Diz o velho ditado: o primeiro a gente nunca esquece. Diz outro ditado: sempre há uma primeira vez pra tudo. E diz mais um velho ditado basco: irmãs são loucas.
Novembro de 1983. Era mais um ensolarado final de tarde na casa daquela feliz família, onde um bacuri havia chegado há menos de 1 mês. Pai e mãe degustavam uma cerveja preta estupidamente gelada, enquanto o bacuri recém nascido dormia gostosamente no carrinho de bebê que estava na sala, tendo seus sonhos com a então gostosinha e famosa guria de "A Lagoa Azul" interrompidos pela irmã 5 anos mais velha, que ora visitava os pais na cozinha, ora acordava o guri na sala.
Gole de cerveja vai, gole de cerveja vem, irmã vai, irmã vem, e lá pelas tantas a guria tava, literalmente, molhando o bico - que em outras querências chamam, viadamente, de chupeta. O bico molhado não tardaria a fazer efeito na guria, que ficou ainda mais elétrica. Deste modo, provavelmente o guri não conseguia sonhar com outra coisa que não fosse a própria cerveja preta. Afinal, sonhar era tudo o que ele conseguiria fazer com uma cerveja preta naquela altura da vida.
- Pai, coloca um pouco aqui na mamadeira?
Excelente idéia! Papai deve ter colocado talvez 1 ou 2 goles no recipiente infantil. Foi o suficiente. Conversa vai, conversa vem, cerveja idem, irmã idem. Com a mamadeira.
Vazia.
- Tava bom, filha?
- Ô.
Foi uma das primeiras lições na vida da guria: cerveja preta é boa. Mas se tem algo tão forte e marcante quanto as primeiras lições na vida de uma pessoa, esse algo é o instinto materno.
Filha vai. Filha vem. Molha o bico. Filha vai. Filha vem. Molha o bico, chupa o bico. Filha vai, filha vem, pede cerveja na mamadeira. Filha ganha cerveja na mamadeira, vai, 2 minutos, filha volta com a mamadeira vazia.
- Vou olhar o Júnior - pensou mamãe. Júnior era o recém nascido. 20 dias.
E mamãe se assustou. Júnior descansava com uma linda gosma preta vomitada a seu lado. Nem água ele tomava! Será que o leite materno estava adulterado? Estaria cheio de anabolizantes ou transgênicos? Que horror, que tragédia!
Mamãe levantou Júnior do carrinho. Foi o que bastou pra receber um sonoro arroto na cara, com um indefectível bafo.
- Filha, tu deu cerveja preta pra esse guri?
- Ah mãe, ele tava com sede...
E naquele fim de tarde, a justiça se fez. De forma igualitária, todos degustaram cerveja preta.
De modo que, dos ditados que eu citei no primeiro parágrafo, apenas 1 é falso. Eu não lembro do meu primeiro porre. Minha irmã me deu muita cerveja preta na oportunidade.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
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