quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Jucelino, um sonhador

E mais um ano vai chegando ao fim. Engana-se quem pensa que eu vou recitar aquela música da Simone, mas cabe a pergunta: será que realizamos nossas metas, nossos sonhos? O que fizemos?

Pois este é o momento de avaliarmos isso. Acho que todo mundo precisa fazer isso. Inclusive o nobre Jucelino Nóbrega da Luz. E vocês devem estar se perguntando "quem raios é este Jucelino sei-lá-eu-das-quantas?" Pois bem: lá foi tu, caro vivente, preencher teu perfil no Orkut ou no Facebook. Lá pelas tantas pinta uma ideia brilhante para preencher o campo "Sobre mim", e esta ideia é: "Sonhador(a) profissional".

Caríssimos, lamento informar, mas sonhador profissional é Jucelino. O resto é meramente resto. Jucelino é tão competente na arte de sonhar que eu suponho que ele não faça outra coisa além de dormir. Mais: ele dorme em algum Instituto do Sono, vigiado por aparelhos moderníssimos, que captam as imagens que ele sonha. Estas imagens são interpretadas por uma equipe, que trata de divulgar os sonhos de Jucelino mundo afora.

É isso aí. Mundo afora mesmo. Jucelino é famoso (aqui podemos discutir o conceito de "famoso") por ter sonhos premonitórios de catástrofes e enviar cartas a quem, supostamente, vai sofrer a tal catástrofe, alertando-os do perigo.

Um exemplo: Jucelino sonha que uma cidade vai sofrer com um furacão. Então ele envia uma carta às autoridades da tal cidade, relatando o tal sonho e sugerindo providências, senão uma cacetada de gente vai morrer. Outro exemplo: Jucelino sonha que Michael Jackson vai morrer, e envia uma carta contando o que sonhou e que a saúde do rei do pop corre perigo. Bem, ele alega que realmente fez isso.

Mencionei que ele afirma registrar as cartas que envia em cartório? Mencionei sim. Claro que mencionei. Basta ler a primeira frase deste parágrafo.

E quando eu digo que suponho que Jucelino não faça outra coisa além de dormir, devo dizer que minha suposição é baseada exclusivamente em números - e, como se sabe, os números não mentem. Em 22 de dezembro de 2009, Jucelino fez 230 previsões para 2010 - sem contar as que ele certamente teve durante o corrente ano, durante seu sagrado sono. Eu, como um doce cabeludo de nobre coração que vai todos os dias ao bosque recolher lenha, sinto-me na obrigação de ajudar Jucelino a verificar se seus sonhos se realizaram em 2010.

Esta tarefa não é difícil. Basta ver, no link do parágrafo acima, que pelo menos 90% dos sonhos de Jucelino tratam de toda a sorte de catástrofes e putarias naturais nos mais diversos locais do mundo. As tragédias sonhadas por ele foram tantas que é impressionante ele não ter mijado na cama de medo uma única vez, e poderiam se resumir em um único sonho: "o mundo acabará". Como ainda não acabou, Jucelino já não cumpriu boa parte das suas sonhadas metas.

Só de terremotos foram cerca de cagocentos e doze sonhos - nenhum deles no Chile ou no Haiti, o que comprova que o forte dos sonhos de Jucelino não é a Geografia.
Tudo o que ele previu oniricamente para o Chile foram conflitos que causariam grandes danos à Capital, em setembro. Se formos interpretar esta frase como fazem os estudiosos das centúrias de Nostradamus, perceberemos claramente que esta foi uma previsão do acidente que deixou dezenas de mineiros soterrados por um bom tempo. Uma pena que os coitados não souberam interpretar isso a tempo. Para o Haiti, nada de terremotos, e sim um furacão. Ou seja, o forte dos sonhos de Jucelino, além de não ser Geografia, também não deve ser Ciências.

Mas deixemos as tragédias naturais de lado. Há muitas tragédias artificiais: nos sonhos de Jucelino, o terrorismo é constante (como esse rapaz não mija na cama, céus?). Afeganistão, Paquistão e Iraque sofreriam com atentados. Ponto para Jucelino! Eu estou aprendendo com ele: eu previ que o sol nasceria sempre de manhã durante este ano. Acertei em cheio!

