sábado, 13 de junho de 2009

Nome feio

Ter um nome feio é um negócio especial. Cada sala de aula, por exemplo, pode ter 3 Felipes e 4 Rodrigos, e eles serão reconhecidos por nome e sobrenome. Alguém com um nome incomum e feio, não. Não é todo mundo que pode se gabar de ter a necessidade irrefutável de repetir o próprio nome quinze vezes em resposta à pergunta "qual seu nome?" - e terminar mostrando um documento que explique visualmente o que a gente não conseguiu explicar verbalmente.

Apesar de eu ter falado bonito, muita gente vai ler esse primeiro parágrafo, compará-lo com o título do post e pensar "pombas, achei que o texto seria sobre palavrões. E seria bem melhor que fosse sobre palavrões mesmo, afinal que moral o Egídio tem pra apontar o dedo pra alguém e dizer que o nome desse alguém é feio?".

De fato, ter "Egídio" como nome não é exatamente uma graça de Deus. Mas é justamente por isso que eu tenho capacidade pra falar. É como se eu tivesse especialização em nomes escrotos - só que, ao invés de passar por uma faculdade, eu simplesmente nasci com essa sapiência, essa autoridade. Eu tenho moral para falar de nomes escrotos porque convivo diariamente neste submundo. Eu praticamente sinto o cheiro de um nome fedorento quando ouço um.

No meu caso, nome escroto é basicamente uma tradição familiar. Eu sou o terceiro Egídio da minha árvore genealógica e o segundo em seqüência - o que me adiciona um "Júnior" ao final do meu nome completo - todo mundo ri disso, mas eu acho sensacional ter um "Júnior" acrescido ao meu nome. Acho... salvador.

Mas então. Certa feita estava eu no supermercado com minha mãe, quando uma voz feminina sensualíssima anunciou no alto-falante:

- Egídio Pizarro, favor comparecer à secretaria.

(Antes de continuar, eu sugiro que vocês, leitores, pensem com muito carinho sobre piadas com relação ao meu nome. "Egípcio Bizarro Cigarro Pigarro Pisado" não é nem um pouco criativo. Pelo menos metade do colégio onde eu estudava chegou na frente de vocês e gastou a maioria dessas piadas.)

"Pronto", pensei. "Descobriram que eu roubei um Fandangos sabor queijo e a dona da voz sensual quer que eu divida o salgadinho com ela na cama". Sabem o que é pior? Eu sequer havia cogitado roubar um Fandangos sabor queijo. Não havia surrupiado nada do supermercado. Até porque eu prefiro Fandangos sabor presunto. Mais: eu não me deixo seduzir unicamente por uma voz. Vai que ela tenha a voz bonita, mas seja uma cópia feminina do Michael Jackson cheio de plásticas depois da guerra?

E sabem o que é mais pior de ruim ainda? Minha mãe, uma das principais responsáveis pelo meu nome, percebeu o cagaço que levei e ria como se não houvesse amanhã. Como se pensasse "hehe, zoei". Depois de parar de rir, ela me explicou que "Egídio" é uma tradição familiar que não pertence apenas à minha ascendência. Logo, eu não era o único. Havia um outro Egídio Pizarro em outras partes da família, e pelo visto o desgraçado trabalhava no tal supermercado.

A história não acaba aqui. Dia desses estava eu no ex-CEFET gaúcho, atual IFSul. Para entrar lá como visitante e futuro estagiário, como é o caso deste nanico que vos escreve, é necessário ter um cadastro doido - que eu já tinha feito.

- Nome?
- Egídio.
- Do quê?

Em outros tempos, essa seria uma pergunta burra em 100% dos casos. Se eu desse 1 centavo a cada Egídio que encontrassem no mesmo recinto que eu, não daria centavos a ninguém. A não ser no supermercado.

- Egídio, ué. Egídio Pizarro.
- Egídio Delli Pizarro?

Ora, mas que porra de Delli é essa?

- Não, Egídio Pizarro.
- Então. Egídio Delli Pizarro.
- Delli? Que Delli?

Vou contar um negócio sério: eu juro pra vocês que imaginei que o porteiro fosse um viado e estava prestes a me passar uma cantada despudoradamente mais escrota que meu nome. "Delli, de Dellicioso, tou sozinho em casa, benhê".

Felizmente isso não aconteceu. O rapaz fez mais uma pesquisa no banco de dados e mandou:

- Egídio Júnior?
- Isso. Onde tá o Delli?
- É outro Egídio Pizarro que tem por aqui. - e me entregou o crachá.

Se isso não for a definição de "mundo pequeno", eu não sei o que mais pode ser. Nunca imaginei ter motivos para ser alguém admirado, seguido e idolatrado por algum fanático que resolveu se auto-batizar com o meu nome (ou pior, batizar um filho com meu nome), então pergunto: onde diabos anda a criatividade humana para dar nome aos seus filhos?
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