sexta-feira, 13 de março de 2009

Tirinhas "boas"

Conceituar "arte" é um negócio bem difícil. Eu conheço pessoas que não gostam de puxar a descarga no vaso porque consideram ter feito uma obra de arte digna de ser exposta no Museu do Louvre, com o título "Restos de um outrora almoço".

Isso torna tudo mais difícil para um futuro artista. Um dos meios para descobrir se o seu filho tem talento pra fazer arte (desconsiderando "quebrar o vaso do meio da sala com um taco de beisebol roubado do vizinho" como arte) é o desempenho dele nas aulas de Educação Artística no colégio.

Acredite, aquela coisa toda de fazer um trabalhinho de argila ou um desenho bonito para dar de presente no Dia dos Pais tem o seu valor. É através desse tipo de coisa que saberemos se aquela criança será capaz de nos dar belas obras de arte ou vai cagar suas obras internet afora. Vocês já imaginaram se os desenhos do pequeno Walt não tivessem lhe dado uma boa nota em Educação Artística no colégio? Eu já. Ele acabaria criando um fotolog para desovar suas sandices de paintbrush e nós jamais teríamos a Disney.

Afinal de contas, a internet possibilitou que todos os artistas e os nem-tão-artistas-assim mostrassem ao mundo ou aos amigos do colégio todo o talento (ou a falta dele) que possuem.

Saber desenhar uma tirinha cômica, por exemplo. Isso não é novidade. O grande Luís Fernando Veríssimo já disse que criou "As Cobras" porque é um péssimo desenhista, e cobras são fáceis de desenhar. Com o advento da internet, surgiu a obra de André Dahmer, que ele chamou de "Malvados". O desenho é ruim, mas o cara tem senso de humor e inteligência o suficiente pra fazer rir com 3 ou 4 quadrinhos. Sem a internet, talvez jamais veríamos a obra do cara.

(E não que eu seja um entendido do humor. Até porque eu não pago imposto pra rir. Há quem diga que já me viu rindo durante um programa da Zorra Total, mas como não há vídeos comprovando isso, eu sigo negando até o fim. E mesmo esse conceito de humorista também é muito variável. O Carlos Alberto de Nóbrega, por exemplo, é chamado de humorista, e não de velho de praça.)


O problema é que a obra do Dahmer é meio que um oásis na Lua. Tempos depois do Malvados surgiu um negócio chamado de "Cyanide & Happiness". Não creio que haja uma influência entre os dois, mas é quase impossível não pensar que o criador do C&H tenha visto uma tirinha do Malvados e pensado "gostei, acho que vou fazer isso também. Burp".


Ria se puder

Quando um amigo me falou que achava isso muito engraçado, eu cheguei a acreditar que estava com um mau humor terrível e radioativo. Ainda mais quando segui vendo as tirinhas do C&H e continuava impassível. Não conseguia esboçar o menor sorriso amarelo. Ou verde. Sei lá, mas meus dentes estão bem sujos do chimarrão.


Até o Greenpeace riu hein?

E isso criou um efeito cascata impossível de ser freado. A influência da Zorra Total é alarmante.



Terrível até pra enxergar

De modo que eu temo pelo futuro das tirinhas. Imagino-me um dia lendo uma tirinha e querendo que Edgar Allan Poe ressuscite e aprenda a desenhar para que eu ria um pouco.
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