quarta-feira, 13 de abril de 2011

O otimismo do pessimista

Carlos era tão pessimista, mas tão pessimista, que era muito incompreendido quando resolvia ser um pouco otimista.

- Não te entendo, Carlos.
- É simples, cara. Eu vou passar nesse concurso público. Vou ficar entre os primeiros e vou ser chamado logo. Estou otimista, confiante.
- Tá, tudo bem, mas por que se inscrever para concorrer à vaga de deficiente físico?
- É que até lá eu já sofri um acidente e já fiquei paraplégico.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sobre insetos e aranhas

Tem gente que diz que devemos respeitar a natureza. Ok, até concordo. Mas não tem como respeitar insetos.

Imagina aí um almoço em família. A mesa repleta dos mais variados quitutes, e eis que surge uma mosca. Ela voa daqui até ali, dali até acolá, espalhando seus germes fecais inocentemente, enquanto todos os membros da família abanam a mesa, tentando afastar o inseto que não foi convidado. Não tem como respeitar uma mosca. É chato. Incomoda demais. Mas, nesse caso, prefiro pensar pelo lado positivo: ainda bem que é uma mosca. Podia ser um rinoceronte com asas.

Eu, como todo mundo, respeito abelhas - mas na verdade não deveria. Somente 1 tipo de pessoa gosta deliberadamente de abelhas: o apicultor. Ao resto de nós, convém respeitar. Alguém já viu um protesto de apicultores? É claro que não. O governo jamais se arriscaria a deixar apicultores descontentes, porque eles certamente tacariam as abelhas pra cima de todo mundo. Abelha é um bicho muito provalecido: nós não podemos incomodá-las, mas elas se acham no direito de zumbir perto da nossa cara, com aquele terrível, ameaçador e descontrolado ferrão. E se a incomodarmos por isso (ou por bem menos que isso), a abelha chama a colmeia inteira para nos fuzilar - basta ver uma das cenas mais tristes da história do cinema, em "Meu primeiro amor".

Também não respeito baratas. Não dá pra respeitar um bicho que, além de voar com as próprias forças, tem a pachorra de sobreviver a altas doses de radiação ou mesmo a uma guerra nuclear. A maior prova disso dá-se quando tentamos matar baratas utilizando inseticidas. Podem observar: baratas morrem por comer Detefon até explodir, ou então morrem devido ao peso do que lhe borrifam, mas jamais morrem envenenadas. Envenenados saímos nós.

O pior é que, de uns tempos pra cá, as baratas parecem ter tomado consciência dessa condição de "invencíveis" - sabe-se lá como. Elas já não têm o menor respeito pelos humanos. Quando detectamos a presença de uma barata, nosso cérebro, de forma instantânea e automática, programa nosso corpo para trucidá-las. Acontece que, antes que esta decisão esteja sacramentada (o que dura meio micronésimo de segundo, quando muito), a barata já está nos encarando, ciente de sua "invencibilidade". Está pronta para nos encarar, pensando "se eu aguento radiação, esse humano babaca é fichinha". Encarna Davi e enxerga Golias em nossa pele. E eu nem sabia que as baratas haviam sido catequizadas.

Mas não é só isso. Perguntem à minha mãe, que não me deixará mentir: há coisa de 1 semana, avistamos 2 baratas copulando no muro de casa, enquanto as tarefas domésticas eram executadas. Assim, sem a menor cerimônia. Elas não estavam nem aí pra gente. E o pior: copulavam, como já disse, no muro! Desafiavam a gravidade e tinham o prazer de se reproduzir desavergonhadamente num ato só. Logicamente, foram mortas com o peso do SBP.

Elas sobrevivem a altíssimos níveis de radiação, a uma possível guerra nuclear, e só por causa dessa bobagenzinha à toa se acham invencíveis, a ponto não apenas de nos chamar para uma briga, mas de copular sem respeitar nem a lei da gravidade, quanto mais seres humanos. É por isso que eu as mato: para ensiná-las boas maneiras. Para mostrar quem manda por aqui.

Também não respeito aranhas. Aos que usarão minha naturalidade pelotense para disparar piadinhas contra mim, previno-me: estou me referindo aos artrópodes de oito patas. E eis aí um bom motivo para eu não respeitá-las. Aranhas controlam graciosamente nada menos do que OITO pernas. Eu, por vezes, me esborracho no chão utilizando míseras duas pernas, que são absolutamente incontroláveis e até mesmo inúteis quando estou bêbado.

Mas não é só isso. Outro dia, uma aranha quase me causou um grave e talvez irreversível dano psicológico. Era um belo início de tarde e, sabe Deus como, uma bruxinha (chamada em outras querências de mariposa, um dos poucos insetos que, embora feia de doer, eu respeito) adentrou meu quarto, mais perdida que surdo em bingo. "Coitada", pensei com meus botões, "se perdeu! Vou abrir a janela, pra ver se ela toma o rumo da rua, da liberdade!". E é provável que a bruxinha tenha lido meu pensamento, porque tão logo abri a janela, ela voou serelepe em direção à rua, agradecendo-me.

O que nem Mister M explica é como uma aranha do tamanho de uma bola de pingue-pongue é capaz de viver no vão de uma janela sem que ninguém saiba. Distraída devido à faceirice de ter recebido a liberdade de mim, a bruxinha voou próxima demais do vão da janela. E no meio do caminho havia uma aranha. Havia uma aranha no meio do caminho. Estupefato, assisti o cruel aracnídeo saltar sobre o inseto voador, aplicando-lhe um gracioso e imbatível mata-leão com suas oito patas. Foi assim que eu soube que uma aranha morava comigo.

E eu fiquei com um peso na consciência. Eu era responsável direto pela morte de uma serelepe e esvoaçante bruxinha. Tão abalado fiquei que, enquanto a aranha injetava seu veneno na bruxinha, fui desabafar com minha mãe.

- Mãe! Uma inocente bruxinha está morta! Ela jamais poderá balançar asas livremente pelos ares! E é tudo culpa minha! - Chamei-a para mostrar a aranha assassina, que ainda estava agarrada à vítima, que por sua vez foi entregue de bandeja por mim. Infortúnio dos infortúnios!

Daí minha mãe mostrou o respeito que devemos ter por aranhas e insetos: pegou um papel higiênico, esmagou a aranha com bruxinha e tudo e atirou pela janela. É isso aí, mãe!