí..."
12- Como as pessoas se comunicariam em um mundo perfeito? (Novel)
"Em linguagem de sinais. A propósito, conhece o significado de uma mão com apenas o dedo do meio erguido?"
13- Como você faz sanduíche de atum? (Astron Consulting)
"O senhor não vai acreditar: eu faço com atum. E pão, de vez em quando."
14- Eu e minha mulher estamos saindo de férias. Qual lugar você recomendaria? (PricewaterhouseCoopers)
"A sua mulher é aquela moreninha que detesta ir a cassinos usando microssaia de couro, né? Hm, deixe-me pensar..."
15- Você é um chef de um restaurante e sua equipe foi selecionada para estar no programa "Iron Chef". Como você a prepararia para a competição e como traria vantagem para o seu restaurante? (Accenture)
"Contratando a Palmirinha e fazendo meus adversários contratarem a Ana Maria Braga."
16- Estime quantas janelas existem em Nova York. (Bain & Company)
"322 milhões, 903 mil... ih, peraí, incluí as do World Trade Center. Me dá 5 minutinhos pra calcular de novo."
17- Qual é a sua música preferida? Cante-a para a gente agora. (LivingSocial)
"'Parabéns pra você / nessa data querida / muitas felicidades / muitos anos de vida'... merda! Errei o tempo da última palma!"
18- Calcule o ângulo de dois ponteiros de relógio quando são 11h50. (Bank of America)
"Não quer esperar mais 10 minutinhos? Aí eu te digo certinho."
19- Você já roubou uma caneta da empresa? (Jiffy Software)
"Não, nunca. Ok, essa aqui foi a primeira. Desculpa, não vai mais se repetir. Porra, vocês são muito bons nisso. Como faço pra trabalhar aqui?"
20- Escolha duas celebridades para serem seus pais (Urban Outfitters)
"Sylvester Stallone e Steven Seagal. Espera! Vocês são a favor do casamento gay?"
(Resposta alternativa: "Outras personalidades? Não está vendo que eu sou a Suri Cruise?")
21- Qual utensílio de cozinha você seria? (Bandwidth.com)
"O sofá. Que foi? Vai dizer que vocês não têm um sofá na cozinha?"
22- Se você colocasse seu telefone no modo silencioso, e ele tocasse bem alto mesmo assim, o que você me diria? (Kimberly-Clark)
"É um smart-phone e sabe aumentar o volume sozinho em situações de emergência. E como eu sou o Batman, com licença, o dever me chama."
(Resposta alternativa: "Atende aí. Se for pra mim, diz que eu estou no banho.")
23- Em uma escala de um a dez, classifique-me como entrevistador. (Kraft Foods)
"Um. E aí, a tua vaga já é minha?"
24- Se você pudesse ser outra pessoa, quem seria? (Salesforce.com)
"O Hugh Hefner. Existe outra resposta?"
25- Como você orientaria alguém sobre como preparar uma omelete? (PETCO)
"Primeiro pega a frigideira, aí pega o ovo... ah, quer saber? Liga pra Palmirinha."
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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
O telefonema da mulher invisível
Corria uma tarde amena de verão, quando o telefone tocou. O maldito telefone tocou.
Eu não gosto de telefones e não é de hoje. Não é à toa que uso mais as mensagens de texto do que as ligações no celular. Isso não muda a audácia do telefone, que insiste em tocar mesmo sabendo que eu não gosto dele. Pois o fato é que o maldito telefone de casa tocou. E pelo visto ele queria mudar minha opinião sobre telefones, porque...
- Alô.
- Oi!...
- Oi.
- Aqui é a Luana Piovani! - respondeu uma voz feminina e muito animada.
Eu poderia responder "E eu sou o Silvio Santos.", mas o choque de receber uma ligação da Luana Piovani foi maior. Numa fração de segundo eu me senti o Selton Mello recebendo uma ligação da sua namorada perfeita, e nessa mesma fração de segundo eu percebi que, por uma feliz coincidência, minha vestimenta se resumia a uma cueca. Ou seja: ao receber o telefonema da Luana Piovani, eu já estava pronto para as preliminares.
É uma dessas coincidências mágicas, cuja magia ignora completamente o fato de a Luana Piovani estar do outro lado da linha, fisicamente distante de mim. Mas ora, isso lá é problema para um momento tão alegremente mágico? Recebi de cueca um telefonema da Luana Piovani. É lógico que a magia continuaria a ponto de fazer acontecer uma interação carnal intensa ali mesmo. Se o Selton Mello conseguiu, porque eu não conseguiria?
