sábado, 12 de abril de 2008

Apocalipse animado

Sobre programas de tv: "Desenhos em geral. Em geral umas pivica, curto desenhos idiotas e bem infantis mesmo". Tá lá no meu perfil orkútico, pra quem quiser ver. É quando eu admito, na maior cara de pau, que sou um infantilóide de barba.

A minha definição de "desenhos idiotas e bem infantis" é a seguinte: um personagem persegue outro e, invariavelmente, se estrepa com maestria. Um roteiro simples, direto e absolutamente infalível. Exemplos: Tom & Jerry, Papaléguas e Esquadrilha Abutre.

(Aliás, cabe um parêntese: certa vez eu vi uma tradução onde o Coyote do Papaléguas tinha virado "Lobobão". Quero dizer que essa foi a tradução mais loucamente imbecil que eu já vi. Obrigado.)

É lógico que eu gosto de desenhos mais elaborados. He-Man (a She-Ra e a Teela eram bem gostosinhas) e ThunderCats, por exemplo. Simpsons, pra mim, é o máximo de elaboração que um roteiro deve chegar. Mais do que isso já vira filme cult europeu.

A maioria desses desenhos saíram de cena e deram lugar a outros de gosto, no mínimo, duvidoso. De início eu não me importei muito: A Vaca e o Frango, Eu Sou o Máximo, Du, Dudu e Edu eram aceitáveis, a despeito de lembrarem muito meus trabalhinhos artísticos do pré-primário. Teve uma vez que me bateu uma depressão desgraçada por isso, aliás. Perdi uma grana e tanto por não ter lançado nenhuma animação com aqueles trabalhinhos que a professora, bondosamente, assinava com um "regular". Se ela pudesse ser sincera com crianças de 5 anos, ela escreveria "Cacete, já pensou em decepar as mãos, querido?".

Mas, a bem da verdade, quando uma esponja de banheiro resolve habitar o fundo do mar, vestir calças quadradas e se relacionar com siris e lulas, alguma coisa tá errada. Dizem que a junção de um roteiro desses com aqueles desenhos tosquíssimos foi prevista no Evangelho de São Disney como parte do apocalipse, mas essa informação foi brutalmente censurada pela Igreja. Tal qual o resto do dito evangelho, por sinal. Egídio também é cultura.

Conferindo os desenhos atuais, pude constatar essa idéia. Em um trabalho árduo, pesquisei aqui e ali e, com a autoridade em desenhos que nunca me foi concebida, identifiquei e elegi os cavaleiros do apocalipse. Ei-los:


As terríveis aventuras de Billy e Mandy


Sinopse: "A história se inicia quando Puro-Osso entra na casa de Billy para ceifar a alma de seu hamster, mas Mandy não deixa, e desafia Puro-Osso a um jogo de limbo, se Billy e Mandy ganhasse, ficaria com o hamster e Puro-Osso seria amigo deles para sempre, se Puro-Osso ganhasse ficaria com o hamster. Billy e Mandy vencem um desafio no Reino do Limbo contra o representante da morte, Puro Osso."

Se isso não é a imagem do apocalipse, eu não sei mais o que é. Olhar a abertura do desenho foi uma tarefa hercúlea da minha parte. Trata-se do tal Puro Osso - que nada mais é do que a Morte - tentando se matar. Eu fico imaginando que tipo de cocô o criador do desenho comeu e o porquê de ele não ter tentado fazer a mesma coisa que Puro Osso.

Por sinal, acabou de passar uma propaganda desse desenho. O nariz de Billy tremia loucamente e ele ria, até que ele resolve enfiar O PUNHO dentro do nariz e retirar um celular - que, vejam que brilhante idéia, estava tocando dentro do orifício nasal do personagem. Ele oferece o aparelho cheio de tatu para Puro Osso, dizendo "é pra você". Eu não sei nem o que dizer pra aloprar isso.


Mal Encarnado


Sinopse: "O desenho conta a história do maligno milionário Heitor Ado, que sempre teve como maior objetivo de conquistar o mundo. Heitor teve seu corpo destruído em uma explosão causada pelo seu arquiinimigo Comando Baks e apenas restou-lhe seu cérebro e estômago. O cérebro e a vida de Heitor foram salvos graças à um recipiente inventada por sua fiel cientista, Dra. Ruína Balística, que consiste em manter vivos cérebros humanos dentro de uma espécie de aquário com líquido especial. Desde então, usando como corpo o urso Boskov, Heitor continua incansavelmente a criar planos "atrapalhados" para a conquista mundial, com a ajuda de um numeroso exército de soldados comandados pelo General Cikatriz, que odeia Heitor Ado e quer destrui-lo."

Considero isso uma mistura de Frankstein com Pinky & Cérebro com Tartarugas Ninja. Que poderiam processar os criadores de Mal Encarnado por calúnia, difamação, roubo, furto, formação de quadrilha e homicídio sextuplamente qualificado. Ganhariam.


A Mansão Foster Para Amigos Imaginários


Sinopse: "O desenho conta a história de um menino de 8 anos chamado Mac, que foi obrigado de abandonar seu amigo imaginário porquê sua mãe já o achava que estava velho demais para ter-lo. Mac encontrou uma mansão que abrigava amigos imaginários abandonados para serem adotados novamente. A Mansão Foster é um local onde são abrigados vários amigos imaginários, que por algum motivo foram abandonados por seus criadores. Apenas uma exceção foi criada para o garoto Mac pela Madame Foster, com a obrigação de que o garoto venha visitar Bloo todos os dias, caso contrário ele será posto para a adoção."

O criador desse desenho é um prato cheio para psicólogos, psiquiatras e exorcistas. Se ele acha que uma mistura de mamute com touro bípede ou (como consta na Wikipedia) "uma mistura de coqueiro, avião e galinha que bota ovos de plástico coloridos com surpresas" pode ser o amigo imaginário de uma criança, dá pra imaginar o tipo de trauma infantil que um sujeito desses tem.

E quem já viu esse desenho há de concordar comigo: Queijo é, no mínimo, uma ofensa ao imaginário da classe infantil.


Kenny, o Tubarão


Sinopse: "Esta série de desenho animado apresenta Kenny, um tubarão que abandona as águas do oceano para investigar como é a vida em terra e se torna o mascote de Kat, uma menina de 9 anos que o leva para morar na sua casa."

Esse é o complemento da imagem do apocalipse: um tubarão saindo da água pra viver na terra. É tão insanamente ruim que eu prefiro acreditar em "excesso de liberdade poética" por parte do criador do desenho. Se ele foi inspirado no Tutubarão, eu não sei. Sei que só falta o Kenny voltar pra água e bradar "pessoas são amigas, não comida!" aos habitantes marítimos.

Eu poderia dizer também que eu não acompanhei a evolução do termo "desenhos idiotas e bem infantis", mas isso não dá um texto tão grande. O fato é que não se fazem mais desenhos imbecis como antigamente, o que faz com que eu me sinta um velho porco e saudosista falando assim.

E eu acabo de perceber que um porco velho e saudosista dá um ótimo personagem de desenho animado. Dá licença.
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