quinta-feira, 30 de maio de 2013

Atitude

Atitude. Precisava tomar uma. Sempre soube disso e agora estava escancarado em si mesmo, como um tiro de espingarda estuprando-lhe o coração. E olha que nem era surpresa: sempre soube que a Bruna e o Caio estavam juntos, "aquele filhodaputa do Caio", ele dizia, "ele não é filhodaputa, ele é legal", diziam-lhe, "tá, ele pode ser legal, pode não ser filhodaputa, mas está filhodaputa", retrucava. Ele admitia a possibilidade do Caio ser legal porque com ele nunca trocara mais que um "oi" educado. Não o conhecia. Já a Bruna ele conhecia um pouco mais - bem pouco: com ela trocava "oi", beijinho, abracinho, sorrisos, beijinho, abracinho, "tchau". O suficiente.

Não conhecia o Caio. Admitia que ele podia ser legal, admitia que ele podia não ser um filhodaputa, mas estava filhodaputa, porque o Caio ocupava na vida da Bruna um posto devia ser de outro: devia ser dele. E agora o Caio noticiava isso para o mundo - e para ele também. A Bruna era do Caio, o Caio, da Bruna. Estava ali, na tela do computador, a manchete que o Facebook estampava: "Bruna Gomes adicionou um evento cotidiano de 5 de maio de 2013 à linha do tempo dela: 'Em um relacionamento sério com Caio Rodrigues'".

A Bruna, justo a Bruna, com esse filhodaputa. Devastador. Isso não podia acontecer, não podia ficar assim. Precisava tomar uma atitude. E tomou.

Clicou em "Denunciar história ou spam".

.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Uma vez Lara Croft, eternamente Lara Croft

O dia de ontem, 14 de maio de 2013, foi marcante na história da humanidade - talvez tanto quanto aquele dia lá que dois aviões derrubaram uns tais prédios grandões nos Estados Unidos. E é marcante nem tanto pela polêmica ausência de Ronaldinho na convocação que Felipão fez para a Copa das Confederações, mas pela corajosa decisão de Angelina Jolie: ela resolveu extrair os próprios seios para evitar que desenvolvesse câncer de mama.

Quem nunca viu, não vê mais

Dá até pra pensar que enquanto 10 em cada 10 jornalistas especializados vociferavam contra a ausência de Ronaldinho Gaúcho na Seleção, o protesto mais impressionante foi o da Angelina Jolie, que provavelmente deve ter pensado "já que ele não vai jogar, não vou precisar disso aqui". Mas não: o caso é que, após uma análise genética, ela descobriu que tem 87% mais chances de desenvolver câncer de mama (além de 50% mais chances de desenvolver câncer de ovário).

Como atriz hollywoodiana que é, ela poderia confiar nos 13% e, se fosse o caso, extirpar um pedaço de teta caso um câncer aparecesse para, posteriormente, ser capa de revistas no mundo inteiro como "o símbolo sexual que venceu o câncer" - o que seria incrível, por sinal. Mas ela foi além: agora ela é assunto mundial por ser o símbolo sexual que prioriza a própria saúde, deixando a própria imagem em segundo plano.

Vejam bem: ser ator ou atriz de Hollywood significa, segundo dados do IECA (Instituto Egídio de Chutômetro e Achismo), ter no mínimo 50% de seus vencimentos adquiridos através da própria imagem. Isso significa ter corpão, rosto bonito e enfim, tudo aquilo que eu não tenho. Eis que uma das mais bem sucedidas atrizes hollywoodianas de todos os tempos e símbolo sexual de igual magnitude resolveu abrir mão de um dos maiores símbolos de feminilidade (não, salto alto e batom não estão na lista) em prol da própria saúde. Angelina Jolie, que depende da própria imagem pra ganhar o que ganha, abriu mão dos próprios seios.

E mais que símbolo de feminilidade, os seios são importantíssimos na autoconfiança da pessoa. Não é à toa que mulheres que vencem um câncer de mama sentem-se intimidadas, diminuídas, envergonhadas do próprio corpo. Não é incomum que achem que seus parceiros jamais voltarão a sentir atração física por elas: sentem-se mutiladas.

Em alto e bom tom, um dos maiores símbolos sexuais do mundo disse: "não quero meus seios, prefiro minha saúde". "Dane-se minha imagem, prefiro que minha família não sofra o que eu sofri por ver minha mãe lutar 10 anos contra um câncer". "Numa observação pessoal, eu não me sinto menos mulher. Sinto-me fortalecida por ter feito uma escolha corajosa que de nenhuma maneira diminui a minha feminilidade." Esse último período entre aspas ela disse mesmo, no artigo que escreveu ao The New York Times.

É evidente que minha comparação dessa data com o 11 de setembro, lá no início do texto, não tem lá muito sentido. Mas o fato é que é, sim, uma data marcante na história da humanidade. Em tempos que uma tal funkeira quer chamar a atenção colocando tudo o que puder de silicone e exibindo o corpo por aí; em tempos que uma fulana quer capitalizar o máximo possível por ser vice - vice! - Miss Bumbum; em tempos que uma beltrana quer que todos olhem como ela fez um sem-número de plásticas pra ficar bonita; em tempos, enfim, que tantas mulheres querem que a mídia exalte suas belezas - duvidosas -, um dos maiores símbolos sexuais da história expõe, pra quem quiser ver e da maneira mais soberba possível, que prefere a alegria dos filhos, o carinho do marido, a tranquilidade de uma boa saúde... enfim, expõe que a beleza que mais lhe importa é a da vida.