Passada a fração de segundo, meu corpo preparava-se para dar início a um princípio de começo de uma ereção, quando Lu (já éramos íntimos em nossos corações) deu continuidade ao ato:
- Eu tenho uma dica pra você! Eu coloquei um Oi Fixo aqui em casa...
Foi como se Mister M em pessoa aparecesse com toda sua equipe cenográfica pronta para filmar e revelar o truque por trás daquele telefonema mágico. Comigo ali, de cueca.
- O truque é simples, - diria Mister M - a voz de Luana Piovani é oriunda de uma gravação com intenções não apenas de marketing, mas também de testar um novo método antiestupro. Você, mulher, pode tentar essa mágica em uma situação de perigo. Ao ver-se atacada por um tarado, pronuncie as palavras mágicas "Aqui é a Luana Piovani e eu tenho uma dica para você, eu coloquei um Oi Fixo aqui em casa" e veja o malfeitor desistir de seu vil ato.
Brochei o que nem tinha começado, desliguei na cara dela e continuei odiando telefones.
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Eu não gosto de telefones e não é de hoje. Não é à toa que uso mais as mensagens de texto do que as ligações no celular. Isso não muda a audácia do telefone, que insiste em tocar mesmo sabendo que eu não gosto dele. Pois o fato é que o maldito telefone de casa tocou. E pelo visto ele queria mudar minha opinião sobre telefones, porque...
- Alô.
- Oi!...
- Oi.
- Aqui é a Luana Piovani! - respondeu uma voz feminina e muito animada.
Eu poderia responder "E eu sou o Silvio Santos.", mas o choque de receber uma ligação da Luana Piovani foi maior. Numa fração de segundo eu me senti o Selton Mello recebendo uma ligação da sua namorada perfeita, e nessa mesma fração de segundo eu percebi que, por uma feliz coincidência, minha vestimenta se resumia a uma cueca. Ou seja: ao receber o telefonema da Luana Piovani, eu já estava pronto para as preliminares.
É uma dessas coincidências mágicas, cuja magia ignora completamente o fato de a Luana Piovani estar do outro lado da linha, fisicamente distante de mim. Mas ora, isso lá é problema para um momento tão alegremente mágico? Recebi de cueca um telefonema da Luana Piovani. É lógico que a magia continuaria a ponto de fazer acontecer uma interação carnal intensa ali mesmo. Se o Selton Mello conseguiu, porque eu não conseguiria?
Passada a fração de segundo, meu corpo preparava-se para dar início a um princípio de começo de uma ereção, quando Lu (já éramos íntimos em nossos corações) deu continuidade ao ato:
- Eu tenho uma dica pra você! Eu coloquei um Oi Fixo aqui em casa...
Foi como se Mister M em pessoa aparecesse com toda sua equipe cenográfica pronta para filmar e revelar o truque por trás daquele telefonema mágico. Comigo ali, de cueca.
- O truque é simples, - diria Mister M - a voz de Luana Piovani é oriunda de uma gravação com intenções não apenas de marketing, mas também de testar um novo método antiestupro. Você, mulher, pode tentar essa mágica em uma situação de perigo. Ao ver-se atacada por um tarado, pronuncie as palavras mágicas "Aqui é a Luana Piovani e eu tenho uma dica para você, eu coloquei um Oi Fixo aqui em casa" e veja o malfeitor desistir de seu vil ato.
Brochei o que nem tinha começado, desliguei na cara dela e continuei odiando telefones.
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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
O quase ator (II)
Ano passado, há não muitos dias atrás, relatei as minhas experiências nas artes cênicas. Conforme coloquei, minha carreira de galã na Globo só não deslanchou porque sequer começou, e só não começou por causa de algumas minúsculas pedras no meu caminho - pedras que eu não tive a competência de juntar para construir o meu castelo, o meu império.
Entretanto, as artes cênicas foram uma constante na minha vida. Atuar foi uma atividade presente na minha vida quando eu menos esperava. Teve essa festa de aniversário de um amigo, por exemplo. Foi uma experiência única na minha breve carreira de ator - afinal, eu interpretava a mim mesmo.
A festa estava divertida, muito embora ninguém ainda estivesse dançando feito uma minhoca convulsionando sobre brasas (é difícil de acreditar, mas festas podem ser divertidas sem esse item). A família inteira do rapaz estava lá, e quando eu digo "família inteira" eu digo "festa da democracia racial": brancos, negros, índios, japoneses, gremlins, enfim, era gente pra dedéu. E eu estava na mesa dos meus amigos, que por coincidência eram amigos do aniversariante também, veja só que coisa.
