Uma dívida de mais de 2 bilhões de reais. Um esclerosamento visível da Lua a olho nu. Uma peruca descoberta em rede nacional por uma criança de 5 anos, que posteriormente foi bastante avacalhada pelo dono da peruca. É inegável: Silvio Santos já viveu dias melhores.
E põe melhores nisso. Silvio era largamente respeitado, tanto que os mais saudosistas acham, até hoje, que ele devia ser presidente do Brasil. Talvez a nova geração nem desconfie disso, mas Silvio Santos na presidência nacional foi algo bastante plausível. Como se sabe, o projeto presidencial não foi adiante, mas é fato: o Homem do Baú ensaiou uma candidatura em 1989.
Se houve Lula, o sindicalista do ABC paulista, porque não haveria Silvio Santos, o camelô carioca com muito orgulho? Pois bem: e se Silvio Santos fosse presidente do país?
Não é difícil de imaginar. Toda eleição, depois de encerrada, é seguida de uma expectativa nacional em torno dos nomes dos ministros que formarão o escrete governista do eleito. Com Silvio Santos não seria diferente. A imprensa toda estaria atrás dele, que seria evasivo:
- Quem é que eu vou chamaaaaaaar, quem é que eu vou chamaaaaaaaar?
Se a cena ocorresse nas eleições de 1989, Zélia Cardoso de Mello estaria pulando enlouquecida na plateia do auditório, entoando cânticos de "chama eu, Silvio! Chama eu!" Assim como o PMDB. Por sua indicação, Ratinho acumularia o Ministério da Defesa e o Ministério da Previdência Social e Maísa assumiria a Casa Civil - ninguém protestaria, pois todos acham fofo uma criança demonstrar tamanha maturidade. O mistério ficaria para o Ministério da Cultura: Liminha ou Carlos Alberto de Nóbrega?
Brasileiros pagariam seus impostos com o Carnê do Baú, enquanto nossa dívida externa seria paga em barras de ouro, que valem mais que dinheiro. No setor da saúde, o Brasil teria um revolucionário sistema de distribuição de remédios: bastaria adquirirmos produtos Jequiti, com alguma revendedora. E se Lula fez o maior alarde com o Fome Zero, Silvio Santos faria um alarde ainda maior com o seu grande projeto social, o Teleton, que ficaria a encargo de Hebe Camargo. Depois de alguns anos, Hebe balançaria no cargo, graças ao Escândalo dos Selinhos.
O Brasil não estaria livre da corrupção, mas ela certamente seria menor. Isso graças ao inovador sistema de inteligência e espionagem, desenvolvido pelo CC Ivo Holanda. A cada prisão efetuada, a cada quadrilha desbaratada, a cada crime solucionado, uma manifestação pública do nosso amado Chefe de Estado: "bem bolada, bem bolada!". Tudo graças às operações Câmera Escondida.
O grande problema de Silvio Santos seria a maciça oposição: Collor, Lula, Globo, Band, Record, Manchete e Rede TV!. A Globo, aliás, defenderia arduamente a privatização do SBT, canal estatal onde o presidente do país é o manda-chuva. A Record rezaria para dar certo, enquanto a Manchete e a Rede TV!, bem, talvez chamassem o Jaspion. A Band se mudaria para a Argentina.
Isso porque ser dono de uma rede de televisão renderia comparações com Silvio Berlusconi e Hugo Chávez. As aparições públicas seriam largamente exploradas pelo SBT, porque o presidente não largaria o hábito de jogar aviõezinhos para o auditório, perguntando "quem quer dinheirooooooooo?" de forma entusiástica. Tal atitude renderia comentários negativos da oposição. Collor diria que "é um populismo barato e desenfreado", enquanto Lula afirmaria que "é uma atitude hipócrita da burguesia" ("hipócrita é o AeroLula!", responderia o Homem do Baú). O fato é que toda a população pensaria: "pago imposto demais, mas pelo menos o dinheiro volta pra gente".
Notícias sobre o presidente seriam narradas no canal oficial do governo pelo Lombardi. A morte dele, aliás, causaria a mesma tristeza e luto que causou quando ocorreu de verdade. Mas com Silvio Santos na presidência, esse luto seria oficial e de três dias.
De hora em hora, o SBT informaria o resultado parcial da Tele-Sena - a mais badalada loteria do país. A Mega-Sena seria uma mísera rifa - com o título de "Ação entre amigos" - perto da Tele-Sena. Pronunciamentos e anúncios oficiais, só no canal do presidente - e seriam os mais legais, via Porta da Esperança.
- Será que vem aumento de salário mínimoooo? Vamos abrir as portas da esperança!
Com o tempo, Silvio Santos ficaria esclerosado, abrindo espaço para a oposição armar vários golpes de estado. Nos braços do povo, o presidente apelaria para permanecer no poder:
- Segura o velhooooooo!
Mas a oposição alcançaria seu objetivo. E Silvio Santos deixaria o poder sem perder o bom humor:
- Me derrubaraaaaaam, não é possíveeeeel! Nunca mais eu faço isso.
É como diria o slogan do governo: o Brasil cresceria em ritmo de festa que balança o coração.
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"Egídio, não entendi esse final do texto!" Então te atualiza, vivente:
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
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