Há uma previsão bastante interessante, a de número 26: "Saúde de cantor (R.C.) é abalado por problemas renais" (sic). O que significa R.C.? Ray Charles? Ray Conniff? Roberto Carlos? Não interessa: ele acertou. Ray Charles teve a saúde tão abalada em 2010 que morreu - em 2004. Ray Conniff sofreu ainda mais em 2010, tanto que morreu em 2002, antes mesmo de Ray Charles. E Roberto Carlos perdeu a perna nos anos 40 - se isso não é ter a saúde abalada em 2010, eu não sei mais o que é. Problemas renais? Ora, não se apeguem a detalhes. Lembrem-se que o forte de Jucelino não é Ciências.

Jucelino sonhou também com as eleições e, segundo a previsão 175, o candidato censurado ganharia no primeiro turno. Das duas, uma: ou política também não é o forte dos sonhos dele, ou Jucelino sonhou com institutos de pesquisa. E ele sonha também com a política do mundo todo: além de um possível atentado a Barack Obama, ele sonhou que o presidente norte-coreano correria sério risco de vida em agosto. Será que acertou? Será que errou? Eis um mistério que a censura do comunismo nortecoreano deixa no ar.

Prezado Jucelino, eu poderia aqui te desejar um ótimo 2011, mas infelizmente isso não é possível. Não quero atrapalhar teu sono, onde certamente estão surgindo previsões de um 2011 macabro e tenebroso, e não ótimo. No entanto, não quero aqui ser mal-educado contigo e encerrar este post sem me despedir de ti.

Durma bem, nobre cavalheiro.

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Corpo são, mente sã?

É difícil crer naquela máxima do esporte, que diz "corpo são, mente sã". Basta olhar para os jogadores de futebol: é uma tarefa hercúlea encontrar algum que saiba escrever corretamente um bilhete que diga "já volto".

Mas tudo bem, é sacanagem minha restringir a análise de inteligência de atletas apenas aos jogadores de futebol. E foi com isso em mente que eu estava assistindo ontem uma matéria no SporTV, falando sobre o Prêmio Brasil Olímpico, onde alguns repórteres estavam vagando pelos bastidores do evento, horas antes deste ter início.

Eis que a repórter se aproximou de uma menina para entrevistá-la. A guria era atleta do pentatlo, uma modalidade que, por si só, poderia revelar que seu praticante não bate muito bem das ideias. O pentatleta é, no mínimo um sujeito pra lá de indeciso. Com certeza fica pensando: "Não sei que esporte praticar. Ah, quer saber? Vou fazer todos. Dane-se."

"Não seja tão ranzinza", repreendi-me, "dá uma chance pra guria mostrar sua inteligência". Fiz isso sem dificuldade, e a guria acabou mostrando o seu valor: expressava-se com desenvoltura, com um ótimo vocabulário e tudo o mais. O mais incrível era o seu sotaque nordestino, o que dá um tremendo chute na bunda daquela ideia pré-concebida que todos os nordestinos têm dificuldade de aprendizado e são burros a dar com um pau - em duas palavras, "tremendamente imbecis". Esse ano aprendemos que não: tremendamente imbecis foram os paulistas que fizeram daquele palhaço nordestino - que tem um QI 2 pontos maior que uma garrafa de plástico - o deputado mais votado do país. Mas divago.

Enfim, a pentatleta se saiu muitíssimo bem. Fiquei surpreso: eis uma atleta inteligente! Há esperanças no mundo!

Então os repórteres continuaram vagando pelos bastidores, e encontraram o judoca Leandro Guilheiro, que era um dos três indicados ao prêmio de melhor atleta olímpico do Brasil entre os homens. A repórter, louca de faceira, abordou-o:

- E está aqui um dos candidatos ao prêmio de melhor atleta do ano, Leandro Guilheiro, do judô! Ele tá aí, querendo dar um ippon nos outros dois concorrentes, que são o César Cielo, da natação, e o Murilo, do vôlei. Não é mesmo, Guilheiro?

Percebam, a abordagem dela foi cheia de simpatia e humor. Certamente estava treinando para o teste para o elenco da "Praça É Nossa".

O judoca, percebendo a sagacidade da moça, resolveu que seria uma ótima ideia ser simpático e bem humorado também. Entre sorrisos, respondeu:

- É, pois é, eles são grandes, mas não são dois - brincou. Que rapaz destemido este Leandro Guilheiro, hein?! É capaz de encarar gente maior que ele!

