- Então doutor...
- Sim.
- Eu vim aqui porque... bem, estou com problemas com a minha amada esposa.
- Ótimo, ficarei satisfeito em ajudá-los. Mas...
- Mas o quê, doutor? Tem algum empecilho?
- É necessário que ela venha junto...
- Ah, então...
- ... afinal, eu sou terapeuta de casais.
- Exatamente. Esperava que o senhor pudesse me ajudar com isso também.
- Não entendi.
- Estou encalhadíssimo, doutor. Me arranja um casamento?
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Time sem vergonha (II)
Sou gaúcho de Pelotas - assim como era meu pai. Pelotenses têm orgulho de dizer que torcem fervorosa e exclusivamente para seus clubes (Brasil, Pelotas e Farroupilha) e não para os times de fora (Grêmio e Inter). Torcer para times de outros estados, então, é a mesma coisa que dizer que é alienígena. Meu pai era uma exceção: torcia para o Fluminense, para o Inter e para o Pelotas. Talvez por sangue, também fui exceção: torcia para Corinthians, Inter e Brasil de Pelotas. A minha história como torcedor é assim: um pouco exótica.
Eu torcia fervorosamente para o Corinthians, era meu time número 1. De verdade: comemorei feito uma besta o título "mundial" de 2000. Pior: quando Javier Castrilli marcou toque de mão do zagueiro da Portuguesa na semifinal do Campeonato Paulista de 1998, briguei com meio mundo dizendo que ele estava certo. Quando o time sofreu um pequeno acidente de avião na Venezuela em 1996, eu chorei.
Não sei explicar como deixei de torcer pelo Corinthians. Deve ter acontecido gradualmente. Sei que comecei a acompanhar mais os meus times daqui: o Inter e o Brasil de Pelotas. Quando percebi, não comemorei a contratação do Tevez no final de 2004. Porque torcedor tem disso: comemora até contratação. Eu não comemorei a do Tevez, tampouco reclamei. Simplesmente foi insossa pra mim. Foi quando percebi que já não era mais corinthiano.
E, se eu já não me escabelava pelo Corinthians, já tem um ou dois anos que eu já não me escabelo por futebol em geral. Talvez seja o efeito Mazembe, não sei. Sei que essa paixão fervorosa, típica de um torcedor, passou a ser, para mim, algo bobo. Não acho execrável: só não serve para mim. Continuo colorado e xavante, mas deixei de me estressar por causa de futebol e minha calvície agradece. E o que restou de gosto por futebol em mim está indo pras cucuias com essa patacoada entre entidades jurídicas desportivas e clubes de maior ou menor expressão, essa suruba que a Portuguesa foi e, como o seu conterrâneo Manuel, passaram-lhe a mão na bunda e ele não comeu ninguém. Essa confusão sepulta o pouco que restava de credibilidade do futebol brasileiro e que a Copa do Mundo não recuperará: apenas dará aos estrangeiros a ilusão de que nosso futebol merece respeito.
Acho que é melhor eu começar a simpatizar pelo futebol do exterior. Está bem distante e eu não recebo muitas notícias diárias deles. Já ando inclusive buscando alguns clubes para gostar mais. Acho que Borussia Dortmund e Arsenal me parecem uma escolha bacana.
Já meu pai, bem, não conheço histórias dele como torcedor. Sei que ele tentou fazer com que eu torcesse pelo Pelotas (tenho fotos com uma camiseta do time - camiseta que, por sinal, deve estar guardada até hoje) e que estava em Porto Alegre no dia do bicampeonato brasileiro do Inter. Quanto ao Fluminense, eu não sei. Não sei se ele foi ao Maracanã alguma vez para ver o time em ação. Quando eu fiz isso, em 12 de outubro de 2013, o Fluminense empatou com o Grêmio em 1 a 1 e eu não lembrei do meu pai por um só instante - nem quando comemorei o gol do Rafael Sóbis aos 45 minutos do segundo tempo. Estava mais preocupado em curtir o encantamento de estar no Maracanã e xingar o Kléber Gladiador. Mas sei que meu pai era torcedor do Fluminense, talvez tanto quanto eu era torcedor do Corinthians.
Meu pai morreu há 20 anos e, hoje, eu tenho mais vergonha de dizer que ele era torcedor do Fluminense do que dizer que eu torcia feito uma mula pelo Corinthians e que hoje talvez eu torça para Borussia Dortmund e Arsenal.
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Eu torcia fervorosamente para o Corinthians, era meu time número 1. De verdade: comemorei feito uma besta o título "mundial" de 2000. Pior: quando Javier Castrilli marcou toque de mão do zagueiro da Portuguesa na semifinal do Campeonato Paulista de 1998, briguei com meio mundo dizendo que ele estava certo. Quando o time sofreu um pequeno acidente de avião na Venezuela em 1996, eu chorei.
