sexta-feira, 11 de julho de 2008

O grande momento havia chegado. E o chinês Maik Tai-Son estava mais nervoso que estudante fazendo vestibular pra Medicina.

Também, pudera: foram meses de preparação para aquela revanche. A primeira luta entre Tai-Son e o hindu naturalizado holandês Van Der Holyfield acabou com a derrota inesperada do chinês. Quis lutar de novo. E nos meses de preparação, melhorou seu repertório de chutes e socos que o boxe chinês exige. Melhorou a resistência física também.

O problema é que continuou um imbecil completo.

O empresário luso-colombiano Don King foi quem anunciou a revanche. Seus olhinhos puxados, herança japonesa de ninguém sabe quem, radiavam uma monetária alegria: a luta entre Maik Tai-Son e Van Der Holyfield, o novo embate do século daquela semana prometia fortes emoções. E fortes dinheiros: cada um dos lutadores ganhariam um valor próximo do PIB equatoriano, enquanto Don King, com todo o seu talento de... de... talento de... bom, algum talento ele deve ter. Porque a ele coube a outra metade do valor da luta.

O ritual da luta teve início com aquele tradicional cumprimento japonês: os dois se curvando levemente, um de frente pro outro. O juiz da luta falou alguma baboseira e nenhum dos dois deu importância. Não entendiam o russo.

E se inicia o primeiro round! Os adversários se estudam, mas isso é boxe chinês e não xadrez chinês. Então Tai-Son parte para o ataque! O chute voador girado passa em branco, bela esquiva de Van Der Holyfield! Ele tenta a resposta com um cruzado de esquerda. Quer agradar o comunismo, talvez. O fato é que não pega em cheio: Maik Tai-Son coloca o cotovelo na frente e cambaleia, parecendo um ganso manco. Ele se recupera, após dar uma cambalhota no ar. Coisa de dar inveja ao balé de Jackie Chan. Cai em base errada e cambaleia novamente, mas dessa vez parecendo um pingüim reumático.

Eu sempre ouvi falar que essas artes marciais tinham a ver com animais. Só não sabia que era tanto.

Alguns clinches depois, o primeiro round acaba. Maik Tai-Son parece um pouco desnorteado e irritado. Mas que estúpido, senhoras e senhores! Na platéia, temos um Daniel-San decepcionado! Do outro lado, Van Damme Dragão Branco Gretchen ri e faz gestos. Parece mostrar a alguém como Van Der Holyfield deveria ter se portado no ringue.

A gostosa com a plaqueta de "Round 2" acaba de sair do ringue. Van Der Holyfield não perde tempo e pergunta se a guria tem telefone, mas soa o gongo e a luta reinicia! Tai-Son aparenta estar desconcentrado, mas não se sabe o porquê. Vários clinches, a luta precisa ser interrompida várias vezes. Van Der Holyfield parece estar apaixonado, senhoras e senhores! Entre tapas e beijos, Maik Tai-Son está devidamente emputecido e tenta dar uns tabefes doidos em Holyfield! Erra todos! Ele tenta acertar um chute de viado à lá Liu Kang agora, mas Van Der defende! É escanteio! Digo, acaba o segundo round!

Maik aparenta muito nervosismo. Enquanto isso, na platéia, Don King não ri. Talvez tenham lhe contado uma piada de luso-colombiano. Talvez ele queira o telefone da morena que tá passando com a plaqueta de "Round 3". Esse povo não perde tempo, hein?

Por falar em perder tempo, já começou o terceiro round! Olha que lindo chute de Van Der Holyfield! Passa em branco, mas Maik Tai-Son responde com uma seqüência de socos que arranca aplausos das Tartarugas Ninja! Alguém grita "kowabanga", ao mesmo tempo que acontece outro clinche. O juiz evita chegar perto e... inacreditável! Tai-Son mordeu a orelha de Holyfield, senhoras e senhores! O hindu-holandês sapateia tresloucadamente! Tentam voltar ao combate agora, mas Tai-Son morde a orelha novamente! O ringue está uma baderna, senhoras e senhores! Chamaram a mãe de alguém de charreteira, e isso é palhaçada!

Tai-Son acaba de dizer que fez isso por ciúmes!

- Eu ia pedir o telefone da gostosa primeiro! Era esse o combinado! Van Der Holyfield foi um babaca!
- Mas, Maik, tem outras gostosas aí e...
- Ih, é? Porra, que merda...

É incrível a quantidade de emoções que o boxe chinês nos reserva, meu povo!

E tudo isso depois de alguém afirmar, na minha frente, que precisa voltar a fazer boxe chinês.
blog comments powered by Disqus