quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Time sem vergonha (I)

Eu tenho um talento inútil: sei muitos hinos de times de futebol. Inteiros ou excertos, não importa, desde "eu sou Goiás Esporte Clube, eu sou Goiás, eu sou Goiás e vou gritar", ou "Atlético! Atlético! Conhecemos teu valor! E a camisa rubro-negra só se veste por amor!", ou "e a torcida reunida até parece a do Fla-Flu, Bangu, Bangu, Bangu", até hinos inteiros como os do Inter e o do Brasil de Pelotas: eu sei hinos demais. Um dos meus preferidos é o do Fluminense. Acho que só não é o hino mais bonito do Brasil por um único defeito: o próprio Fluminense. Dentre todos os hinos, o do Fluminense é aquele que menos combina com o próprio clube. E não me refiro à parte que diz clube que orgulha o Brasil, retumbante de glórias e vitórias mil, afinal o Fluminense, dos grandes clubes brasileiros, é o que tem menos títulos internacionais - ganhar ou perder faz parte do esporte.

Sou tricolor de coração, sou do clube tantas vezes campeão... é um ótimo início, simples e direto. Mas logo a seguir ele começa a destoar: é impossível cantar fascina pela sua disciplina sem imaginar o João Kléber saltando do teto aos berros de "pára pára pára pára!"

Rebaixado pela primeira vez em 1996, o Fluminense se aproveitou de um esquema de corrupção no futebol (que veio à tona somente em 1997) para se livrar da Série B de 1997 na marra. Sem merecimento, jogou novamente a Série A em 1997 - onde, sem futebol decente, foi novamente rebaixado. Dessa vez sem esquema de arbitragem pra ajudar, o clube jogou a Série B em 1998 e, como jogou novamente sem futebol decente, foi rebaixado à Série C, que jogou em 1999 com um futebol minimamente decente, sagrando-se campeão e credenciando-se para disputar a Série B. Mas disputou o equivalente à Série A na estapafúrdia Copa João Havelange de 2000, pulando etapas como o Mario achando as flautas mágicas no Super Mario Bros 3. E agora, em 2013, apenas 1 ano depois de ter sido campeão nacional (com muita ajuda da arbitragem) e novamente sem futebol decente, o Fluminense foi novamente rebaixado. Mas pelo visto vai escapar, porque sem mais essa nem aquela, descobriram por algum acaso misterioso da vida que um outro clube usou um jogador que não podia jogar um jogo.

Ah, Fluminense, tenha dó. Quem foge das consequências da derrota é incapaz de fascinar pela disciplina.

Lá pelas tantas o hino do Fluminense diz vence o Fluminense, com o verde da esperança... esperança? Pode ser verde de dólar, de real, de euro. Verde da logomarca da Unimed. Pode ser até verde de maconha. Mas "esperança"? Tamanha covardia em assumir a própria fraqueza não está nem perto de ser sinônimo de "esperança". Pois quem espera sempre alcança. Puxa cara, devia ter lembrado disso quando ganhou a Série C. Foi mais apressado que o Ronaldo pedindo a Daniela Cicarelli em casamento.

Que tal um hino novo, Fluminense? Um que combine com o clube? "Sou tricolor de coração, sou do clube que adora tapetão" me parece um ótimo início.

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