E todos na mesa rindo, contando suas anedotas, cada qual melhor que a outra, o refrigerante rolando solto - éramos realmente menores de idade à época -, tão solto que idas ao banheiro eram uma constante entre a turma. Comigo não foi diferente, e a certa altura da festa uma visita ao banheiro se tornou obrigatória.
Fui. E creiam-me, minha atuação no banheiro foi imaculadamente perfeita. O jato tomou o rumo certo, sem esbarrar nas bordas do vaso. Tarefa concluída, saí daquele cenário um tanto desconfortável para voltar ao cenário anterior: a festa. A festa cheia, devo lembrar.
O caminho entre o banheiro e o salão de festas possuía, além de um amplo corredor, dois degraus com 15 centímetros de altura - se muito. Antes mesmo de passar por estes degraus, era possível vislumbrar quem estava voltando de uma visitinha ao banheiro, e todos na festa viram que eu saía de um cenário desconfortável e voltava para o salão. A mesa onde meus amigos estavam era logo ao lado dos dois degraus, de modo que o que eu deveria fazer era galgá-los, girar o corpo em 90 graus à esquerda e sentar-me na cadeira mais próxima.
Mas não. Fácil demais.
Percebendo que meus amigos notaram que eu voltava do banheiro, resolvi fazer melhor: mostrar a todos o meu talento nas artes cênicas. E estando eu em uma festa animada, o mais indicado era representar um ato cômico. Por isso, aproveitando o clima animado, coloquei o pé esquerdo no primeiro degrau e, enquanto levantava o pé direito e o aproximava do segundo degrau, chamei a atenção dos meus amigos: "Ei! Olha! Imagina...". Isto dito, dei início à encenação: um tropeço seguido de um voo rasante em direção ao chão. E foi aí que a mágica começou a acontecer.
Com a ajuda de um contrarrega na forma de um pequenino duende invisível, a ponta do meu pé direito grudou-se ao segundo degrau como se ambos estivessem lambuzados com Super Bonder de secagem imediata. Santo nenhum prestou-se a fazer milagre naquela fração de segundo, de modo que eu dei início a uma viagem sem volta e com um destino: o chão. Mas não era uma viagem qualquer, isso não! De algum modo, outra mágica se operou: a força da gravidade ganhou cerca de 5 vezes mais potência. O que era pra ser uma queda livre tornou-se uma queda obrigatória e, a meus olhos, em câmera lenta. Mas nem a câmera lenta impediu que eu ficasse completamente sem ação. Meus braços estavam abertos em posição de Cristo crucificado porque eu queria simular um tombo, e assim ficaram. E assim caí.
Mas não "caí". Eu caí. Espatifei-me. Estatelei-me. Esborrachei-me. Estabaquei-me. Esparramei-me. Fui-me ao chão como se ali tivesse um colchão com molas ultraflexíveis que me empurrariam de volta à posição vertical. Eu caí de uma maneira tal que fez barulho, e o barulho - mágica divina - ecoou pelo salão, ca-ta-plaaaaft!, só parando de ecoar porque outro som o abafou: o das risadas. Do salão inteiro. Quem não estava olhando para o acesso ao salão virou-se para saber que barulho audível a ouvido nu da Lua era aquele e, descobrindo um corpo esparramado no chão, juntou-se ao coro de gargalhadas também audíveis a ouvido nu - mas de Plutão.
Que atuação, senhores, que atuação! Jamais na história das artes cênicas um tombo foi tão realisticamente encenado! Jamais a encenação de um tombo arrancou tantas gargalhadas de uma plateia! Charles Chaplin aplaudiria-me de pé!
O problema é que eu tive que dar continuidade à atuação. Retornei à mesa dos meus amigos (que riam mais que todo mundo no planeta) tentando disfarçar o enfarte agudo no miocárdio que eu sentia no joelho direito, devido ao contato sem delicadeza com o chão, enquanto dizia "hein, imagina! Que buléu seria!" a eles.
- Que buléu "seria"? Que buléu foi! - respondeu-me um.
- Não - refutei, magoado pela falta de reconhecimento do meu talento, enquanto colocava a perna com o joelho ainda mais magoado em uma cadeira vazia. - Sou um ator.
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Entretanto, as artes cênicas foram uma constante na minha vida. Atuar foi uma atividade presente na minha vida quando eu menos esperava. Teve essa festa de aniversário de um amigo, por exemplo. Foi uma experiência única na minha breve carreira de ator - afinal, eu interpretava a mim mesmo.
