Algumas obras televisivas me chamam muito a atenção pelo índice de surrealismo que podem alcançar. Admitamos, não há quem não admire o desenho O Fantástico Mundo de Bobby. Tanto que até hoje ele é referência número 1 em frases relativas ao nosso imaginário. Quem nunca ouviu alguém dizer "funcionou meu fantástico mundo de Bobby agora"?
Rapaz, como eu falei bonito nesse primeiro parágrafo.
Mas há uma produção que supera todas as outras no quesito surrealidade. Não pensem que vou falar em Senhor dos Anéis, Harry Potter ou a beleza da Hebe Camargo. Afinal, nem mesmo a Terra do Nunca é mais surreal que Malhação e seu fantástico mundo.
Em primeiro lugar, todos nós devemos admitir que, um dia, fomos capazes de assistir o folhetim adolescente da Globo. Foi assistindo à Malhação que eu vivi intensas paixões com gente do naipe de Susana Werner, Samara Felippo, Bárbara Borges e outras cujos nomes me escapam da memória. Infelizmente eu nunca fui correspondido, mas isso não interessa a vocês.
Atualmente, o centro do programa é um colégio de ensino médio que, a despeito dos inúmeros repetentes que lá pululam todos os anos, é bastante conceituado. O fictício Múltipla Escolha é o colégio dos nossos sonhos, e de nossos pais também. Lá os alunos podem passar o ano inteiro sem ver Matemática ou Português - o que vai depender da disponibilidade de um ator capaz de fingir (mal) que sabe lecionar a matéria. Além de estudar poucas matérias, um colégio daqueles faz com que as pessoas se sintam mais jovens. Afinal, só lá pessoas de 30 e tantos anos viram adolescentes rumo ao primeiro vestibular. E só lá os alunos são completamente abstêmios e negam até refrigerante, preferindo um saudável suco natural.
Além disso, é um colégio extremamente democrático, já que, apesar de ser privado, troca de diretor todos os anos. Isso desde a queda do Imperador Pasqualete, um ardoroso fã de waterpolo.
Como todos devem saber, waterpolo era uma maneira global-adolescente de falar "pólo aquático". O futebol é o esporte mais popular do planeta, mas isso não é por falta de esforço da Malhação. Atores que não sabiam nadar eram obrigados a bater os braços na água, carregar uma bola colorida de plástico e arremessá-la em um gol. E, lógico, quem melhor fazia isso ganhava a fama de Romário das águas no colégio. Foi a maneira que o seriado encontrou para tentar mostrar que, sim, o pólo aquático é mais popular que corrida do saco no Brasil.
Falharam miseravelmente.
Eu lembro que, quando assistia Malhação, vi eles abordarem o alcoolismo. Um personagem perdeu a guarda da filha, o emprego, virou alcoólatra, vomitou na casa da ex-mulher (que, por algum detalhe, já tava casada com outro) e se recuperou. Foi o caso de alcoolismo mais rápido do mundo, porque tudo isso durou 2 semanas. Eu queria ser alcoólatra por duas semanas.
Isso sem falar da Vagabanda. Trata-se da banda onde a Marjorie Estiano tocou seus primeiros acordes fictícios. Depois de ensaiar todos os dias sem o menor sinal de tendinite, o esforço da banda foi recompensado. Seu hit foi parar nas rádios, onde adolescentes o ouviam euforicamente. E quando eu digo "euforicamente", eu quero dizer "comemorar um gol impedido e de mão do seu time contra o maior rival na final do campeonato, aos 51 minutos do segundo tempo, quando o juiz havia assinalado apenas 2 de acréscimo".
Isso depois de fazer seu primeiro show, gratuito, em um trio elétrico alugado, talvez na esquina de casa. Os Beatles morreriam de inveja.
Se vocês acham que aborto ou parto complicado em um lugar estapafúrdio é coisa rara, assistam Malhação. Tem uns 2 ou 3 por temporada. Quem quiser manter um grande amor pro resto da sua vida deve ficar longe do seriado. Vai que alguma vilã gostosinha arme pra separar os pombinhos.
E depois o povo tem a porca capacidade de perguntar por que o Chaves faz tanto sucesso no Brasil.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
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