Ao tirar os seios, Angelina Jolie prova que pode tirar até as próprias pernas que vai continuar sendo mais atraente que uma Geisy Arruda da vida.

.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Desafio dos sonhos

Sinto-me à vontade para lançar um desafio a quem quer que esteja lendo estas linhas: eu duvido que alguém tenha sonhos mais bisonhos que os meus. Antes que alguém aceite o desafio, devo alertar que sou um expert com PhD na escola da vida na arte de sonhar. Eu tenho um arquivo onde anoto alguns sonhos (os que eu lembro, na verdade) e vou mostrar algumas das anotações pra deixar todo mundo com medo de aceitar meu desafio:

03/10/2009 - Sonhei que tinham me cravado um garfo no alto da cabeça e eu não percebi. Quando percebi, fui no médico e o garfo simplesmente caiu.
05/01/2010 - Sonhei que o Sylvester Stallone anunciava o lançamento de "Rambo 13" para o ano 3013.
01/12/2012 - Essa noite sonhei com 2 filhotes de porco atacando as meias que eu estava usando porque eu tinha zoado eles.

Não quero me gabar, mas eu realmente sou um expert na arte de sonhar. Tanto que sugiro também a leitura de dois posts, este e este. E contei que outro dia sonhei que a Suzane Von Richtofen era um espírito aprisionado em espelhos do apartamento de uma colega minha de 17 anos? Foi assustador. A Suzane Von Richtofen tocava um terror tão grande quanto o que tocou na casa dela certa noite, acompanhada do namorado e do cunhado.

Eu juro que sonhei tudo isso. Não obstante, outro dia sonhei com o Kid Bengala.

Não se deixe levar por esse sorriso de velho simpático. O Freddy Krueger tem medo de sonhar com esse cara.

Pra quem não sabe quem é o Kid Bengala, as dicas estão na cor da pele e no apelido que ele carrega. Se isso ainda não é o suficiente pra entender, eu digo: o cara é ator pornô. E se isso ainda não basta para entender, deixa assim. Confia em mim: não há necessidade de procurar imagens dele no Google.

Pois bem, sonhei com ele. Foi menos traumatizante do que se pode pensar, mas não menos atemorizante. Sucedeu que o cara, acompanhado de duas morenas eróticas, apitou a campainha da minha casa. Eu tomei um susto grande, porque tinha esquecido completamente que tinha dado o meu consentimento de ceder minha humilde residência para a gravação pornô que o Kid Bengala e as duas morenas tinham que fazer naquele dia. E agora, o que eu ia dizer à minha família, que estava prestes a chegar?

E chegaram no momento que as moças estavam no banheiro trocando de roupa (item violentamente indispensável em um filme pornô) e se maquiando, enquanto Kid Bengala aguardava, paciente, na cozinha. Sabe-se lá como minha mãe nada percebera, mas eu ainda carregava o medo, porque era questão de tempo até ela perceber e me dar uma mijada sem precedentes na história. Minha irmã, por sua vez, percebeu e me lançou apenas um olhar de revesgueio, em um leve tom de reprovação.

Lamento informar que ela não fez o que todos estão pensando: enquanto ela e eu lavávamos as mãos no banheiro (as distintas atrizes já tinham ido para a sala, a fim de se prepararem para as cenas - como eu não sei; talvez estivessem fazendo um alongamento adequado), tornamo-nos cúmplices daquela situação, já que a mãe - ainda - desconhecia tudo. Porque lavávamos as mãos é um mistério que só será dissolvido depois que descobrirem a verdadeira identidade de Jack The Ripper, mas foi nesse momento que trocamos algumas palavras em um sussurro inaudível, daqueles que só são decifrados através da leitura labial:

- Sabe quem é esse cara que tá aí? - e eu sinalizava com a cabeça (de cima) a cozinha, onde o Kid Bengala estava fumando, aguardando suas nobres colegas ficarem prontas.
- Sei - sussurrou minha irmã, sem voz - a mãe dele fumava maconha comigo.

Pronto. Eu era detentor de um terrível segredo familiar do Kid Bengala: sua mãe era uma porra louca que, na infância, fumava maconha com a minha irmã. E o pior é que o desgraçado estava fumando um cigarro - convencional - fedorentíssimo na minha cozinha.

- Ei Kid - disse eu pra ele -, olha só, desculpa te pedir, mas tem como tu fumar lá no pátio? É que o cheiro, sabe como é, aqui complica, amigo. - É evidente que eu chamei o cara de amigo e estava tratando ele cheio de receio. Se ele come o cu de amigas dele, eu não quero saber o que ele faz com seus inimigos.

Foi aí que, por um milagre angelical, eu acordei. Se eles gravaram a cena em algum universo paralelo, eu desconheço.

E aí? Quem topa o desafio de ter sonhos mais bisonhos que os meus?

.