Eu não tenho sorte com mulheres. Na verdade eu não sei dizer se o fator
sorte influencia nesses casos, mas eu gosto de pensar assim. Em primeiro
lugar porque é interessantíssimo ter algo ou alguém com quem dividir a
culpa de uma incompetência própria; em segundo lugar, porque eu sou
compelido a pensar assim graças a tantos fatos da minha vida - como esse
que aconteceu num sábado não tão distante.
Eu estava chegando
em um bar, como sempre faço aos sábados. E nas sextas. E em quantos dias
mais me permitirem. Enfim, cheguei e logo que entrei vi uma moça que
malha na mesma academia que eu, muito bonita - a moça, não a academia.
Nos cumprimentamos alegremente, beijo no rosto, aquela coisa toda.
-
E aí, não fosse na academia hoje! - afirmou ela, cheia de convicção. A
academia funciona nos sábados pela manhã, então ela estava certíssima. É
lógico que eu não tinha ido. Arrisco dizer que eu nem sequer exista num
sábado de manhã, quanto mais com saúde suficiente para ir até a
academia. Mas ela não merece ser criticada por isso. Cada um com suas
loucuras.
- Eu era a única mulher lá! - ela emendou.
Vejam
bem. Atentem para a afirmativa. Eu poderia ter me compadecido da moça,
dizendo "tadinha, deve ter se sentido deslocada". Eu poderia ter rido
dessa afirmação, como se ela tivesse feito alguma referência a qualquer
frequentadora lésbica da academia. Eu poderia até ter interpretado essa
afirmação como um convite para uma orgia sexual onde ela era o único
elemento feminino, como se aquela fosse uma academia que servisse de
cenário para um filme pornô de baixo orçamento, onde o único exercício
praticado é a interação carnal sem pudores. "Eu era a única mulher lá,
da próxima vez tu vai que aí..."
Mas não. Eu resolvi emendar uma piadinha besta:
- Bom, mas tu sabes que, se eu tivesse lá, tu continuarias sendo a única mulher né?
Admita
que este foi um pensamento sagaz o suficiente pra te arrancar um...
sorrisinho, que seja. Eu esperei que ela risse, mas ela não riu. Ao
invés disso, ela direcionou os olhos para o nada (que naquele momento
estava em algum ponto da parede) e, com uma cara de quem faz uma
descoberta, entre séria e surpresa, respondeu:
- Ih, é mesmo...
"É
mesmo". De todas as mulheres do bar, eu estava falando com a única que,
graças a um comentário jocoso meu, percebeu que eu não sou mulher e que ela
continuaria sendo a única mulher na academia se eu estivesse lá. É
mesmo, ela continuaria sem ter com quem conversar sobre cólicas
menstruais ou trocar dicas sobre esmaltes e bons exercícios para
glúteos.
Não tenho sorte com mulheres.
.
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
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