quarta-feira, 15 de maio de 2013

Uma vez Lara Croft, eternamente Lara Croft

O dia de ontem, 14 de maio de 2013, foi marcante na história da humanidade - talvez tanto quanto aquele dia lá que dois aviões derrubaram uns tais prédios grandões nos Estados Unidos. E é marcante nem tanto pela polêmica ausência de Ronaldinho na convocação que Felipão fez para a Copa das Confederações, mas pela corajosa decisão de Angelina Jolie: ela resolveu extrair os próprios seios para evitar que desenvolvesse câncer de mama.

Quem nunca viu, não vê mais

Dá até pra pensar que enquanto 10 em cada 10 jornalistas especializados vociferavam contra a ausência de Ronaldinho Gaúcho na Seleção, o protesto mais impressionante foi o da Angelina Jolie, que provavelmente deve ter pensado "já que ele não vai jogar, não vou precisar disso aqui". Mas não: o caso é que, após uma análise genética, ela descobriu que tem 87% mais chances de desenvolver câncer de mama (além de 50% mais chances de desenvolver câncer de ovário).

Como atriz hollywoodiana que é, ela poderia confiar nos 13% e, se fosse o caso, extirpar um pedaço de teta caso um câncer aparecesse para, posteriormente, ser capa de revistas no mundo inteiro como "o símbolo sexual que venceu o câncer" - o que seria incrível, por sinal. Mas ela foi além: agora ela é assunto mundial por ser o símbolo sexual que prioriza a própria saúde, deixando a própria imagem em segundo plano.

Vejam bem: ser ator ou atriz de Hollywood significa, segundo dados do IECA (Instituto Egídio de Chutômetro e Achismo), ter no mínimo 50% de seus vencimentos adquiridos através da própria imagem. Isso significa ter corpão, rosto bonito e enfim, tudo aquilo que eu não tenho. Eis que uma das mais bem sucedidas atrizes hollywoodianas de todos os tempos e símbolo sexual de igual magnitude resolveu abrir mão de um dos maiores símbolos de feminilidade (não, salto alto e batom não estão na lista) em prol da própria saúde. Angelina Jolie, que depende da própria imagem pra ganhar o que ganha, abriu mão dos próprios seios.

E mais que símbolo de feminilidade, os seios são importantíssimos na autoconfiança da pessoa. Não é à toa que mulheres que vencem um câncer de mama sentem-se intimidadas, diminuídas, envergonhadas do próprio corpo. Não é incomum que achem que seus parceiros jamais voltarão a sentir atração física por elas: sentem-se mutiladas.

Em alto e bom tom, um dos maiores símbolos sexuais do mundo disse: "não quero meus seios, prefiro minha saúde". "Dane-se minha imagem, prefiro que minha família não sofra o que eu sofri por ver minha mãe lutar 10 anos contra um câncer". "Numa observação pessoal, eu não me sinto menos mulher. Sinto-me fortalecida por ter feito uma escolha corajosa que de nenhuma maneira diminui a minha feminilidade." Esse último período entre aspas ela disse mesmo, no artigo que escreveu ao The New York Times.

É evidente que minha comparação dessa data com o 11 de setembro, lá no início do texto, não tem lá muito sentido. Mas o fato é que é, sim, uma data marcante na história da humanidade. Em tempos que uma tal funkeira quer chamar a atenção colocando tudo o que puder de silicone e exibindo o corpo por aí; em tempos que uma fulana quer capitalizar o máximo possível por ser vice - vice! - Miss Bumbum; em tempos que uma beltrana quer que todos olhem como ela fez um sem-número de plásticas pra ficar bonita; em tempos, enfim, que tantas mulheres querem que a mídia exalte suas belezas - duvidosas -, um dos maiores símbolos sexuais da história expõe, pra quem quiser ver e da maneira mais soberba possível, que prefere a alegria dos filhos, o carinho do marido, a tranquilidade de uma boa saúde... enfim, expõe que a beleza que mais lhe importa é a da vida.

Ao tirar os seios, Angelina Jolie prova que pode tirar até as próprias pernas que vai continuar sendo mais atraente que uma Geisy Arruda da vida.

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