Não sei explicar como deixei de torcer pelo Corinthians. Deve ter acontecido gradualmente. Sei que comecei a acompanhar mais os meus times daqui: o Inter e o Brasil de Pelotas. Quando percebi, não comemorei a contratação do Tevez no final de 2004. Porque torcedor tem disso: comemora até contratação. Eu não comemorei a do Tevez, tampouco reclamei. Simplesmente foi insossa pra mim. Foi quando percebi que já não era mais corinthiano.
E, se eu já não me escabelava pelo Corinthians, já tem um ou dois anos que eu já não me escabelo por futebol em geral. Talvez seja o efeito Mazembe, não sei. Sei que essa paixão fervorosa, típica de um torcedor, passou a ser, para mim, algo bobo. Não acho execrável: só não serve para mim. Continuo colorado e xavante, mas deixei de me estressar por causa de futebol e minha calvície agradece. E o que restou de gosto por futebol em mim está indo pras cucuias com essa patacoada entre entidades jurídicas desportivas e clubes de maior ou menor expressão, essa suruba que a Portuguesa foi e, como o seu conterrâneo Manuel, passaram-lhe a mão na bunda e ele não comeu ninguém. Essa confusão sepulta o pouco que restava de credibilidade do futebol brasileiro e que a Copa do Mundo não recuperará: apenas dará aos estrangeiros a ilusão de que nosso futebol merece respeito.
Acho que é melhor eu começar a simpatizar pelo futebol do exterior. Está bem distante e eu não recebo muitas notícias diárias deles. Já ando inclusive buscando alguns clubes para gostar mais. Acho que Borussia Dortmund e Arsenal me parecem uma escolha bacana.
Já meu pai, bem, não conheço histórias dele como torcedor. Sei que ele tentou fazer com que eu torcesse pelo Pelotas (tenho fotos com uma camiseta do time - camiseta que, por sinal, deve estar guardada até hoje) e que estava em Porto Alegre no dia do bicampeonato brasileiro do Inter. Quanto ao Fluminense, eu não sei. Não sei se ele foi ao Maracanã alguma vez para ver o time em ação. Quando eu fiz isso, em 12 de outubro de 2013, o Fluminense empatou com o Grêmio em 1 a 1 e eu não lembrei do meu pai por um só instante - nem quando comemorei o gol do Rafael Sóbis aos 45 minutos do segundo tempo. Estava mais preocupado em curtir o encantamento de estar no Maracanã e xingar o Kléber Gladiador. Mas sei que meu pai era torcedor do Fluminense, talvez tanto quanto eu era torcedor do Corinthians.
Meu pai morreu há 20 anos e, hoje, eu tenho mais vergonha de dizer que ele era torcedor do Fluminense do que dizer que eu torcia feito uma mula pelo Corinthians e que hoje talvez eu torça para Borussia Dortmund e Arsenal.
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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
Time sem vergonha (I)
Eu tenho um talento inútil: sei muitos hinos de times de futebol. Inteiros ou excertos, não importa, desde "eu sou Goiás Esporte Clube, eu sou Goiás, eu sou Goiás e vou gritar", ou "Atlético! Atlético! Conhecemos teu valor! E a camisa rubro-negra só se veste por amor!", ou "e a torcida reunida até parece a do Fla-Flu, Bangu, Bangu, Bangu", até hinos inteiros como os do Inter e o do Brasil de Pelotas: eu sei hinos demais. Um dos meus preferidos é o do Fluminense. Acho que só não é o hino mais bonito do Brasil por um único defeito: o próprio Fluminense. Dentre todos os hinos, o do Fluminense é aquele que menos combina com o próprio clube. E não me refiro à parte que diz clube que orgulha o Brasil, retumbante de glórias e vitórias mil, afinal o Fluminense, dos grandes clubes brasileiros, é o que tem menos títulos internacionais - ganhar ou perder faz parte do esporte.
Sou tricolor de coração, sou do clube tantas vezes campeão... é um ótimo início, simples e direto. Mas logo a seguir ele começa a destoar: é impossível cantar fascina pela sua disciplina sem imaginar o João Kléber saltando do teto aos berros de "pára pára pára pára!"
Rebaixado pela primeira vez em 1996, o Fluminense se aproveitou de um esquema de corrupção no futebol (que veio à tona somente em 1997) para se livrar da Série B de 1997 na marra. Sem merecimento, jogou novamente a Série A em 1997 - onde, sem futebol decente, foi novamente rebaixado. Dessa vez sem esquema de arbitragem pra ajudar, o clube jogou a Série B em 1998 e, como jogou novamente sem futebol decente, foi rebaixado à Série C, que jogou em 1999 com um futebol minimamente decente, sagrando-se campeão e credenciando-se para disputar a Série B. Mas disputou o equivalente à Série A na estapafúrdia Copa João Havelange de 2000, pulando etapas como o Mario achando as flautas mágicas no Super Mario Bros 3. E agora, em 2013, apenas 1 ano depois de ter sido campeão nacional (com muita ajuda da arbitragem) e novamente sem futebol decente, o Fluminense foi novamente rebaixado. Mas pelo visto vai escapar, porque sem mais essa nem aquela, descobriram por algum acaso misterioso da vida que um outro clube usou um jogador que não podia jogar um jogo.
