Talvez vocês não saibam, mas na minha juventude futebolística eu era alguém equivalente ao David Beckham. Cobrava no máximo duas faltas por jogo e fazia todo mundo acreditar que eu era craque. A diferença é que, ao contrário do Beckham, eu nunca fui exatamente bonito ou rico casado com algo que sobrou das Spice Girls.
Os caminhos da vida me afastaram dos campos e me colocaram na condição de ex-futuro craque, coisa bastante comum no Brasil. Qualquer comentarista de futebol é um ex-futuro craque: entende pra dedéu do esporte e sempre faria melhor do que um jogador profissional, mesmo que a barriga denuncie que o cara sempre foi uma desgraça esportiva completa.
Como um comentarista ex-futuro craque, seguidamente eu paro pra pensar bobagens. Tipo, vocês já pararam pra pensar o que aconteceria se o Maradona ainda estivesse na ativa? Seguidamente eu paro pra pensar nisso. Até parece que eu não tenho mais o que fazer.
Maradona é a personificação da polêmica. E eu penso que, se ele estivesse na ativa, conseguiria ser ainda mais polêmico.
Uns dizem que o Maradona foi um dos melhores jogadores da história. Eu discordo, em parte. Na minha opinião, ele corria incansavelmente atrás de uma branca - que era a bola. Lá pelas tantas parava de correr, chutava a tal branca - que era a bola - e dizia "Quer saber? Eu nem queria te usar mesmo."
Don Diego se juntaria à outra polêmica atual: parar. Não estou falando da branca - que era a bola -, seja lá qual for o sentido que vocês deram pra esse termo. Falo da hora da cobrança do pênalti.
O pênalti é um momento mágico do futebol. Diz o velho ditado que "é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube", de onde se deduz que, em caso de jogos entre seleções nacionais, o pênalti deveria ser batido pelo presidente do país. E aí teríamos um cardápio de grandes batedores de pênalti: Lula, Hugo Chávez, Bush, Evo Morales, Nicolas Sarkozy... será que Maradona deixaria Cristina Kirchner bater uma penalidade?
Pênalti glorifica heróis, cria mitos e vilões. Foi de pênalti que Pelé marcou seu milésimo gol, do mesmo jeito que Romário marcou o seu centésimo tento, ao qual ele acrescentou um zero e chamou-o de "milésimo gol". E foi por causa daquele inesquecível pênalti de Roberto Baggio que Galvão Bueno criou o bordão-berrão "É tetra" e se transformou na mala mística que é.
Pênalti é praticamente uma arte. Porque há diversas formas artísticas de se cobrar um pênalti. A minha preferida é aquela onde o jogador corre de um jeito que a gente pensa que ele vai dar uma paulada, mas ele dá um mísero e humilhante toquezinho. Há também a paradinha, imortalizada pelo já citado Pelé.
Mas, como qualquer outra arte, o pênalti também tem seus hereges. Atualmente, os jogadores fingem que chutam para que o goleiro caia para um lado e, assim, batem no outro. Eu chego a torcer para que esses jogadores quebrem o pé na hora da cobrança, mas isso nunca acontece.
Dizem que isso é uma paradinha, mas não é. Isso é uma canceladinha. Isso é coisa de quem não domina a arte de cobrar pênaltis. Até Martin Palermo faria gol com canceladinha. E olha que, se pênalti fosse religião, Palermo poderia ser queimado em praça pública.
Estou pra dizer que até Cristina Kirchner acertaria um pênalti com canceladinha em um Brasil x Argentina.
Isso se o Maradona deixasse, claro.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
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