A festa estava divertida, muito embora ninguém ainda estivesse dançando feito uma minhoca convulsionando sobre brasas (é difícil de acreditar, mas festas podem ser divertidas sem esse item). A família inteira do rapaz estava lá, e quando eu digo "família inteira" eu digo "festa da democracia racial": brancos, negros, índios, japoneses, gremlins, enfim, era gente pra dedéu. E eu estava na mesa dos meus amigos, que por coincidência eram amigos do aniversariante também, veja só que coisa.
E todos na mesa rindo, contando suas anedotas, cada qual melhor que a outra, o refrigerante rolando solto - éramos realmente menores de idade à época -, tão solto que idas ao banheiro eram uma constante entre a turma. Comigo não foi diferente, e a certa altura da festa uma visita ao banheiro se tornou obrigatória.
Fui. E creiam-me, minha atuação no banheiro foi imaculadamente perfeita. O jato tomou o rumo certo, sem esbarrar nas bordas do vaso. Tarefa concluída, saí daquele cenário um tanto desconfortável para voltar ao cenário anterior: a festa. A festa cheia, devo lembrar.
O caminho entre o banheiro e o salão de festas possuía, além de um amplo corredor, dois degraus com 15 centímetros de altura - se muito. Antes mesmo de passar por estes degraus, era possível vislumbrar quem estava voltando de uma visitinha ao banheiro, e todos na festa viram que eu saía de um cenário desconfortável e voltava para o salão. A mesa onde meus amigos estavam era logo ao lado dos dois degraus, de modo que o que eu deveria fazer era galgá-los, girar o corpo em 90 graus à esquerda e sentar-me na cadeira mais próxima.
Mas não. Fácil demais.
Percebendo que meus amigos notaram que eu voltava do banheiro, resolvi fazer melhor: mostrar a todos o meu talento nas artes cênicas. E estando eu em uma festa animada, o mais indicado era representar um ato cômico. Por isso, aproveitando o clima animado, coloquei o pé esquerdo no primeiro degrau e, enquanto levantava o pé direito e o aproximava do segundo degrau, chamei a atenção dos meus amigos: "Ei! Olha! Imagina...". Isto dito, dei início à encenação: um tropeço seguido de um voo rasante em direção ao chão. E foi aí que a mágica começou a acontecer.
Com a ajuda de um contrarrega na forma de um pequenino duende invisível, a ponta do meu pé direito grudou-se ao segundo degrau como se ambos estivessem lambuzados com Super Bonder de secagem imediata. Santo nenhum prestou-se a fazer milagre naquela fração de segundo, de modo que eu dei início a uma viagem sem volta e com um destino: o chão. Mas não era uma viagem qualquer, isso não! De algum modo, outra mágica se operou: a força da gravidade ganhou cerca de 5 vezes mais potência. O que era pra ser uma queda livre tornou-se uma queda obrigatória e, a meus olhos, em câmera lenta. Mas nem a câmera lenta impediu que eu ficasse completamente sem ação. Meus braços estavam abertos em posição de Cristo crucificado porque eu queria simular um tombo, e assim ficaram. E assim caí.
Mas não "caí". Eu caí. Espatifei-me. Estatelei-me. Esborrachei-me. Estabaquei-me. Esparramei-me. Fui-me ao chão como se ali tivesse um colchão com molas ultraflexíveis que me empurrariam de volta à posição vertical. Eu caí de uma maneira tal que fez barulho, e o barulho - mágica divina - ecoou pelo salão, ca-ta-plaaaaft!, só parando de ecoar porque outro som o abafou: o das risadas. Do salão inteiro. Quem não estava olhando para o acesso ao salão virou-se para saber que barulho audível a ouvido nu da Lua era aquele e, descobrindo um corpo esparramado no chão, juntou-se ao coro de gargalhadas também audíveis a ouvido nu - mas de Plutão.
Que atuação, senhores, que atuação! Jamais na história das artes cênicas um tombo foi tão realisticamente encenado! Jamais a encenação de um tombo arrancou tantas gargalhadas de uma plateia! Charles Chaplin aplaudiria-me de pé!
O problema é que eu tive que dar continuidade à atuação. Retornei à mesa dos meus amigos (que riam mais que todo mundo no planeta) tentando disfarçar o enfarte agudo no miocárdio que eu sentia no joelho direito, devido ao contato sem delicadeza com o chão, enquanto dizia "hein, imagina! Que buléu seria!" a eles.
- Que buléu "seria"? Que buléu foi! - respondeu-me um.
- Não - refutei, magoado pela falta de reconhecimento do meu talento, enquanto colocava a perna com o joelho ainda mais magoado em uma cadeira vazia. - Sou um ator.
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