Ah, Fluminense, tenha dó. Quem foge das consequências da derrota é incapaz de fascinar pela disciplina.
Lá pelas tantas o hino do Fluminense diz vence o Fluminense, com o verde da esperança... esperança? Pode ser verde de dólar, de real, de euro. Verde da logomarca da Unimed. Pode ser até verde de maconha. Mas "esperança"? Tamanha covardia em assumir a própria fraqueza não está nem perto de ser sinônimo de "esperança". Pois quem espera sempre alcança. Puxa cara, devia ter lembrado disso quando ganhou a Série C. Foi mais apressado que o Ronaldo pedindo a Daniela Cicarelli em casamento.
Que tal um hino novo, Fluminense? Um que combine com o clube? "Sou tricolor de coração, sou do clube que adora tapetão" me parece um ótimo início.
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Sou tricolor de coração, sou do clube tantas vezes campeão... é um ótimo início, simples e direto. Mas logo a seguir ele começa a destoar: é impossível cantar fascina pela sua disciplina sem imaginar o João Kléber saltando do teto aos berros de "pára pára pára pára!"
Rebaixado pela primeira vez em 1996, o Fluminense se aproveitou de um esquema de corrupção no futebol (que veio à tona somente em 1997) para se livrar da Série B de 1997 na marra. Sem merecimento, jogou novamente a Série A em 1997 - onde, sem futebol decente, foi novamente rebaixado. Dessa vez sem esquema de arbitragem pra ajudar, o clube jogou a Série B em 1998 e, como jogou novamente sem futebol decente, foi rebaixado à Série C, que jogou em 1999 com um futebol minimamente decente, sagrando-se campeão e credenciando-se para disputar a Série B. Mas disputou o equivalente à Série A na estapafúrdia Copa João Havelange de 2000, pulando etapas como o Mario achando as flautas mágicas no Super Mario Bros 3. E agora, em 2013, apenas 1 ano depois de ter sido campeão nacional (com muita ajuda da arbitragem) e novamente sem futebol decente, o Fluminense foi novamente rebaixado. Mas pelo visto vai escapar, porque sem mais essa nem aquela, descobriram por algum acaso misterioso da vida que um outro clube usou um jogador que não podia jogar um jogo.
Ah, Fluminense, tenha dó. Quem foge das consequências da derrota é incapaz de fascinar pela disciplina.
Lá pelas tantas o hino do Fluminense diz vence o Fluminense, com o verde da esperança... esperança? Pode ser verde de dólar, de real, de euro. Verde da logomarca da Unimed. Pode ser até verde de maconha. Mas "esperança"? Tamanha covardia em assumir a própria fraqueza não está nem perto de ser sinônimo de "esperança". Pois quem espera sempre alcança. Puxa cara, devia ter lembrado disso quando ganhou a Série C. Foi mais apressado que o Ronaldo pedindo a Daniela Cicarelli em casamento.
Que tal um hino novo, Fluminense? Um que combine com o clube? "Sou tricolor de coração, sou do clube que adora tapetão" me parece um ótimo início.
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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Orgulho do papai
Passavam das sete da noite quando Gilmar botou a chave na fechadura para abrir a porta de casa. Chegava no horário habitual, após sair da empresa de informática onde trabalhava fazendo manutenções dos mais diversos tipos - de hardware a software. Era um nerd convicto. O horário que chegou em casa não era surpresa, tanto que ouviu uma voz infantil dizer, sem muita empolgação: "manhê, o pai chegou."
Era o filho mais velho, de 5 anos, que estava sentado no chão da sala com o irmão mais novo, de 4. Gilmar deu em cada um deles um beijo de "olá, cheguei bem, é bom ver vocês", o que interrompeu a atividade das crianças naquele momento: escolher uma brincadeira.
- Do que tu quer brincar? - perguntou o mais velho.
- De computador!
- Boa! Faz de conta que eu sou um computador da Apple que tá com problema no processador e tu é um computador da IBM que precisa fazer backup!
- Tá!
Gilmar sorriu e continuava sem entender como as pessoas achavam ruim que as crianças gastassem tanto tempo brincando de computador.
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Era o filho mais velho, de 5 anos, que estava sentado no chão da sala com o irmão mais novo, de 4. Gilmar deu em cada um deles um beijo de "olá, cheguei bem, é bom ver vocês", o que interrompeu a atividade das crianças naquele momento: escolher uma brincadeira.
- Do que tu quer brincar? - perguntou o mais velho.
- De computador!
- Boa! Faz de conta que eu sou um computador da Apple que tá com problema no processador e tu é um computador da IBM que precisa fazer backup!
- Tá!
Gilmar sorriu e continuava sem entender como as pessoas achavam ruim que as crianças gastassem tanto tempo brincando de computador.
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