Rapaz, o mundo da música tá balançando. Não bastasse a Ângela Bismarchi virar cantora, o Chinese Democracy, finalmente, foi lançado. Eu, que sempre falei que o Chinese Democracy seria um álbum póstumo do Axl Rose, queimei a língua.
Pra começo de conversa, chamar o Chinese Democracy de disco novo não é certo. Um negócio que passou mais de 15 anos sendo produzido e que tá pra ser lançado na semana que vem há pelo menos 10 anos não pode ser considerado exatamente "novo". Meus caros, eu escutei o Chinese Democracy. Eu venci o meu medo e escutei esse disco. Não estou me gabando disso, porque se gabar de escutar um álbum recém lançado em tempos de internet é uma coisa bem retardada. E aos que me chamam de "corajoso", meu primeiro comentário é: eu preferia continuar com o medo, em nome da minha infância.
Não quero aqui dar uma de velho saudosista, mas desde que eu sou piá meu sonho é sair de uma minúscula Igreja no meio do casamento do meu amigo, ir pro meio do deserto e, depois de tocar aquele solo, emendar a Sweet Child O' Mine. Uma pequena mistura, mas essa foi minha infância feliz.
Eu não vou disponibilizar os links aqui porque já teve cara sendo preso por isso. Parece que a acusação vai ser tráfico gratuito de entorpecentes, mas não sei bem se é verdade. Sim, é óbvio que o álbum vazou - inclusive a arte da capa. E é óbvio que eu baixei. E é óbvio que eu vou deletar. É como achar um filhote de arara azul na rua e trazer pra casa. A gente vai deixar o bicho em casa e esperar o Ibama chegar pra comer o rabo de todo mundo? É lógico que não.
A propósito, araras azuis do mundo, perdoem-me pela comparação. Não quis ofender.
Enfim, não é por medo eu vou deletar o álbum deste computador, e sim por consciência. Em um grande e esforçadamente bondoso resumo, o disco é um projeto solitário e megalomaníaco para causar inveja a meros mortais. Nós, meros mortais, não temos nem 10 reais pra gravar um álbum e sequer conseguiríamos chamar o Chimbinha pra uma participação especial. Axl Rose, por sua vez, gasta mais de 13 milhões para gravar um disco, que conta com a participação de Brian May. E simplesmente caga para essa participação, porque resolveu não colocar nada da participação do cara no disco. Imagino que o pensamento do Axl nessa hora foi "Brian não foi meu amiguinho como o Sebastian Bach, então nada feito." Sendo assim, Axl deixou Sebastian Bach dar uma ou duas tossidas no álbum todo.
Axl mostra ainda que saber cantar é um fator puramente secundário. Vez ou outra ele lembra o Axl de 20 anos atrás, mas parece que faz questão mesmo é de soar como uma gralha recém nascida e desafinada, que diz "mãe, olha só, estou cantando!", de modo que uma mãe em sã consciência responderia "cala a boca e vai estudar, guri".
As guitarras do disco são um caso à parte. Foram praticamente um "American Idol", só que de guitarra. Dois terços da população estadunidense gravaram as guitarras. Há músicas gravadas por CINCO guitarristas, coisa de fazer inveja a Slipknot. Em alguns momentos Robin Finck, Buckethead e Ron 'Bumblefoot' Thal tentam mostrar seus talentos (e o fazem muito bem), mas nesses poucos momentos eu cheguei à conclusão que Axl dialogava com um pedaço de pizza portuguesa.
- Essa guitarra tá ficando bacana.
- ...
- Pô, muito bom.
- ...
- Vou colocar uns lances eletrônicos aqui pra estragar essa porra.
Eu não vou me ater muito a comentar cada faixa, mesmo porque não quero aumentar meu trauma. Mas o fato que mais me chamou a atenção é que Street of Dreams me soou como uma tentativa de renascer a clássica Estranged. De modo que, em uma comparação aproximada, essa tentativa de resgate é o mesmo que tentar renascer Leonardo da Vinci usando o cérebro de Adolf Hitler.
E, apesar de tudo isso, esse disco foi lançado. O que acabou com parte da minha infância - talvez por erro meu, porque eu não consegui ouvir o disco sem pensar que aquele cara era frontman da primeira banda que ocupou este coraçãozinho róquenrôu que vos escreve.
Ou seja, ele é Axl Rose e nós somos um bando de cagados. E agora eu vejo que é bastante lógico ele ter demorado pra lançar esse disco. Eu também sentiria vergonha e insegurança de lançar um negócio desses.
Pra quem não é o Axl Rose, mas mesmo assim é um rockstar em decadência, esse álbum é uma boa dica. Dica de "disco que eu não devo lançar se quiser recuperar ao menos dois quinhentonésimos do prestígio que eu tinha".
Ou mesmo dica de "disco que eu preciso gravar e mostrar pra Ângela Bismarchi se ela quiser fazer um dueto comigo".
terça-feira, 25 de novembro de 2008
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