Mas... se César Cielo e Murilo não são dois, são o quê? Duas? Ou são a mesma pessoa?

Atenção Comitê Olímpico Internacional, fica o alerta para esta fraude.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Em dois palitos

Se fizermos uma pesquisa de opinião, perguntando às pessoas o que falta a elas, algumas dirão "dinheiro". Outras dirão "paciência pra aturar uma pergunta imbecil dessas". Mas muitas, muitas mesmo, dirão "tempo".

Tempo é uma coisa complicada. Tanto que as pessoas nem querem mais medi-lo com esmero. Hoje em dia é muito comum uma pessoa dizer algo como "Isso eu faço em dois tempos". Ok, mas é dois tempos de quê? Basquete? Futebol? Afinal, vai demorar ou não?

Essa despreocupação em medir o tempo explica-se pelo fato de que cada vez mais temos menos tempo em nossas vidas para realizar nossas tarefas - a despeito da imensa quantidade de medidores de tempo: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, decênios, séculos, milênios e palitos.

Percebam a complicação do tempo através dos tempos: primeiro, a humanidade media a passagem do tempo através da Lua ou de algumas constelações. Depois, passamos a medi-lo com ampulhetas, ou observávamos as horas passarem através do sol. Depois, os segundos se faziam cada vez mais presentes nos relógios modernos. E, agora, medimos o tempo com palitos.

Vejam o caso dessa propaganda da Skol:



Incumbido de realizar uma tarefa, o japa garante que a realizará em dois palitos. E eu fico deprimido quando esta propaganda termina, porque ela joga na minha cara a ignorância imensurável que habita em mim: eu não sei se dois palitos é um tempo muito longo ou muito curto para executar alguma tarefa.

Quando se usa palito para medir o tempo, pode ser uma referência ao tempo que um palito de fósforo leva para ser consumido inteiramente pelo fogo. Se é este o caso, o palito é grande ou pequeno?

Mas o palito usado para medir o tempo pode não ser de fósforo, mas de dentes. E aí a coisa complica de vez. Neste caso, creio que a sujeira presente na arcada dentária exerce forte influência na medição do tempo. E a sujeira no dente nada mais é que o resultado de uma refeição - e esta pode ser curta ou longa, rápida ou demorada, um generoso jantar ou um mísero lanchinho, quiçá um assalto à geladeira durante a madrugada. Ademais, o tempo utilizado para palitar os dentes pode ser influenciado pela pressa ou calma do dono da arcada dentária, podendo ele utilizar dois, três ou mesmo vinte palitos, mas demorando dois, três ou vinte segundos na limpeza bucal de emergência.

O tempo utilizado para palitar os dentes é muito relativo. Medir o tempo usando palitos reflete claramente o descaso que as pessoas têm com essa medição. O pior de tudo é que até agora eu não sei se o japa da propaganda foi rápido ou lento na tarefa de reabastecer o estoque de cervejas.

E a quem estiver se perguntando, fiquem tranquilos: eu não tinha nada de mais interessante para fazer quando escrevi este texto. Além disso, escrevi-o em dois tempos. Ou dois palitos, como queiram.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Minha cartinha pro Papai Noel

Querido Papai Noel:

Este ano eu fui um bom menino. Não matei, não roubei, não estuprei, não cabulei aulas e, de quebra, ainda tirei uma louvável nota máxima no meu Trabalho de Conclusão de Curso.

Então, Papai Noel, eu gostaria de ganhar um emprego de presente do senhor. Meu objetivo profissional é ganhar dinheiro.

Ah, para que não haja confusão, não estou pedindo que o senhor seja o meu patrão. Como eu sou de Pelotas, tenho que conviver diariamente com piadas que me taxam de "viadinho", e trabalhar no setor das renas apenas pioraria a situação.

O senhor poderia me alocar no setor de fabricação dos presentes, onde eu seria colega dos duendes, mas isso só pioraria a minha naniquice. Ademais, tenho informações que o sindicato deles é uma baderna sem tamanho. Isso sem contar que, apesar de eu ser do sul do Brasil, tenho uma séria aversão a frio, porque é um tipo de temperatura que me obriga a usar cinco vezes mais roupas que o usual. Sinto calafrios só de imaginar na vestimenta que teria de usar se eu trabalhasse no Pólo Norte com o senhor.

Um afetuoso abraço do seu cabeludo amigo.