Já cansei de dizer que eu nunca fui um sujeito muito ligado em moda, em termos gerais. E quando o assunto é roupas torno-me capaz de entrar como franco favorito em uma competição de "Sujeito mais esdrúxulo e mais pateticamente desinformado". Tá aí um textinho antigo que ilustra melhor o meu desconhecimento.
Acontece que tamanha desinformação sobre um assunto aparentemente tão fútil pode me trazer sérios problemas. Percebi isso há poucos dias, depois de acordar meio zonzo por causa da cerveja e pensar "um refrigerante de cola não-alcoólico bem gelado deve curar essa tonteira".
É lógico, essas não foram as palavras que eu emiti em pensamento. Mas não vou aqui fazer propaganda gratuita para uma multinacional das bebidas. Posso causar um desequilíbrio no comércio mundial e esse negócio de "monopólio capitalista" pode respingar em mim - em forma de gotas de refrigerante de cola não-alcoólico.
A ideia de um refrigerante colossalmente gelado impregnou meu cérebro. Estando a minha geladeira desprovida de refrigerante, eu deveria ir ao bar mais próximo, ali na outra quadra, para saciar o meu desejo. Zonzo como estava, neguei-me a colocar uma roupa um pouco mais elaborada para cumprir a tarefa. Assim, fiquei receoso: nos trajes que eu estava, era bem capaz de algum vizinho me denunciar e eu ser preso como o indigente mais indigente da face da Terra. Uma calça de abrigo fuleira, meias razoavelmente brancas, alpargatas e uma camiseta de manga longa que, pelo cheiro, denunciava que eu ainda não havia me recuperado da longa noite passada.
Tentei remediar a situação penteando levemente o que está restando do meu cabelo, e posteriormente prendendo-o. Isto feito, inflei os pulmões e aspirei um ar aventureiro. Meu espírito encheu-se de coragem: eu ia enfrentar a possibilidade de ser preso como indigente em troca de uma garrafa de refrigerante.
Saí porta afora em busca do precioso artigo líquido, torcendo para que ninguém me denunciasse e pronto para lutar bravamente contra as forças das risadas malignas que eu certamente seria alvo. No bar, as 3 ou 4 pessoas pareceram não dar muita importância, mas tenho certeza que, tão logo saí dali, eu e minha relapsa vestimenta tornamo-nos o centro da conversa, pautada por piadinhas e caras de nojo.
"Azar o deles", pensei eu. Minha tarefa, agora, resumia-se a voltar ao aconchego do lar. A preocupação em ser preso rondava o ar, e naquele instante qualquer cachorro que passasse era um agente policial à paisana, espreitando-me e pronto para me denunciar às autoridades maiores.
E em meio à minha preocupação em não ser preso, surge na rua uma loira belíssima, que não caminhava, mas deslizava, exalando um suave aroma de pétalas de rosas pelo ar. A moça lançou um mísero olhar de revesgueio para o cosplay de mendigo que carregava uma garrafa de refrigerante, que por sua vez estava boquiaberto, estupefato e achando que era melhor estar pelado na rua do que com aquelas vestes. Sem demonstrar grande interesse - nem para o bem e nem para o mal -, a loira seguiu seu rumo, deixando cair algumas purpurinas e pétalas de margarida pelo caminho.
E eu ali, temendo a prisão, quando deveria temer a extinção da minha própria espécie pelo meu estilo mulambento de me vestir.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
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