Dá até pra pensar que enquanto 10 em cada 10 jornalistas especializados vociferavam contra a ausência de Ronaldinho Gaúcho na Seleção, o protesto mais impressionante foi o da Angelina Jolie, que provavelmente deve ter pensado "já que ele não vai jogar, não vou precisar disso aqui". Mas não: o caso é que, após uma análise genética, ela descobriu que tem 87% mais chances de desenvolver câncer de mama (além de 50% mais chances de desenvolver câncer de ovário).
Como atriz hollywoodiana que é, ela poderia confiar nos 13% e, se fosse o caso, extirpar um pedaço de teta caso um câncer aparecesse para, posteriormente, ser capa de revistas no mundo inteiro como "o símbolo sexual que venceu o câncer" - o que seria incrível, por sinal. Mas ela foi além: agora ela é assunto mundial por ser o símbolo sexual que prioriza a própria saúde, deixando a própria imagem em segundo plano.
Vejam bem: ser ator ou atriz de Hollywood significa, segundo dados do IECA (Instituto Egídio de Chutômetro e Achismo), ter no mínimo 50% de seus vencimentos adquiridos através da própria imagem. Isso significa ter corpão, rosto bonito e enfim, tudo aquilo que eu não tenho. Eis que uma das mais bem sucedidas atrizes hollywoodianas de todos os tempos e símbolo sexual de igual magnitude resolveu abrir mão de um dos maiores símbolos de feminilidade (não, salto alto e batom não estão na lista) em prol da própria saúde. Angelina Jolie, que depende da própria imagem pra ganhar o que ganha, abriu mão dos próprios seios.
E mais que símbolo de feminilidade, os seios são importantíssimos na autoconfiança da pessoa. Não é à toa que mulheres que vencem um câncer de mama sentem-se intimidadas, diminuídas, envergonhadas do próprio corpo. Não é incomum que achem que seus parceiros jamais voltarão a sentir atração física por elas: sentem-se mutiladas.
Em alto e bom tom, um dos maiores símbolos sexuais do mundo disse: "não quero meus seios, prefiro minha saúde". "Dane-se minha imagem, prefiro que minha família não sofra o que eu sofri por ver minha mãe lutar 10 anos contra um câncer". "Numa observação pessoal, eu não me sinto menos mulher. Sinto-me fortalecida por ter feito uma escolha corajosa que de nenhuma maneira diminui a minha feminilidade." Esse último período entre aspas ela disse mesmo, no artigo que escreveu ao The New York Times.
É evidente que minha comparação dessa data com o 11 de setembro, lá no início do texto, não tem lá muito sentido. Mas o fato é que é, sim, uma data marcante na história da humanidade. Em tempos que uma tal funkeira quer chamar a atenção colocando tudo o que puder de silicone e exibindo o corpo por aí; em tempos que uma fulana quer capitalizar o máximo possível por ser vice - vice! - Miss Bumbum; em tempos que uma beltrana quer que todos olhem como ela fez um sem-número de plásticas pra ficar bonita; em tempos, enfim, que tantas mulheres querem que a mídia exalte suas belezas - duvidosas -, um dos maiores símbolos sexuais da história expõe, pra quem quiser ver e da maneira mais soberba possível, que prefere a alegria dos filhos, o carinho do marido, a tranquilidade de uma boa saúde... enfim, expõe que a beleza que mais lhe importa é a da vida.
Ao tirar os seios, Angelina Jolie prova que pode tirar até as próprias pernas que vai continuar sendo mais atraente que uma Geisy Arruda da vida.
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