segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Roxette, bicicleta e um pequeno exibido

Crianças têm uma tendência natural de cometer grandes gafes em suas vidas infantis. É como um cachorro andando em círculos antes de dormir ou um gato enchendo o saco de quem quer que seja. Essas gafes se tornam piores ainda quando uma música se liga ao momento da grande gafe, tão rápido quanto triste, que a acompanhará pelo resto da vida.

Eram os idos de sei lá eu que ano. Sei que, segundo o horóscopo chinês, era o ano do Roxette, a grande banda que ocupavam 10 em cada 3 músicas das rádios na época, oriunda da Suécia. No horóscopo chinês. Não sei vocês, mas eu acho incrível essa tal de globalização.

Naqueles tempos, cantar "Dressed For Success" era hábito internacional. Era algo que fazia parte de vários rituais, desde acasalamento até culinária francesa. Grandes chefs de cozinha cantarolavam o "ô-ô-ÔW!" sueco, enquanto fritavam 2 fatias de lesma que seriam servidas como "escargô à francesa" no restaurante mais chique da Itália. Insisto que a globalização é algo incrível.

E era uma vez um garoto chamado... Pequeno Garoto. Ele era muito feliz e adorava andar de bicicleta. Ele também cantava "ô-ô-OW!" nas horas vagas, assim como qualquer hominídeo terrestre. Essa música o marcou muito, pois era uma época que ele estava aprendendo a andar de bicicleta sem colocar as mãos no guidão. Começou devagar, é claro: entre soltar e voltar a segurar o guidão, passavam-se uns 3 centésimos de segundo. Não tardou para ele alcançar incríveis 5 centésimos e pensar "Agora vai! I believe, I can fly! I believe, I can touch the sky!" Anos depois o plagiaram descaradamente numa música para o longa "Space Jam", mas isso é outra história.

Pequeno Garoto era muito batalhador e, com muita exaustão, treino e óleo na correia da bicicleta, ele passou a andar sem colocar as mãos no guidão. Fazia curvas, subia e descia rampas, virava cambalhotas e atendia o telefone fazendo a incrível e dificílima manobra. Mais do que isso, cantava "ô-ô-OW!" andando de bicicleta sem as mãos no guidão.

Passou a ser um mestre. Causava inveja aos seus amiguinhos devido à sua incrível habilidade, afinal, jamais havia levado um tombo. O problema é que ele não sabia que "sempre tem uma primeira vez".

Corria mais uma noite no ano do Roxette. Pequeno Garoto estava acompanhado de uma amiga e da irmã. Demonstrava toda a sua habilidade com aquela bicicleta surrada. E foi então que ele resolveu demonstrar aquela que era sua maior habilidade: andar sem as mãos no guidão e cantar o hit do momento. E, lógico, se exibir pra amiga da irmã.

- Ei, olha pra mim! Sem as mãos! Ô-Ô-OOOoooOÔôooooÔÔÔôÔÔÔaaaaaaeeee...

O que se seguiu foi um barulho horrível. Tristemente, Pequeno Garoto havia perdido o equilíbrio e estava, naquele momento de câmera lenta, se esparramando lindamente no chão. Pela primeira vez em sua história ele caía ao fazer a sua maior especialidade na bicicleta. Quis o destino - oh! Traiçoeiro! - que fosse frente à sua irmã e a amiguinha mocinha.

O buléu lembrava muito aquela comemoração de gol que os jogadores fazem quando está chovendo. Eles se jogam, propositalmente, de peito no chão e escorregam pelo gramado molhado. Pequeno Garoto também havia se jogado e deslizava pela areia molhada. Mas não era propositalmente.

Hoje, sempre que ouve "Dressed For Success", Pequeno Garoto lembra do zigue-zague que a bicicleta fez para jogá-lo no chão. Lembra-se do tombo. Lembra-se das risadas.

E, principalmente, lembra-se que perdeu uma bela grana nas vídeo-cassetadas do Faustão.
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