terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A mulher da academia

Eu não tenho sorte com mulheres. Na verdade eu não sei dizer se o fator sorte influencia nesses casos, mas eu gosto de pensar assim. Em primeiro lugar porque é interessantíssimo ter algo ou alguém com quem dividir a culpa de uma incompetência própria; em segundo lugar, porque eu sou compelido a pensar assim graças a tantos fatos da minha vida - como esse que aconteceu num sábado não tão distante.

Eu estava chegando em um bar, como sempre faço aos sábados. E nas sextas. E em quantos dias mais me permitirem. Enfim, cheguei e logo que entrei vi uma moça que malha na mesma academia que eu, muito bonita - a moça, não a academia. Nos cumprimentamos alegremente, beijo no rosto, aquela coisa toda.

- E aí, não fosse na academia hoje! - afirmou ela, cheia de convicção. A academia funciona nos sábados pela manhã, então ela estava certíssima. É lógico que eu não tinha ido. Arrisco dizer que eu nem sequer exista num sábado de manhã, quanto mais com saúde suficiente para ir até a academia. Mas ela não merece ser criticada por isso. Cada um com suas loucuras.

- Eu era a única mulher lá! - ela emendou.

Vejam bem. Atentem para a afirmativa. Eu poderia ter me compadecido da moça, dizendo "tadinha, deve ter se sentido deslocada". Eu poderia ter rido dessa afirmação, como se ela tivesse feito alguma referência a qualquer frequentadora lésbica da academia. Eu poderia até ter interpretado essa afirmação como um convite para uma orgia sexual onde ela era o único elemento feminino, como se aquela fosse uma academia que servisse de cenário para um filme pornô de baixo orçamento, onde o único exercício praticado é a interação carnal sem pudores. "Eu era a única mulher lá, da próxima vez tu vai que aí..."

Mas não. Eu resolvi emendar uma piadinha besta:

- Bom, mas tu sabes que, se eu tivesse lá, tu continuarias sendo a única mulher né?

Admita que este foi um pensamento sagaz o suficiente pra te arrancar um... sorrisinho, que seja. Eu esperei que ela risse, mas ela não riu. Ao invés disso, ela direcionou os olhos para o nada (que naquele momento estava em algum ponto da parede) e, com uma cara de quem faz uma descoberta, entre séria e surpresa, respondeu:

- Ih, é mesmo...

"É mesmo". De todas as mulheres do bar, eu estava falando com a única que, graças a um comentário jocoso meu, percebeu que eu não sou mulher e que ela continuaria sendo a única mulher na academia se eu estivesse lá. É mesmo, ela continuaria sem ter com quem conversar sobre cólicas menstruais ou trocar dicas sobre esmaltes e bons exercícios para glúteos.

Não tenho sorte com mulheres.

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